Laura estava em pé na entrada de sua casa, a lua brilhava no céu. O motorista da mansão buzinou suavemente para avisar que estava esperando. Ela olhou para sua mãe, que estava sentada em uma poltrona confortável na sala, e depois para seu irmão Davi, que vinha trazendo sua bolsa.
— Você não precisa ir, Laura — Davi insistiu, segurando a bolsa com firmeza. — Mamãe e eu ficaremos bem.
— Eu sei que ficarão, mas preciso voltar. — Laura deu um sorriso triste. — O trabalho é importante, Davi. Você sabe como as coisas estão difíceis.
Lídia, mesmo com a voz fraca, tentou intervir:
— Filha, só quero que você cuide de si mesma. Parece que esse emprego te exige mais do que devia.
Laura se abaixou para abraçar a mãe, sentindo o cheiro familiar de lavanda em seus cabelos.
— Vai ficar tudo bem, mamãe. Prometo.
Com um último abraço em Davi, ela saiu e entrou no carro, olhando para a casa pelo retrovisor até que sumisse de vista.
Enquanto isso Vanessa estava no escritório, com um sorriso maquiavélico nos lábios, observando atentamente sua amiga Gabriela pelo telefone.
— Tudo está pronto, Gabriela. Desta vez, não haverá erro. — A voz de Vanessa era baixa e fria. — Lucas está fora, viajou a trabalho e Laura não terá como se defender.
— Tem certeza de que é uma boa ideia? — a amiga questionou, com hesitação na voz. — Se algo der errado, pode acabar prejudicando você.
Vanessa deu uma risada curta.
— Nada vai dar errado. Theo vai cair da escada "acidentalmente", e eu farei parecer que foi por descuido da querida babá. Lucas não terá outra escolha senão afastá-la, e as crianças finalmente irão para o colégio interno.
Do outro lado da linha, Gabriela suspirou, mas não disse mais nada.
Quando Laura chegou à mansão, já passava das nove da noite. As luzes estavam acesas, e as crianças já deviam estar prontas para dormir. Ela entrou, deixando sua bolsa no hall, e foi direto para o quarto de Theo e Shophia.
— Theo? Sohphia? Já estão dormindo? — Ela chamou, abrindo a porta devagar.
Theo, sempre cheio de energia, pulou da cama.
— Tia Laura! Você voltou!
Sohphia, estava mais tímida, sorriu da cama, segurando um livro de contos de fadas.
— Sentimos sua falta.
— Eu também senti a de vocês, meus amores. — Laura sorriu, puxando Theo para um abraço e acariciando os cabelos de Shophia. — Prontos para uma nova semana?
Os dois acenaram, e Laura ficou com eles por alguns minutos, lendo uma história até que ambos estivessem sonolentos.
Ela mal sabia que Vanessa já estava posicionada, esperando o momento certo para agir.
Na manhã seguinte, enquanto Lucas ainda estava em viagem, Vanessa começou a colocar seu plano em prática. Ela observou Theo correndo pelo corredor e se aproximou com um sorriso falso.
— Theo, querido, você não gostaria de pegar um brinquedo especial no andar de baixo? — ela disse, apontando para a escada.
Theo, sempre animado, concordou imediatamente e começou a descer. Vanessa esperou o momento exato, fingindo estar ocupada com um vaso de flores, e "acidentalmente" deixou cair uma pequena bola de borracha no alto da escada.
O menino, distraído, pisou na bola e escorregou, caindo pelos degraus.
— Theo! — Vanessa gritou, correndo para ele.
Laura, que estava no quarto de Shofia, ouviu o barulho e saiu correndo pelo corredor.
— O que aconteceu? — ela perguntou, desesperada, ao ver Theo no chão, chorando e segurando o braço.
Vanessa, com lágrimas falsas nos olhos, apontou para Laura.
— Você não estava cuidando dele? Como pôde deixá-lo sozinho?
— Eu... Eu estava com Shofia... — Laura tentou explicar, mas a culpa que Vanessa tentava colocar nela já estava no ar.
O médico da família foi chamado imediatamente, e Theo foi levado para avaliação. Felizmente, o menino não sofreu nada grave além de um braço machucado, mas o impacto emocional foi forte.
Vanessa não perdeu tempo em aumentar o drama.
— Isso é exatamente o que eu temia, Lucas. — Ela falou ao telefone, quando conseguiu contato com ele. — Laura não está dando conta. É melhor para as crianças que elas tenham um ambiente mais seguro.
Lucas, do outro lado da linha, ouviu tudo em silêncio.
— Vamos conversar sobre isso quando eu voltar — foi tudo o que ele disse, antes de desligar.
Laura estava na cozinha, limpando os cacos de um copo que havia derrubado acidentalmente. Suas mãos tremiam, e sua mente estava um turbilhão de emoções.
Shophia apareceu e puxou a barra de sua saia.
— Laura, não foi sua culpa. Theo disse que só queria brincar.
As palavras da menina foram um pequeno alívio, mas Laura sabia que a situação estava longe de ser resolvida.
Mais tarde naquela noite, enquanto Vanessa comemorava em silêncio o sucesso de seu plano, uma mensagem inesperada chegou ao celular de Laura. Era de Lucas.
— Precisamos conversar assim que eu voltar. Não tome nenhuma decisão até lá.
Laura leu as palavras repetidamente, tentando entender o tom por trás da mensagem. Enquanto isso, Vanessa, com um sorriso triunfante, observava o quadro de uma família feliz pendurado na sala e murmurava para si mesma:
— Um passo de cada vez. Primeiro, Laura sai. Depois, eu tomo o meu lugar.
Laura estava sentada na beira da cama, segurando o celular com firmeza. A mensagem de Lucas ainda brilhava na tela, mas era a memória da ligação anterior que ecoava em sua mente.
"Laura, tome cuidado. Vanessa está tramando algo. Não confie nela."
O tom sério de Lucas naquela ligação fazia ainda mais sentido agora. Era óbvio que a queda de Theo não tinha sido um acidente. Vanessa estava jogando sujo, e Laura sabia que, se não tomasse cuidado, as próximas vítimas poderiam ser Shophia e Theo novamente.
Ela respirou fundo, tentando acalmar o coração acelerado. "Preciso ser mais cuidadosa. Isso não é só sobre mim, é sobre proteger essas crianças", pensou.
Enquanto isso Vanessa estava deitada na cama, os pés balançando no ar enquanto segurava o telefone próximo ao ouvido. Sua amiga Gabriela ria do outro lado da linha.
— Então, deu tudo certo? — Gabriela perguntou, a voz cheia de curiosidade.
— Perfeitamente. — Vanessa sorriu, orgulhosa. — Theo caiu como planejado, e Laura ficou parecendo a negligente que é. Agora, é só convencer Lucas de que o melhor para as crianças é mandar essa garota para longe.
— E ele vai acreditar em você? — Gabriela questionou, cética.
Vanessa deu uma risada curta.
— Claro que vai. Eu sou a mãe ideal para aquelas crianças. Laura é só uma intrusa que ele sente pena. Quando eu terminar, Lucas estará tão convencido que nem pensará duas vezes antes de colocá-la na rua.
Do outro lado da linha, Gabriela ficou em silêncio por um momento, mas Vanessa não notou.
Na manhã seguinte, Laura acordou determinada. Se Vanessa estava disposta a jogar tão baixo, então ela precisava estar um passo à frente.
Enquanto Shophia e Theo tomavam o café da manhã, Laura se aproximou e se agachou ao lado deles.
— Quero falar com vocês sobre algo importante — começou ela, tentando manter a voz calma.
Shophia, sempre perceptiva, franziu a testa.
— É sobre o que aconteceu com Theo?
Laura assentiu.
— Sim, meu amor. Quero que vocês saibam que eu estou aqui para cuidar de vocês, mas também preciso que fiquem atentos. Se algo parecer errado, venham me contar imediatamente. Vocês podem fazer isso?
Theo olhou para Shophia antes de balançar a cabeça.
— Podemos, tia Laura.
Shophia, no entanto, parecia hesitante.
— Você acha que foi a Vanessa?
Laura segurou a mão da menina com firmeza.
— Não importa quem tenha sido. O importante é que agora vamos ficar atentos e cuidar uns dos outros, combinado?
As crianças assentiram, e Laura sentiu uma pequena onda de alívio.
Enquanto isso, Vanessa não perdeu tempo. Assim que Lucas retornou de viagem, ela o recebeu com um sorriso caloroso e um jantar caprichado.
— Como foi a viagem? — perguntou ela, servindo um pouco de vinho no copo dele.
— Cansativa, mas produtiva. — Lucas suspirou, aceitando a taça.
Vanessa aproveitou a oportunidade para tocar no assunto que vinha planejando.
— Lucas, precisamos conversar sobre as crianças.
Ele ergueu uma sobrancelha, colocando a taça na mesa.
— O que aconteceu?
— Sobre o que aconteceu com Theo enquanto você estava fora. — Vanessa fez uma pausa dramática, como se estivesse se recompondo. — Eu não quero apontar dedos, mas Laura estava distraída. Isso poderia ter sido muito mais grave.
Lucas franziu o cenho.
— Theo está bem, e Laura sempre foi cuidadosa.
Vanessa suspirou.
— Lucas, eu sei que você confia nela, mas talvez seja hora de pensar no que é melhor para as crianças. Um colégio interno seria o lugar ideal para eles. Segurança, educação de qualidade...
Lucas a interrompeu.
— Não vamos decidir isso agora, Vanessa.
Embora frustrada, Vanessa não demonstrou.
— Claro. Apenas pense no que eu disse.
Mais tarde naquela noite, Lucas foi até o quarto de Laura para falar sobre a conversa com Vanessa. Ele queria ouvir o lado dela, mas, antes que pudesse bater na porta, ouviu Laura falando com Clara.
— Não se preocupe, meu amor. Ninguém vai separar vocês de mim. Eu prometo.
Lucas parou, as palavras de Laura ecoando em sua mente. Algo estava errado, e ele sabia que precisava descobrir o que era antes que tudo desmoronasse.
Enquanto isso, Vanessa estava no escritório, olhando para uma foto de Lucas com as crianças. Com um sorriso frio, ela murmurou:
— Um passo de cada vez. A rainha só avança quando o peão é removido do tabuleiro.
A tensão na mansão estava no limite, e todos pareciam caminhar sobre uma linha tênue, prestes a se romper.
Laura caminhava pelo corredor, segurando o casaco que Shophia havia deixado no sofá. Seu coração estava pesado desde que Lucas voltara de viagem, e as palavras dele ecoavam em sua mente."Laura, você tem certeza de que nada aconteceu fora do comum enquanto eu estava fora?"Ela sabia que Lucas estava tentando juntar as peças, mas Vanessa era habilidosa em plantar dúvidas. Era uma batalha silenciosa, e Laura sentia que estava ficando sem forças.Ao virar no corredor, ela ouviu vozes abafadas vindo do escritório. Parou por um momento, reconhecendo a voz de Vanessa.— Ele está começando a desconfiar de mim, Gabi. — Vanessa murmurava, tentando manter o tom baixo. — Mas não importa. Com Lucas cada vez mais próximo das crianças, eu só preciso de mais uma jogada.Laura recuou, o coração batendo forte. Mais uma jogada?Enquanto isso, Lucas estava em seu quarto, observando uma foto da família que ficava na mesa de cabeceira. Seus pensamentos estavam confusos. Desde que retornara, notara uma ten
O som do motor do ônibus soava como um zumbido interminável enquanto Laura olhava pela janela, apertando a alça de sua bolsa surrada. Seus pensamentos dançavam entre o nervosismo e a esperança. Era a última chance. Se não conseguisse esse emprego, a luz no fim do túnel ficaria mais distante.A cidade passava em flashes ao seu lado: prédios altos, ruas movimentadas e, finalmente, as áreas mais calmas e arborizadas. Quando o ônibus parou, ela desceu rapidamente, ajeitando o cabelo preso de maneira prática. A mansão era ainda mais imponente do que parecia na foto do anúncio. Portões altos de ferro e um jardim perfeitamente aparado anunciavam o status da família para quem ela esperava trabalhar."É agora ou nunca", murmurou para si mesma, endireitando a postura antes de tocar a campainha.A porta foi aberta por uma mulher de uniforme, de meia-idade, que parecia estar na casa há mais tempo do que qualquer móvel.— Você é a Laura?— Sim, sou eu — respondeu, com um sorriso tímido.— Entre. O
— Theo, cuidado! — Laura correu instintivamente para aparar o pequeno garoto de três anos, que quase derrubou um vaso enquanto brincava.Shofia, sentada no tapete da sala com uma boneca em mãos, riu alto.— Ele é desajeitado assim o tempo todo.Laura sorriu, pegando Theo no colo. Ele retribuiu com um olhar tímido, mas ela percebeu que ele já começava a relaxar na sua presença. Era seu segundo dia na mansão, e ela já estava se acostumando às personalidades contrastantes das crianças.Lucas entrou na sala naquele momento, interrompendo a calmaria. Ele parecia cansado, o terno ligeiramente desarrumado, mas seus olhos imediatamente se suavizaram ao ver os filhos.— Como eles se comportaram hoje? — perguntou, enquanto tirava o relógio de pulso.— Muito bem. Shofia é uma ajudante nata e Theo... bem, ele é um explorador — respondeu Laura com um sorriso.Lucas riu, um som raro e baixo.— Isso soa como ele.Antes que Laura pudesse responder, passos ecoaram pelo corredor. Vanessa apareceu na po
— Laura, você não tem limites! — a voz de Lucas cortou o ar da mansão com uma força que fez os ossos de Laura tremerem. Ela ficou paralisada, os olhos arregalados de surpresa e medo.A porta do escritório estava entreaberta, e ela estava ali, na entrada, com a carta de Lucas ainda nas mãos. O choque em seu rosto não passou despercebido por ele.— O que você pensava que estava fazendo, Laura? Invadir o meu escritório e mexer nas minhas coisas? — ele estava furioso, a raiva estampada em cada palavra, cada gesto.Laura não sabia o que responder. A tensão entre eles tinha aumentado de uma maneira que ela não conseguia controlar. Ela nunca imaginou que isso fosse acontecer tão rápido, mas o erro estava feito. A carta que ela havia encontrado parecia ser uma lembrança da falecida esposa de Lucas, e a curiosidade a havia empurrado para ali. Ela sabia que não era o certo, mas, naquele momento, tudo o que ela queria era entender mais sobre aquela família, sobre Lucas, e sobre o que realmente a
O estalo da porta foi como um eco cortante que reverberou pelos corredores da mansão. Laura congelou. O barulho não parecia ter vindo da parte de cima da casa, onde ela estava com as crianças, mas do andar de baixo. Uma sensação de alerta percorreu sua espinha.Ela olhou para o corredor vazio e, sem hesitar, saiu do quarto das crianças. Seus passos eram silenciosos, mas a tensão estava clara em cada movimento. O que estava acontecendo ali? Desde que chegara, algo parecia estranho na casa. A noite, que sempre trazia uma calmaria ilusória, agora parecia sombria e ameaçadora. E aquele som... Ele não era normal.Enquanto descia as escadas, um flash de memória a atingiu — a discussão entre Lucas e Vanessa mais cedo. Os gritos. As palavras cortantes. Algo não estava certo entre eles, e ela estava começando a perceber que havia muito mais por trás daquela fachada perfeita de uma família feliz.Chegando ao final da escada, ela se escondeu nas sombras do corredor, perto do escritório. De onde
— Volte para o quarto e fique com as crianças, Laura. Eu cuido disso. — A voz de Lucas era cortante, deixando claro que aquilo não era um pedido, mas uma ordem.Laura hesitou, mas assentiu lentamente. Não era o momento de discutir. Ele desapareceu rapidamente pelas escadas, a tensão estampada em cada movimento. Ela tentou se convencer de que deveria obedecer e voltar para as crianças, mas a curiosidade era mais forte. Algo estava acontecendo naquela casa, algo maior do que ela podia entender, e ela precisava saber o que era.Movendo-se silenciosamente, Laura desceu atrás de Lucas, mantendo distância suficiente para não ser notada. Quando chegou perto do escritório, viu a porta entreaberta e o som abafado de vozes exaltadas.— O que está fazendo com isso? — Lucas perguntava, a voz grave e carregada de frustração.— Isso? — Vanessa respondeu, com um tom de ironia cortante. — Estou tentando entender como você deixou isso aqui, tão à vista. — A palavra "isso" foi acompanhada de um som de
O amanhecer trouxe uma mistura de alívio e peso ao coração de Laura. Ela havia passado a noite inteira acordada, revendo sua decisão. Era o melhor a ser feito. A tensão naquela casa não era mais sustentável, e sua família precisava dela.Ela respirou fundo ao descer as escadas. O silêncio ainda pairava pela mansão, mas ela sabia que, em breve, todos estariam acordados. O café seria servido, as crianças correriam pela casa, e, naquele momento, ela precisaria se despedir.Ao entrar na cozinha, encontrou Maria já ocupada preparando o café. A governanta ergueu os olhos e sorriu de leve, mas sua expressão logo mudou ao perceber a bolsa pequena ao lado de Laura.— Você vai embora? — perguntou Maria, baixando o tom de voz.Laura assentiu, tentando sorrir.— Sim. Chegou a hora.Maria suspirou, enxugando as mãos no avental.— Vou sentir sua falta, Laura. Mas você sabe o que é melhor para você.Laura queria responder, mas foi interrompida por passos apressados no corredor. Shofia entrou na cozi
Laura colocou a última peça de roupa de volta no armário, respirando fundo para acalmar a tempestade de emoções que sentia. O reencontro com as crianças havia sido avassalador, mas ela sabia que ainda tinha muito o que resolver. Ao fechar a pequena bolsa, um som inesperado a trouxe de volta ao momento.Toque, toque, toque.A batida na porta a fez gelar por um segundo. Assim que abriu, Lucas estava ali, imponente como sempre, mas com um olhar que misturava seriedade e algo mais que ela não conseguia decifrar.— Laura, precisamos conversar.Ela assentiu, dando um passo para o lado para que ele entrasse. Lucas caminhou até o centro do quarto, as mãos nos bolsos, enquanto Laura encostava a porta.— Eu sei que você está passando por um momento difícil — começou ele, a voz baixa, mas carregada de intenção. — Mas preciso entender exatamente o que está acontecendo.Laura respirou fundo, tentando organizar os pensamentos.— Sr., eu não estava planejando contar isso, mas minha mãe... — Sua voz