Laura caminhava pelo corredor, segurando o casaco que Shophia havia deixado no sofá. Seu coração estava pesado desde que Lucas voltara de viagem, e as palavras dele ecoavam em sua mente.
"Laura, você tem certeza de que nada aconteceu fora do comum enquanto eu estava fora?"
Ela sabia que Lucas estava tentando juntar as peças, mas Vanessa era habilidosa em plantar dúvidas. Era uma batalha silenciosa, e Laura sentia que estava ficando sem forças.
Ao virar no corredor, ela ouviu vozes abafadas vindo do escritório. Parou por um momento, reconhecendo a voz de Vanessa.
— Ele está começando a desconfiar de mim, Gabi. — Vanessa murmurava, tentando manter o tom baixo. — Mas não importa. Com Lucas cada vez mais próximo das crianças, eu só preciso de mais uma jogada.
Laura recuou, o coração batendo forte. Mais uma jogada?
Enquanto isso, Lucas estava em seu quarto, observando uma foto da família que ficava na mesa de cabeceira. Seus pensamentos estavam confusos. Desde que retornara, notara uma tensão crescente entre Laura e Vanessa. E embora tentasse ignorar, algo dentro dele gritava que Vanessa estava escondendo algo.
Ele decidiu que precisava conversar diretamente com Shophia. A menina sempre fora observadora e sincera.
— Shophia, posso falar com você minha filha um instante? — perguntou ele ao encontrá-la folheando um livro no sofá.
Shophia levantou o olhar e fechou o livro devagar.
— Claro, papai. _Respondeu Shophia com sua voz suave e doce de sempre.
Lucas se sentou ao lado dela, tentando encontrar as palavras certas.
— Eu queria saber como você está se sentindo... aqui na mansão, com tudo que está acontecendo.
Shophia inclinou a cabeça, confusa.
— Tudo bem, acho. Por quê?
Lucas hesitou, mas então decidiu ser honesto.
— Quero garantir que você e Theo estão bem cuidados. A Laura cuida bem de vocês?
Shophia assentiu imediatamente.
— Tia Laura é incrível, papai. Ela sempre está lá para nós.
Lucas sentiu uma pontada de alívio, mas antes que pudesse continuar, Shophia acrescentou:
— Mas a Vanessa...
Ele arqueou uma sobrancelha.
— O que tem a Vanessa?
Shophia mordeu o lábio, claramente hesitante.
— Ela às vezes diz coisas... como se quisesse que a tia Laura fosse embora.
Lucas ficou em silêncio, mas por dentro, algo se quebrou.
No escritório, Vanessa desligou o telefone após sua conversa com Gabriela. Um sorriso satisfeito surgiu em seus lábios.
— Se Lucas não perceber que Laura é um problema, eu mesma vou forçá-lo a enxergar.
Ela já tinha tudo planejado. Em dois dias, organizaria um jantar com alguns amigos próximos de Lucas, onde faria questão de destacar as "falhas" de Laura, plantando a semente da dúvida em todos.
Vanessa pegou o celular e enviou uma mensagem para um de seus aliados discretos:
"Certifique-se de que tudo esteja preparado. Nada pode dar errado desta vez."
Mais tarde naquela noite, Laura estava na cozinha preparando o lanche das crianças quando Shofia entrou, com uma expressão séria.
— Tia Laura, posso te contar uma coisa? — perguntou a menina, baixinho.
Laura se virou para ela, preocupada.
— Claro, meu amor. O que foi?
Sofia olhou ao redor, como se tivesse medo de que alguém estivesse escutando.
— Eu ouvi a Vanessa falando com uma amiga dela hoje. Ela disse que vai fazer algo para que o papai mande você embora.
Laura sentiu o estômago revirar.
— Você tem certeza?
Shofia assentiu, os olhos brilhando de lágrimas.
— Não quero que você vá embora, Laura.
Laura se ajoelhou e puxou Sofia para um abraço apertado.
— Eu também não quero ir, querida. Mas não se preocupe. Eu prometo que vou cuidar de vocês.
Enquanto abraçava a menina, Laura percebeu que precisava agir. Vanessa estava jogando sujo, mas Laura não ia mais ficar na defensiva.
No dia seguinte, Lucas observava Vanessa no jardim, rindo com alguns amigos enquanto organizava os detalhes do jantar. Algo na leveza de sua atitude o incomodava profundamente.
Enquanto isso, Laura, determinada, decidiu procurar Lucas para contar o que Sofia havia dito. Ela sabia que poderia ser arriscado, mas não podia mais ficar em silêncio.
— Sr., podemos conversar? — ela perguntou, encontrando-o no escritório.
Ele olhou para ela, surpreso.
— Claro, Laura. O que aconteceu?
Ela respirou fundo, reunindo coragem.
— É sobre a Vanessa...
Mas antes que pudesse continuar, a porta se abriu abruptamente, revelando Vanessa com um sorriso encantador.
— Lucas, querido, você tem um minuto?
Laura engoliu em seco, percebendo que o momento fora perdido. Vanessa lançava um olhar que dizia claramente: Você nunca vai ganhar esta batalha.
E enquanto Vanessa conduzia Lucas para fora do escritório, Laura ficou sozinha, prometendo a si mesma que não desistiria.
O silêncio antes da tempestade era palpável.
Vanessa arrumava a bolsa com pressa, pegando o celular para conferir as mensagens de Gabriela. A amiga já estava esperando no restaurante para discutir os últimos detalhes do jantar, e Vanessa estava ansiosa para ajustar o plano ao ponto.
— Lucas, estou saindo. — anunciou, colocando os óculos escuros enquanto passava pela sala.
Lucas, sentado no sofá com um café em mãos, apenas murmurou algo em resposta. Seus olhos não estavam em Vanessa, mas na direção da escada, onde Laura acabara de passar. Vanessa percebeu, mas preferiu ignorar.
"Deixe-o me observar agora, mas em breve, ele não terá escolha a não ser focar apenas em mim."
Ao sair da mansão, ela sorriu para si mesma, confiante.
Lucas esperou até ouvir o som do carro de Vanessa se afastando. Ele colocou a xícara de café na mesa e subiu as escadas. Seu coração estava pesado desde a última conversa interrompida com Laura. Ela tinha algo importante a dizer, e ele sentia que precisava saber.
Laura estava no quarto das crianças, organizando alguns brinquedos e dobrando roupas. Theo e Sofia estavam brincando no quintal com Maria, dando-lhe um raro momento de calma.
— Laura. — a voz de Lucas soou da porta, fazendo-a se virar rapidamente.
— Sr., o que foi?
Ele entrou no quarto, fechando a porta atrás de si. O silêncio parecia tão pesado quanto o olhar que ele lançou para ela.
— Sobre o que você queria me falar mais cedo?
Laura hesitou, segurando uma camiseta infantil nas mãos. Olhou para ele, tentando decidir se aquele era o momento certo para abrir o coração.
— É sobre a Vanessa. — começou ela, escolhendo cuidadosamente as palavras. — Eu acho que você precisa prestar atenção. Há coisas que ela está fazendo que podem... prejudicar você e as crianças.
Lucas cruzou os braços, inclinando a cabeça para o lado.
— Laura, você acha que eu não percebo? Eu só não sei como lidar com isso agora. — admitiu ele, a frustração evidente.
Laura deu um passo mais perto, sentindo o peso da honestidade nas palavras dele.
— Eu só quero ajudar.
— E você ajuda. Mais do que eu consigo expressar.
As palavras dele a pegaram de surpresa, e ela percebeu que a distância entre eles havia diminuído significativamente. Lucas ergueu a mão, tocando de leve o rosto dela.
— Desde que você chegou aqui, minha vida mudou. Você trouxe paz para as crianças, e para mim...
Antes que Laura pudesse responder, os lábios de Lucas encontraram os dela. Foi um beijo cheio de sentimentos reprimidos, intenso, mas cheio de carinho.
Ela deveria se afastar, deveria resistir, mas seu coração falou mais alto. Quando finalmente se separaram, ambos estavam sem fôlego, mas o silêncio entre eles dizia mais do que qualquer palavra poderia.
— Isso... — começou Laura, mas Lucas colocou um dedo sobre os lábios dela.
— Não diga nada. Vamos resolver isso juntos.
Enquanto isso, Vanessa estava sentada no restaurante com Gabriela, o som dos talheres e das conversas ao redor criando um cenário perfeito para conspirar.
— Tudo está correndo como planejado. — disse Vanessa, tomando um gole de seu vinho.
Gabriela sorriu.
— E o próximo passo?
Vanessa inclinou-se para frente, conspiradora.
— Durante o jantar, vou deixar claro que Laura é uma ameaça para o bem-estar das crianças. Lucas já está emocionalmente desgastado. Ele não vai ter forças para resistir.
Gabriela arqueou uma sobrancelha, interessada.
— E se ele resistir?
Vanessa riu.
— Ele não vai. Ainda tenho a carta da gravidez. Não há homem no mundo que consiga ignorar isso.
Ambas riram, enquanto o garçom servia outro prato.
De volta à mansão, Laura estava sozinha no quarto das crianças, tentando processar o que havia acontecido. O beijo de Lucas havia despertado sentimentos que ela tentava enterrar desde o começo.
Mas como poderia competir com Vanessa? A mulher estava grávida e tinha uma história com Lucas que ela não podia simplesmente apagar.
Sofia entrou no quarto, interrompendo os pensamentos de Laura.
— Tia Laura, você está bem?
Laura sorriu para a menina, mas sabia que Sofia era perspicaz demais para ser enganada.
— Estou, querida. Só pensando em algumas coisas.
Sofia a observou por um momento antes de perguntar:
— Você gosta do meu papai, não é?
A pergunta direta pegou Laura de surpresa, mas antes que pudesse responder, Theo apareceu correndo pelo corredor, chamando por ela.
— Tia Laura, precisamos de você lá fora!
Enquanto Laura corria para atender Theo, Lucas estava em seu escritório, olhando para o convite do jantar que Vanessa havia enviado. Ele sabia que aquela noite seria decisiva, mas mal podia imaginar o que realmente estava por vir.
No restaurante, Vanessa e Gabriela continuavam a traçar o plano.
— Amanhã à noite, Laura estará fora de nossas vidas. — Vanessa prometeu, erguendo sua taça em um brinde.
O destino estava sendo selado, mas o que ninguém esperava era que a própria força de Laura e das crianças fosse capaz de virar o jogo.
O som do motor do ônibus soava como um zumbido interminável enquanto Laura olhava pela janela, apertando a alça de sua bolsa surrada. Seus pensamentos dançavam entre o nervosismo e a esperança. Era a última chance. Se não conseguisse esse emprego, a luz no fim do túnel ficaria mais distante.A cidade passava em flashes ao seu lado: prédios altos, ruas movimentadas e, finalmente, as áreas mais calmas e arborizadas. Quando o ônibus parou, ela desceu rapidamente, ajeitando o cabelo preso de maneira prática. A mansão era ainda mais imponente do que parecia na foto do anúncio. Portões altos de ferro e um jardim perfeitamente aparado anunciavam o status da família para quem ela esperava trabalhar."É agora ou nunca", murmurou para si mesma, endireitando a postura antes de tocar a campainha.A porta foi aberta por uma mulher de uniforme, de meia-idade, que parecia estar na casa há mais tempo do que qualquer móvel.— Você é a Laura?— Sim, sou eu — respondeu, com um sorriso tímido.— Entre. O
— Theo, cuidado! — Laura correu instintivamente para aparar o pequeno garoto de três anos, que quase derrubou um vaso enquanto brincava.Shofia, sentada no tapete da sala com uma boneca em mãos, riu alto.— Ele é desajeitado assim o tempo todo.Laura sorriu, pegando Theo no colo. Ele retribuiu com um olhar tímido, mas ela percebeu que ele já começava a relaxar na sua presença. Era seu segundo dia na mansão, e ela já estava se acostumando às personalidades contrastantes das crianças.Lucas entrou na sala naquele momento, interrompendo a calmaria. Ele parecia cansado, o terno ligeiramente desarrumado, mas seus olhos imediatamente se suavizaram ao ver os filhos.— Como eles se comportaram hoje? — perguntou, enquanto tirava o relógio de pulso.— Muito bem. Shofia é uma ajudante nata e Theo... bem, ele é um explorador — respondeu Laura com um sorriso.Lucas riu, um som raro e baixo.— Isso soa como ele.Antes que Laura pudesse responder, passos ecoaram pelo corredor. Vanessa apareceu na po
— Laura, você não tem limites! — a voz de Lucas cortou o ar da mansão com uma força que fez os ossos de Laura tremerem. Ela ficou paralisada, os olhos arregalados de surpresa e medo.A porta do escritório estava entreaberta, e ela estava ali, na entrada, com a carta de Lucas ainda nas mãos. O choque em seu rosto não passou despercebido por ele.— O que você pensava que estava fazendo, Laura? Invadir o meu escritório e mexer nas minhas coisas? — ele estava furioso, a raiva estampada em cada palavra, cada gesto.Laura não sabia o que responder. A tensão entre eles tinha aumentado de uma maneira que ela não conseguia controlar. Ela nunca imaginou que isso fosse acontecer tão rápido, mas o erro estava feito. A carta que ela havia encontrado parecia ser uma lembrança da falecida esposa de Lucas, e a curiosidade a havia empurrado para ali. Ela sabia que não era o certo, mas, naquele momento, tudo o que ela queria era entender mais sobre aquela família, sobre Lucas, e sobre o que realmente a
O estalo da porta foi como um eco cortante que reverberou pelos corredores da mansão. Laura congelou. O barulho não parecia ter vindo da parte de cima da casa, onde ela estava com as crianças, mas do andar de baixo. Uma sensação de alerta percorreu sua espinha.Ela olhou para o corredor vazio e, sem hesitar, saiu do quarto das crianças. Seus passos eram silenciosos, mas a tensão estava clara em cada movimento. O que estava acontecendo ali? Desde que chegara, algo parecia estranho na casa. A noite, que sempre trazia uma calmaria ilusória, agora parecia sombria e ameaçadora. E aquele som... Ele não era normal.Enquanto descia as escadas, um flash de memória a atingiu — a discussão entre Lucas e Vanessa mais cedo. Os gritos. As palavras cortantes. Algo não estava certo entre eles, e ela estava começando a perceber que havia muito mais por trás daquela fachada perfeita de uma família feliz.Chegando ao final da escada, ela se escondeu nas sombras do corredor, perto do escritório. De onde
— Volte para o quarto e fique com as crianças, Laura. Eu cuido disso. — A voz de Lucas era cortante, deixando claro que aquilo não era um pedido, mas uma ordem.Laura hesitou, mas assentiu lentamente. Não era o momento de discutir. Ele desapareceu rapidamente pelas escadas, a tensão estampada em cada movimento. Ela tentou se convencer de que deveria obedecer e voltar para as crianças, mas a curiosidade era mais forte. Algo estava acontecendo naquela casa, algo maior do que ela podia entender, e ela precisava saber o que era.Movendo-se silenciosamente, Laura desceu atrás de Lucas, mantendo distância suficiente para não ser notada. Quando chegou perto do escritório, viu a porta entreaberta e o som abafado de vozes exaltadas.— O que está fazendo com isso? — Lucas perguntava, a voz grave e carregada de frustração.— Isso? — Vanessa respondeu, com um tom de ironia cortante. — Estou tentando entender como você deixou isso aqui, tão à vista. — A palavra "isso" foi acompanhada de um som de
O amanhecer trouxe uma mistura de alívio e peso ao coração de Laura. Ela havia passado a noite inteira acordada, revendo sua decisão. Era o melhor a ser feito. A tensão naquela casa não era mais sustentável, e sua família precisava dela.Ela respirou fundo ao descer as escadas. O silêncio ainda pairava pela mansão, mas ela sabia que, em breve, todos estariam acordados. O café seria servido, as crianças correriam pela casa, e, naquele momento, ela precisaria se despedir.Ao entrar na cozinha, encontrou Maria já ocupada preparando o café. A governanta ergueu os olhos e sorriu de leve, mas sua expressão logo mudou ao perceber a bolsa pequena ao lado de Laura.— Você vai embora? — perguntou Maria, baixando o tom de voz.Laura assentiu, tentando sorrir.— Sim. Chegou a hora.Maria suspirou, enxugando as mãos no avental.— Vou sentir sua falta, Laura. Mas você sabe o que é melhor para você.Laura queria responder, mas foi interrompida por passos apressados no corredor. Shofia entrou na cozi
Laura colocou a última peça de roupa de volta no armário, respirando fundo para acalmar a tempestade de emoções que sentia. O reencontro com as crianças havia sido avassalador, mas ela sabia que ainda tinha muito o que resolver. Ao fechar a pequena bolsa, um som inesperado a trouxe de volta ao momento.Toque, toque, toque.A batida na porta a fez gelar por um segundo. Assim que abriu, Lucas estava ali, imponente como sempre, mas com um olhar que misturava seriedade e algo mais que ela não conseguia decifrar.— Laura, precisamos conversar.Ela assentiu, dando um passo para o lado para que ele entrasse. Lucas caminhou até o centro do quarto, as mãos nos bolsos, enquanto Laura encostava a porta.— Eu sei que você está passando por um momento difícil — começou ele, a voz baixa, mas carregada de intenção. — Mas preciso entender exatamente o que está acontecendo.Laura respirou fundo, tentando organizar os pensamentos.— Sr., eu não estava planejando contar isso, mas minha mãe... — Sua voz
— Chegamos, senhorita Laura. — A voz calma do motorista cortou o silêncio.Laura olhou pela janela, respirando fundo ao reconhecer a casa simples onde cresceu. As luzes da sala estavam acesas, lançando sombras familiares pelas cortinas gastas. Ela agradeceu ao motorista e desceu do carro, sentindo o coração pesado enquanto atravessava o portão enferrujado.No banco da frente, o motorista observava, mas não disse nada. Ele sabia que aquela visita tinha um peso maior do que aparentava.— Laura! — A voz de Davi, seu irmão mais novo, ecoou quando ele a viu na porta. — Você está aqui!Ele correu para abraçá-la, e Laura retribuiu com força, percebendo como ele estava magro.— Como estão as coisas, Davi? E a mamãe? — perguntou ela, olhando além dele para o corredor que levava ao quarto da mãe.Davi hesitou, mas finalmente respondeu:— Não muito bem. Os remédios estão acabando, e o médico disse que ela precisa de cuidados constantes.O peso das palavras caiu sobre Laura como uma avalanche. El