— Sr., você já pensou sobre o que conversamos? — Laura perguntou com cautela, enquanto Lucas organizava os papéis que estavam espalhados pela mesa do escritório.
Ele olhou para ela, distraído. Não era sobre os papéis ou as decisões que precisavam ser tomadas a respeito das escolas. Era sobre o espaço que Laura começava a ocupar, não só na casa, mas em sua vida. Ultimamente Lucas andava distraído e não sabia como lidar com que estava começando a sentir por Laura.
— Sim, eu pensei. Acho que visitar algumas escolas na próxima semana seria o primeiro passo a se fazer. — Lucas respondeu, tentando manter o foco na conversa prática, embora sua mente estivesse mergulhada no tumulto de emoções que Laura sempre parecia trazer consigo.
Antes que Laura pudesse responder, Vanessa entrou abruptamente na sala, seu salto alto ecoando no chão.
— Lucas, querido, preciso falar com você. É algo importante. — Sua voz carregava um tom calculado, quase açucarado, que fazia Laura recuar instintivamente.
— Claro, Vanessa. Sobre o que é? — Lucas respondeu, inclinando-se na cadeira.
Vanessa lançou um olhar rápido para Laura, como se quisesse deixá-la desconfortável.
— Estou organizando um jantar especial amanhã à noite. Algo íntimo, apenas para os seus amigos mais próximos. Quero celebrar... nós. Acho que estamos precisando de um momento assim, não acha?
Lucas arqueou uma sobrancelha, surpreso com a iniciativa.
— Um jantar? Por que não me falou antes?
— Porque é uma surpresa! — Vanessa sorriu, mas havia algo em seus olhos que deixava claro que ela estava tramando algo. — E, ah, Laura... você está dispensada dessa celebração. E as crianças também. É um jantar apenas para adultos, se é que me entende?
Laura sentiu o impacto das palavras de Vanessa, mas manteve a postura.
— Claro. Vou me certificar de que as crianças fiquem bem enquanto vocês festejam.
Vanessa sorriu satisfeita e saiu da sala com passos firmes.
— E o que estamos festejando?
Lucas perguntou para Vanessa.
— A chegada do nosso bebê amor!
Lucas não falou mais nada, apenas assentiu com a cabeça.
Mais tarde naquela noite, enquanto Laura estava no jardim com as crianças, Lucas apareceu, parecendo mais relaxado do que o habitual. Ele a observou por alguns segundos antes de se aproximar.
— Você sempre encontra um jeito de acalmá-los. — Ele comentou, referindo-se às risadas que ecoavam no jardim.
Laura sorriu, embora pudesse sentir o peso do olhar dele.
— Eles só precisam de atenção, Sr. Algo que, apesar de tudo, você tem feito muito bem.
Houve um momento de silêncio entre eles, interrompido apenas pelo som das crianças correndo pelo gramado.
— Laura, obrigado. Não sei o que faria sem você aqui.
A sinceridade na voz de Lucas fez com que Laura olhasse para ele de maneira diferente. Havia algo no jeito como ele falava, como seus olhos pareciam dizer mais do que suas palavras.
— Eu só quero ajudar, Sr. E retribuir o que está fazendo por minha família, Isso é o que importa.
Ele deu um passo mais perto, e Laura sentiu a distância entre eles se fechar. logo um calor tomou conta de seu corpo.
— Você faz mais do que isso. — Ele murmurou, antes de, impulsivamente, se inclinar e tocar os lábios dela lentamente com os seus.
Foi um beijo breve, mas carregado de sentimentos que ambos estavam tentando reprimir. Quando se afastaram, os olhos de Laura estavam arregalados, e Lucas parecia tão surpreso quanto ela.
— Eu... Desculpe. — Ele disse, dando um passo para trás.
Laura balançou a cabeça, ainda processando o que havia acabado de acontecer.
— Lucas, isso não deveria...
Antes que ela pudesse terminar, uma das crianças chamou por ela, quebrando o momento. Lucas aproveitou a oportunidade para se afastar, claramente perturbado com o que havia feito.
— Tia Laura, vem brincar com a gente.
Theo pediu se aproximando.
Enquanto isso, no quarto, Vanessa estava ao telefone, detalhando seus planos para o jantar com uma amiga.
— Vai ser perfeito. Ele não terá como dizer não. Na frente de todos os amigos dele, ele será obrigado a aceitar meu pedido. E, com o bebê chegando, ele vai entender que não há outro caminho.
A amiga do outro lado da linha parecia hesitante.
— E se ele se recusar, Vanessa?
Vanessa riu, mas havia algo frio em seu tom.
— Ele não vai. Lucas é um homem de honra, e eu sei exatamente como jogar as cartas. Ele nunca me deixaria constrangida em público.
Ela olhou para o espelho, ajustando um brinco caro que usava.
— E aquela tal de Laura? — A amiga perguntou.
— Ela não será um problema. Não amanhã.
Na manhã seguinte, enquanto Laura preparava o café da manhã para as crianças, Lucas apareceu na cozinha. Ele parecia inquieto, mas tentava agir como se nada tivesse acontecido. Laura o deixava nervoso e ele não sabia como agir perto dela.
— Laura, sobre ontem à noite...
Ela ergueu a mão, interrompendo-o.
— Não precisa dizer nada, Sr. Vamos focar no que importa: as crianças.
Ele queria insistir, mas sabia que aquele não era o momento.
Mais tarde, enquanto Vanessa finalizava os preparativos para o jantar, ela encontrou Lucas no escritório.
— Está tudo pronto. Vai ser uma noite perfeita.
Lucas apenas assentiu, mas sua mente estava em outro lugar. Ele mal conseguia se concentrar no que Vanessa dizia, seu pensamento sempre voltando para Laura e o beijo que eles compartilharam e nem imaginava o que Vanessa estava aprontando.
À medida que a noite se aproximava, o clima na casa parecia tenso. Laura ficou no quarto com as crianças, ajudando-os a dormir, enquanto ouvia o som das vozes e risadas que vinham do andar de baixo.
Vanessa estava deslumbrante, e tudo estava exatamente como ela planejou. Ela desfilava pela sala com um grande sorriso no rosto e cumprimentava a todos, agradecendo a cada um pela presença. Quando chegou o momento, ela se levantou, segurando uma taça de champanhe.
— Amigos, eu quero aproveitar esta noite especial para dizer algo importante.
Lucas olhou para ela, confuso, enquanto Vanessa se aproximava com um sorriso triunfante.
— Lucas, você é o homem da minha vida, o pai do meu filho... e eu quero passar o resto da minha vida ao seu lado.
Ela passou a mão pela sua barriga e se ajoelhou, segurando uma caixinha com um anel.
— Lucas, você quer se casar comigo?
O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Lucas olhou para Vanessa, depois para os amigos, e finalmente para o anel. Ele não conseguia pensar em mais nada que não fosse Laura.
A escolha que ele faria mudaria tudo.
As risadas ecoavam pelo salão principal, misturadas ao tilintar das taças de cristal. Vanessa era o centro das atenções, deslumbrante em um vestido vermelho, exibindo um sorriso radiante enquanto circulava entre os convidados. Lucas estava ao seu lado, mas sua expressão era distante, quase ausente, como se estivesse ali apenas em corpo.Laura, depois de colocar as crianças para dormir deixou sua curiosidade falar mais alto e escondida atrás da porta semiaberta do corredor, observava tudo com o coração pesado. A cena à sua frente parecia um teatro bem ensaiado, uma peça em que ela não tinha lugar, mas cujas consequências a afetavam profundamente.Ela mordeu o lábio, reprimindo as lágrimas, enquanto Vanessa levantava a taça e fazia um brinde.— A uma nova fase em nossas vidas! — Vanessa proclamou, sorrindo triunfante para os convidados. — E, claro, ao homem que eu amo, Lucas!O salão explodiu em aplausos, mas Laura sentia cada palmas como um golpe.Mais cedo naquela noite, Vanessa fez s
A noite estava mais silenciosa do que Laura esperava quando saiu discretamente de seu quarto. Com passos leves, ela cruzou o corredor, ainda pensando na cena do noivado de Lucas e Vanessa. Cada detalhe parecia gravado em sua memória: o sorriso calculado de Vanessa, o olhar evasivo de Lucas.Ela precisava de ar, precisava organizar os pensamentos.— Laura?A voz a fez congelar no lugar. Virando-se devagar, ela viu Lucas parado na entrada do corredor. Ele tinha os braços cruzados, a expressão carregada de algo entre cansaço e frustração.— O que está fazendo acordada a essa hora? — ele perguntou, dando um passo à frente.Laura hesitou, mas decidiu manter a compostura.— Não consegui dormir. Eu... precisava pensar.Lucas suspirou e encostou-se à parede, parecendo tão perdido quanto ela.— Parece que ambos estamos no mesmo barco.O silêncio pairou entre eles por um momento, até que Laura o quebrou com uma pergunta que estava queimando em sua mente.— Você está feliz, Sr.?Ele a olhou dire
Vanessa olhou para o relógio com impaciência. Passava das nove da noite, e sua amiga, Gabriela, finalmente havia chegado. Assim que a porta se fechou, Vanessa a conduziu para o escritório, certificando-se de que ninguém mais estava por perto.— E então, você pensou em algo? — Vanessa perguntou, cruzando os braços.Gabriela ajeitou a bolsa no ombro, sentando-se na poltrona como se estivesse completamente à vontade.— Pensei, sim. Lucas é um pai preocupado, certo? Se algo acontecesse com uma das crianças, algo que parecesse grave, ele seria obrigado a aceitar que elas precisam de mais segurança.— Continue... — Vanessa disse, inclinando-se para frente, os olhos brilhando com expectativa.— Você precisa criar uma situação onde pareça que a Laura foi irresponsável. Alguma coisa que coloque as crianças em risco, mas que não cause danos reais. Algo que faça Lucas perceber que ele não pode confiar totalmente nela.Vanessa franziu a testa, refletindo sobre as palavras da amiga.— Um acidente,
Laura estava em pé na entrada de sua casa, a lua brilhava no céu. O motorista da mansão buzinou suavemente para avisar que estava esperando. Ela olhou para sua mãe, que estava sentada em uma poltrona confortável na sala, e depois para seu irmão Davi, que vinha trazendo sua bolsa.— Você não precisa ir, Laura — Davi insistiu, segurando a bolsa com firmeza. — Mamãe e eu ficaremos bem.— Eu sei que ficarão, mas preciso voltar. — Laura deu um sorriso triste. — O trabalho é importante, Davi. Você sabe como as coisas estão difíceis.Lídia, mesmo com a voz fraca, tentou intervir:— Filha, só quero que você cuide de si mesma. Parece que esse emprego te exige mais do que devia.Laura se abaixou para abraçar a mãe, sentindo o cheiro familiar de lavanda em seus cabelos.— Vai ficar tudo bem, mamãe. Prometo.Com um último abraço em Davi, ela saiu e entrou no carro, olhando para a casa pelo retrovisor até que sumisse de vista.Enquanto isso Vanessa estava no escritório, com um sorriso maquiavélico
Laura caminhava pelo corredor, segurando o casaco que Shophia havia deixado no sofá. Seu coração estava pesado desde que Lucas voltara de viagem, e as palavras dele ecoavam em sua mente."Laura, você tem certeza de que nada aconteceu fora do comum enquanto eu estava fora?"Ela sabia que Lucas estava tentando juntar as peças, mas Vanessa era habilidosa em plantar dúvidas. Era uma batalha silenciosa, e Laura sentia que estava ficando sem forças.Ao virar no corredor, ela ouviu vozes abafadas vindo do escritório. Parou por um momento, reconhecendo a voz de Vanessa.— Ele está começando a desconfiar de mim, Gabi. — Vanessa murmurava, tentando manter o tom baixo. — Mas não importa. Com Lucas cada vez mais próximo das crianças, eu só preciso de mais uma jogada.Laura recuou, o coração batendo forte. Mais uma jogada?Enquanto isso, Lucas estava em seu quarto, observando uma foto da família que ficava na mesa de cabeceira. Seus pensamentos estavam confusos. Desde que retornara, notara uma ten
O som do motor do ônibus soava como um zumbido interminável enquanto Laura olhava pela janela, apertando a alça de sua bolsa surrada. Seus pensamentos dançavam entre o nervosismo e a esperança. Era a última chance. Se não conseguisse esse emprego, a luz no fim do túnel ficaria mais distante.A cidade passava em flashes ao seu lado: prédios altos, ruas movimentadas e, finalmente, as áreas mais calmas e arborizadas. Quando o ônibus parou, ela desceu rapidamente, ajeitando o cabelo preso de maneira prática. A mansão era ainda mais imponente do que parecia na foto do anúncio. Portões altos de ferro e um jardim perfeitamente aparado anunciavam o status da família para quem ela esperava trabalhar."É agora ou nunca", murmurou para si mesma, endireitando a postura antes de tocar a campainha.A porta foi aberta por uma mulher de uniforme, de meia-idade, que parecia estar na casa há mais tempo do que qualquer móvel.— Você é a Laura?— Sim, sou eu — respondeu, com um sorriso tímido.— Entre. O
— Theo, cuidado! — Laura correu instintivamente para aparar o pequeno garoto de três anos, que quase derrubou um vaso enquanto brincava.Shofia, sentada no tapete da sala com uma boneca em mãos, riu alto.— Ele é desajeitado assim o tempo todo.Laura sorriu, pegando Theo no colo. Ele retribuiu com um olhar tímido, mas ela percebeu que ele já começava a relaxar na sua presença. Era seu segundo dia na mansão, e ela já estava se acostumando às personalidades contrastantes das crianças.Lucas entrou na sala naquele momento, interrompendo a calmaria. Ele parecia cansado, o terno ligeiramente desarrumado, mas seus olhos imediatamente se suavizaram ao ver os filhos.— Como eles se comportaram hoje? — perguntou, enquanto tirava o relógio de pulso.— Muito bem. Shofia é uma ajudante nata e Theo... bem, ele é um explorador — respondeu Laura com um sorriso.Lucas riu, um som raro e baixo.— Isso soa como ele.Antes que Laura pudesse responder, passos ecoaram pelo corredor. Vanessa apareceu na po
— Laura, você não tem limites! — a voz de Lucas cortou o ar da mansão com uma força que fez os ossos de Laura tremerem. Ela ficou paralisada, os olhos arregalados de surpresa e medo.A porta do escritório estava entreaberta, e ela estava ali, na entrada, com a carta de Lucas ainda nas mãos. O choque em seu rosto não passou despercebido por ele.— O que você pensava que estava fazendo, Laura? Invadir o meu escritório e mexer nas minhas coisas? — ele estava furioso, a raiva estampada em cada palavra, cada gesto.Laura não sabia o que responder. A tensão entre eles tinha aumentado de uma maneira que ela não conseguia controlar. Ela nunca imaginou que isso fosse acontecer tão rápido, mas o erro estava feito. A carta que ela havia encontrado parecia ser uma lembrança da falecida esposa de Lucas, e a curiosidade a havia empurrado para ali. Ela sabia que não era o certo, mas, naquele momento, tudo o que ela queria era entender mais sobre aquela família, sobre Lucas, e sobre o que realmente a