As risadas ecoavam pelo salão principal, misturadas ao tilintar das taças de cristal. Vanessa era o centro das atenções, deslumbrante em um vestido vermelho, exibindo um sorriso radiante enquanto circulava entre os convidados. Lucas estava ao seu lado, mas sua expressão era distante, quase ausente, como se estivesse ali apenas em corpo.
Laura, depois de colocar as crianças para dormir deixou sua curiosidade falar mais alto e escondida atrás da porta semiaberta do corredor, observava tudo com o coração pesado. A cena à sua frente parecia um teatro bem ensaiado, uma peça em que ela não tinha lugar, mas cujas consequências a afetavam profundamente.
Ela mordeu o lábio, reprimindo as lágrimas, enquanto Vanessa levantava a taça e fazia um brinde.
— A uma nova fase em nossas vidas! — Vanessa proclamou, sorrindo triunfante para os convidados. — E, claro, ao homem que eu amo, Lucas!
O salão explodiu em aplausos, mas Laura sentia cada palmas como um golpe.
Mais cedo naquela noite, Vanessa fez sua jogada de mestre. Cercada pelos amigos de Lucas, ela o colocou em uma posição impossível.
— Lucas, você quer se casar comigo?
Todos os olhos estavam nele. O peso das expectativas e do silêncio parecia sufocante. Ele sabia que qualquer resposta negativa arruinaria a noite, talvez até sua reputação perante seus amigos e sócios.
Com um suspiro discreto, ele assentiu.
— Sim, Vanessa.
A palavra mal saiu de sua boca, mas foi o suficiente para que Vanessa pulasse de alegria, colocando o anel no dedo dele como se fosse uma vitória anunciada.
Laura, que assistiu tudo escondida atrás da porta, sentiu como se o chão sob seus pés tivesse desabado. Com o coração pesado deixou que lágrimas rolassem pelo seu rosto.
Durante a festa, Vanessa parecia brilhar. Ela agradecia os cumprimentos, segurava firmemente o braço de Lucas e fazia questão de repetir a todos:
— Finalmente, nós teremos a família que sempre sonhamos!
Enquanto isso, Lucas permanecia no papel, mas sua mente vagava. Ele se pegava olhando para o corredor onde sabia que Laura estava. Seu coração estava em um lugar que ele não podia alcançar.
Laura não conseguia mais assistir. Ela voltou para o quarto, fechando a porta com força e se apoiando nela, lutando contra as lágrimas.
Mais tarde naquela noite, enquanto a festa ainda estava em andamento, Laura ouviu uma batida suave na porta. Ao abri-la, encontrou Lucas parado ali, sua expressão carregada de culpa.
— Laura, podemos conversar?
Ela cruzou os braços, tentando manter a compostura.
— Sobre o quê, Sr.? Sobre como você aceitou se casar com Vanessa na frente de todos? Não há muito o que dizer, não é? E também isso não é da minha conta, não sei porque eu falei sobre isso.
Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos de nervoso.
— Eu não tinha escolha.
— Sempre há uma escolha, Sr. Você só escolheu o que era mais conveniente.
— Não é isso, Laura. Você sabe que não é.
Ela desviou o olhar, tentando evitar que ele visse as lágrimas em seus olhos.
— Não importa mais. Eu já sabia qual era o meu lugar aqui, e essa noite só confirmou isso.
Lucas deu um passo à frente, mas Laura levantou a mão, impedindo-o.
— Por favor, Sr. Eu não posso continuar assim.
— Pare de me chamar de senhor Laura!
Antes que Laura pudesse responder, passos ecoaram no corredor. Vanessa apareceu, seu sorriso se transformando em uma expressão de suspeita ao ver os dois juntos.
— O que está acontecendo aqui?
Laura rapidamente inventou uma desculpa.
— Eu estava apenas avisando ao senhor Lucas que as crianças já estão dormindo. Com licença.
Ela passou por Vanessa e desceu as escadas, sentindo o olhar dela queimando em suas costas.
— Vamos voltar para festa meu amor!
No salão, Vanessa retomou seu papel, mas sua mente estava focada em algo mais. Ao voltar para a festa, ela encontrou uma desculpa para se afastar e ligou para sua assistente pessoal.
— Quero que você descubra tudo sobre essa garota, Laura. Quem é ela, de onde veio e por que Lucas parece tão interessado nela. Não quero surpresas.
Na sacada do segundo andar, Vanessa segurava uma taça de champanhe e sorria vitoriosa. A brisa da noite fazia o vestido vermelho esvoaçar levemente, mas seu olhar permanecia fixo nos convidados espalhados pelo jardim iluminado. Ao seu lado, Gabriela, sua amiga mais próxima, parecia compartilhar do entusiasmo.
— Você conseguiu mesmo, Vanessa. — Gabriela disse, inclinando-se sobre o parapeito. — A reação de Lucas foi meio morna, mas ele aceitou na frente de todo mundo. Isso é o que importa.
Vanessa soltou uma risada baixa, satisfeita.
— É claro que ele aceitou. Lucas é prático demais para causar uma cena. Agora ele está preso, Gabi. Não há como recuar.
Gabriela ergueu a taça em um brinde discreto.
— Agora é só questão de tempo até o casamento. E depois disso... bom, o mundo é seu.
Vanessa deu um gole no champanhe, seus olhos se estreitando.
— Sim, mas ainda há um obstáculo no meu caminho.
Gabriela arqueou as sobrancelhas.
— Laura?
Vanessa assentiu, seu tom carregado de desdém.
— Ela é uma distração que Lucas não deveria ter. Ele olha para ela como se fosse... especial. Isso precisa acabar.
Gabriela riu, apoiando-se na sacada.
— Especial? Ah, por favor, Vane. Ela é só a babá. Uma garota perdida que encontrou abrigo aqui. Você não acha que está exagerando?
— Exagerando? — Vanessa respondeu, virando-se para encarar a amiga. — Eu vi o jeito como ele olha para ela. E, pior, ela também sente algo por ele. Isso não vai acabar bem para mim se eu não agir agora.
— E qual é o plano? — Gabriela perguntou, cruzando os braços.
Vanessa deu um sorriso frio.
— Primeiro, eu faço com que ela se sinta tão desconfortável que peça para sair por conta própria. Se isso não funcionar, posso providenciar um... empurrãozinho.
Gabriela franziu o cenho.
— Empurrãozinho?
— Nada que envolva violência, claro. — Vanessa rebateu com um tom quase inocente. — Mas tenho contatos. Pessoas que podem encontrar algo do passado dela, algum escândalo ou dívida. Qualquer coisa que a faça desaparecer da vida de Lucas e das crianças.
Gabriela ficou em silêncio por um momento, depois deu de ombros.
— Você sabe o que está fazendo. Só tome cuidado para não passar do ponto. Essas coisas têm um jeito de sair do controle.
Vanessa virou-se novamente para o jardim, onde Lucas estava cercado por convidados.
— Eu nunca perco o controle, Gabi. Nunca.
Enquanto isso, a festa seguia animada. Lucas fazia o possível para interagir com os convidados, mas sua mente estava longe. Ele pensava no olhar de Laura mais cedo, no brilho de dor em seus olhos.
No canto do salão, um pequeno grupo de crianças, brincava sob a supervisão de uma das empregadas. A ausência de Laura era palpável para ele, ainda que ninguém mais parecesse notar.
Lucas pegou uma taça de vinho e foi até um dos cantos mais isolados do salão. Vanessa percebeu o movimento e desceu rapidamente para se juntar a ele, sorrindo amplamente.
— O que você está fazendo aqui sozinho, meu amor? — ela perguntou, segurando o braço dele.
Lucas suspirou, fingindo um sorriso.
— Só precisava de um minuto. A festa está... intensa.
Vanessa riu, puxando-o para mais perto.
— É para celebrar, Lucas! Estamos noivos e gravidos agora. Temos tanto para planejar.
Ele assentiu distraído, seu olhar vagando para o jardim.
No andar de cima, Laura se sentava na beirada da cama, segurando uma foto antiga de sua mãe e de seu irmão. A dor de estar ali, testemunhando o noivado de Lucas e Vanessa, estava sendo mais difícil do que ela imaginava.
— Eu não posso continuar aqui. — murmurou para si mesma.
Mas, ao pensar nas crianças, seu coração se apertava. Ela sabia que eles precisavam dela, especialmente naquele momento. Eles estavam vulneráveis, ainda lidando com a perda da mãe.
"Eu devo isso a eles," pensou, respirando fundo para conter as lágrimas. E ainda tenho uma grande dívida a ser paga.
Na sacada novamente, Vanessa olhava com orgulho e viu Lucas saindo discretamente para o jardim. Seu olhar o seguiu, mas não antes de perceber algo na janela de Laura.
Ela viu uma sombra se mover e soube que Laura estava acordada, provavelmente assistindo tudo.
— Já vai tarde, querida. — murmurou para si mesma, virando-se para Gabriela. — Amanhã, começo a me livrar dela de vez.
A noite estava longe de terminar, mas a guerra que Vanessa estava disposta a travar acabava de começar.
A noite estava mais silenciosa do que Laura esperava quando saiu discretamente de seu quarto. Com passos leves, ela cruzou o corredor, ainda pensando na cena do noivado de Lucas e Vanessa. Cada detalhe parecia gravado em sua memória: o sorriso calculado de Vanessa, o olhar evasivo de Lucas.Ela precisava de ar, precisava organizar os pensamentos.— Laura?A voz a fez congelar no lugar. Virando-se devagar, ela viu Lucas parado na entrada do corredor. Ele tinha os braços cruzados, a expressão carregada de algo entre cansaço e frustração.— O que está fazendo acordada a essa hora? — ele perguntou, dando um passo à frente.Laura hesitou, mas decidiu manter a compostura.— Não consegui dormir. Eu... precisava pensar.Lucas suspirou e encostou-se à parede, parecendo tão perdido quanto ela.— Parece que ambos estamos no mesmo barco.O silêncio pairou entre eles por um momento, até que Laura o quebrou com uma pergunta que estava queimando em sua mente.— Você está feliz, Sr.?Ele a olhou dire
Vanessa olhou para o relógio com impaciência. Passava das nove da noite, e sua amiga, Gabriela, finalmente havia chegado. Assim que a porta se fechou, Vanessa a conduziu para o escritório, certificando-se de que ninguém mais estava por perto.— E então, você pensou em algo? — Vanessa perguntou, cruzando os braços.Gabriela ajeitou a bolsa no ombro, sentando-se na poltrona como se estivesse completamente à vontade.— Pensei, sim. Lucas é um pai preocupado, certo? Se algo acontecesse com uma das crianças, algo que parecesse grave, ele seria obrigado a aceitar que elas precisam de mais segurança.— Continue... — Vanessa disse, inclinando-se para frente, os olhos brilhando com expectativa.— Você precisa criar uma situação onde pareça que a Laura foi irresponsável. Alguma coisa que coloque as crianças em risco, mas que não cause danos reais. Algo que faça Lucas perceber que ele não pode confiar totalmente nela.Vanessa franziu a testa, refletindo sobre as palavras da amiga.— Um acidente,
Laura estava em pé na entrada de sua casa, a lua brilhava no céu. O motorista da mansão buzinou suavemente para avisar que estava esperando. Ela olhou para sua mãe, que estava sentada em uma poltrona confortável na sala, e depois para seu irmão Davi, que vinha trazendo sua bolsa.— Você não precisa ir, Laura — Davi insistiu, segurando a bolsa com firmeza. — Mamãe e eu ficaremos bem.— Eu sei que ficarão, mas preciso voltar. — Laura deu um sorriso triste. — O trabalho é importante, Davi. Você sabe como as coisas estão difíceis.Lídia, mesmo com a voz fraca, tentou intervir:— Filha, só quero que você cuide de si mesma. Parece que esse emprego te exige mais do que devia.Laura se abaixou para abraçar a mãe, sentindo o cheiro familiar de lavanda em seus cabelos.— Vai ficar tudo bem, mamãe. Prometo.Com um último abraço em Davi, ela saiu e entrou no carro, olhando para a casa pelo retrovisor até que sumisse de vista.Enquanto isso Vanessa estava no escritório, com um sorriso maquiavélico
Laura caminhava pelo corredor, segurando o casaco que Shophia havia deixado no sofá. Seu coração estava pesado desde que Lucas voltara de viagem, e as palavras dele ecoavam em sua mente."Laura, você tem certeza de que nada aconteceu fora do comum enquanto eu estava fora?"Ela sabia que Lucas estava tentando juntar as peças, mas Vanessa era habilidosa em plantar dúvidas. Era uma batalha silenciosa, e Laura sentia que estava ficando sem forças.Ao virar no corredor, ela ouviu vozes abafadas vindo do escritório. Parou por um momento, reconhecendo a voz de Vanessa.— Ele está começando a desconfiar de mim, Gabi. — Vanessa murmurava, tentando manter o tom baixo. — Mas não importa. Com Lucas cada vez mais próximo das crianças, eu só preciso de mais uma jogada.Laura recuou, o coração batendo forte. Mais uma jogada?Enquanto isso, Lucas estava em seu quarto, observando uma foto da família que ficava na mesa de cabeceira. Seus pensamentos estavam confusos. Desde que retornara, notara uma ten
O som do motor do ônibus soava como um zumbido interminável enquanto Laura olhava pela janela, apertando a alça de sua bolsa surrada. Seus pensamentos dançavam entre o nervosismo e a esperança. Era a última chance. Se não conseguisse esse emprego, a luz no fim do túnel ficaria mais distante.A cidade passava em flashes ao seu lado: prédios altos, ruas movimentadas e, finalmente, as áreas mais calmas e arborizadas. Quando o ônibus parou, ela desceu rapidamente, ajeitando o cabelo preso de maneira prática. A mansão era ainda mais imponente do que parecia na foto do anúncio. Portões altos de ferro e um jardim perfeitamente aparado anunciavam o status da família para quem ela esperava trabalhar."É agora ou nunca", murmurou para si mesma, endireitando a postura antes de tocar a campainha.A porta foi aberta por uma mulher de uniforme, de meia-idade, que parecia estar na casa há mais tempo do que qualquer móvel.— Você é a Laura?— Sim, sou eu — respondeu, com um sorriso tímido.— Entre. O
— Theo, cuidado! — Laura correu instintivamente para aparar o pequeno garoto de três anos, que quase derrubou um vaso enquanto brincava.Shofia, sentada no tapete da sala com uma boneca em mãos, riu alto.— Ele é desajeitado assim o tempo todo.Laura sorriu, pegando Theo no colo. Ele retribuiu com um olhar tímido, mas ela percebeu que ele já começava a relaxar na sua presença. Era seu segundo dia na mansão, e ela já estava se acostumando às personalidades contrastantes das crianças.Lucas entrou na sala naquele momento, interrompendo a calmaria. Ele parecia cansado, o terno ligeiramente desarrumado, mas seus olhos imediatamente se suavizaram ao ver os filhos.— Como eles se comportaram hoje? — perguntou, enquanto tirava o relógio de pulso.— Muito bem. Shofia é uma ajudante nata e Theo... bem, ele é um explorador — respondeu Laura com um sorriso.Lucas riu, um som raro e baixo.— Isso soa como ele.Antes que Laura pudesse responder, passos ecoaram pelo corredor. Vanessa apareceu na po
— Laura, você não tem limites! — a voz de Lucas cortou o ar da mansão com uma força que fez os ossos de Laura tremerem. Ela ficou paralisada, os olhos arregalados de surpresa e medo.A porta do escritório estava entreaberta, e ela estava ali, na entrada, com a carta de Lucas ainda nas mãos. O choque em seu rosto não passou despercebido por ele.— O que você pensava que estava fazendo, Laura? Invadir o meu escritório e mexer nas minhas coisas? — ele estava furioso, a raiva estampada em cada palavra, cada gesto.Laura não sabia o que responder. A tensão entre eles tinha aumentado de uma maneira que ela não conseguia controlar. Ela nunca imaginou que isso fosse acontecer tão rápido, mas o erro estava feito. A carta que ela havia encontrado parecia ser uma lembrança da falecida esposa de Lucas, e a curiosidade a havia empurrado para ali. Ela sabia que não era o certo, mas, naquele momento, tudo o que ela queria era entender mais sobre aquela família, sobre Lucas, e sobre o que realmente a
O estalo da porta foi como um eco cortante que reverberou pelos corredores da mansão. Laura congelou. O barulho não parecia ter vindo da parte de cima da casa, onde ela estava com as crianças, mas do andar de baixo. Uma sensação de alerta percorreu sua espinha.Ela olhou para o corredor vazio e, sem hesitar, saiu do quarto das crianças. Seus passos eram silenciosos, mas a tensão estava clara em cada movimento. O que estava acontecendo ali? Desde que chegara, algo parecia estranho na casa. A noite, que sempre trazia uma calmaria ilusória, agora parecia sombria e ameaçadora. E aquele som... Ele não era normal.Enquanto descia as escadas, um flash de memória a atingiu — a discussão entre Lucas e Vanessa mais cedo. Os gritos. As palavras cortantes. Algo não estava certo entre eles, e ela estava começando a perceber que havia muito mais por trás daquela fachada perfeita de uma família feliz.Chegando ao final da escada, ela se escondeu nas sombras do corredor, perto do escritório. De onde