Mundo de ficçãoIniciar sessãoA mesa de café da manhã parecia saída de uma revista de luxo: croissants dourados, frutas perfeitamente cortadas, sucos frescos em jarros de vidro. Mas Elena mal conseguia prestar atenção em qualquer coisa além da frase que Dominic dissera mais cedo:
“Precisamos rever alguns termos do contrato.” Durante toda a refeição, Dominic manteve o filho no colo, o que já era incomum. Liam beliscava pedacinhos de morango enquanto se equilibrava contra o peito do pai, completamente confortável — outra raridade. Isabella lançava olhares suspeitos para Elena, como se a estudasse. Anthony, sentado do outro lado da mesa, parecia se divertir com a cena. — Então é você a babá milagrosa que fez o pequeno Liam sorrir — ele disse, com um sorriso fácil. — Dominic falou disso como se fosse… sei lá, um evento histórico. Dominic estreitou os olhos. — Porque foi. Você não viu o estado do meu filho nos últimos meses. Anthony ergueu as mãos em rendição. — Tudo bem, tudo bem. Só estou dizendo que… estou impressionado. Elena sorriu educadamente, mas suas mãos permaneciam tensas sobre o colo. — A Elena é excelente — Isabella completou, de maneira sincera, apesar do olhar atento. — Não poderíamos ter contratado alguém melhor. Dominic não disse nada, apenas passou o polegar suavemente pela testa de Liam, tirando um fiozinho de cabelo. A ternura daquele gesto contrastava com sua postura rígida e seu terno impecável. Quando o café terminou, Isabella levou Liam ao jardim para brincar um pouco, e Anthony se despediu para uma reunião externa. Elena ficou sozinha com Dominic. O silêncio que se instalou entre eles fez o ar da sala parecer pesado. Dominic levantou-se da mesa e ajeitou a gravata com movimentos precisos, mas Elena percebia a tensão em seus ombros. Ele não era o tipo de homem que pedia ajuda. Nem o tipo de homem que admitia vulnerabilidade. E, ainda assim, estava prestes a discutir mudanças no contrato por causa dela. — Venha comigo — ele disse, finalmente. Elena o seguiu até o escritório. As portas de vidro fumê se fecharam atrás deles com um clique suave, isolando completamente o ambiente. O cômodo era amplo, com paredes revestidas de madeira escura, uma estante repleta de livros e uma vista panorâmica da piscina. — Sente-se — Dominic pediu, apontando para a poltrona diante da mesa. Elena obedeceu, tentando manter a postura firme, mesmo enquanto o coração martelava em seu peito. Dominic contornou a mesa e sentou-se no lado oposto, mas não parecia confortável em manter a distância. Então se levantou de novo e caminhou até ficar à frente dela, apoiando-se na borda da mesa, braços cruzados — observando-a de cima. Aquela posição, aquele olhar… o ar parecia vibrar. — Eu tenho algumas coisas a esclarecer — ele começou. Elena assentiu, esperando. — Primeiro: o que você fez hoje com o Liam… foi extraordinário. — Ele dizia cada palavra com uma gravidade que a fazia se arrepiar. — E eu não estou acostumado a me surpreender. Elena abriu a boca para falar, mas Dominic ergueu a mão. — Segundo: eu quero que você continue aqui. Por mais tempo do que o contrato inicial previa. Ela engoliu seco. — Por quanto tempo? — O tempo que for necessário para meu filho voltar completamente a si — ele respondeu. — E isso pode levar semanas… ou meses. Dominic respirou fundo antes de continuar: — E terceiro… eu quero ajustar sua remuneração. Você está fazendo um trabalho que vale mais do que estamos pagando. Elena franziu a testa. — Senhor Valenti, não é sobre dinheiro. Eu só quero ajudar Liam. Dominic inclinou-se um pouco, seu olhar se estreitando. — Tudo é sobre dinheiro, Elena. Tudo. — Ele fez uma pausa. — Exceto ele. O ar nos pulmões dela pareceu rarefeito. Dominic virou-se, abriu uma gaveta e tirou uma pasta preta — semelhante à que Elena recebera no primeiro dia. Mas essa era mais espessa, com páginas marcadas por clipes e abas. — Este é o aditivo contratual — ele explicou. — Isabella preparou. Mas eu quero revisar alguns pontos diretamente com você. Ele colocou a pasta na mesa e a abriu diante dela. Elena respirou fundo e forçou a si mesma a se concentrar no que realmente importava: a segurança do menino. — O que muda? — ela perguntou. Dominic se posicionou ao lado dela, inclinando-se para apontar cláusulas específicas. A proximidade era desconcertante. Elena podia sentir o cheiro dele — fresco, amadeirado, quase perigoso. — Aqui — ele disse, tocando o papel. — A cláusula de permanência mínima. Antes, eram sessenta dias. Eu quero aumentar para noventa. Elena leu a linha. — Isso não é um problema. — Também aumentei o valor da multa rescisória — ele acrescentou, olhando-a de relance. — Porque eu quero garantir que você fique. A sinceridade crua — quase possessiva — na voz dele pegou Elena desprevenida. — Senhor Valenti… eu não pretendo ir embora. Não precisa— — Preciso, sim. — Ele a interrompeu. — Porque eu já perdi pessoas demais. Era a primeira vez que Dominic falava algo tão pessoal. Elena não sabia o que dizer. Apenas manteve os olhos fixos nos dele. Ele respirou devagar, voltando ao tom prático. — Aqui, outra cláusula. — Ele apontou. — A que determina seus horários. Quero ampliar sua autonomia com Liam. Você escolhe a rotina diária. Eu não interfiro. Elena arregalou os olhos. — Mas… o senhor interferiu diversas vezes. Um canto da boca dele subiu num quase-sorriso. — Exatamente. E isso está atrapalhando. Você sabe o que está fazendo. Eu não. Era difícil conciliar aquelas palavras com o homem poderoso à sua frente. Dominic raramente admitia falhas. E agora… estava entregando parte do controle a ela. — E por fim — ele disse, o tom baixando perceptivelmente — tem esta cláusula. Elena olhou para a última linha destacada: “Contato direto e prioritário com o empregador para tomadas de decisão relacionadas ao bem-estar da criança.” Ela levantou os olhos. — Isso significa que… só eu posso te chamar quando for algo sobre Liam? — Exatamente. — Dominic cruzou os braços. — Você fala comigo. Apenas comigo. Não com Isabella. Não com Anthony. Não com médicos da equipe antes de falar comigo. Eu quero estar envolvido em cada detalhe. Era mais do que envolvimento. Era… controle. Ou talvez… necessidade. — Isso não te parece um pouco… excessivo? — Elena perguntou, mantendo a voz firme. Dominic aproximou-se um passo. Depois outro. Agora estava perto o bastante para que Elena pudesse ver a cor exata dos olhos dele: um castanho profundo, quase âmbar. — Nada é excessivo quando se trata do meu filho — ele respondeu. Uma pausa. Então ele completou, mais baixo: — E nada é excessivo quando se trata de você estar aqui. O coração dela bateu forte demais. Por alguns segundos, nenhum dos dois falou. Então Dominic estendeu uma caneta. — Assine, Elena. Ela hesitou. Não por medo. Mas porque sabia que, ao assinar aquele contrato, não estaria assumindo apenas um compromisso profissional. Estaria entrando definitivamente no mundo de Dominic Valenti. E naquele mundo, nada acontecia sem consequências. Ela segurou a caneta. E assinou. Dominic observou cada movimento — olhos fixos, postura imóvel, como se gravasse o momento na memória. Quando Elena devolveu a caneta, a mão dele tocou a dela por um instante. Uma faísca percorreu seu corpo inteiro. Dominic não recuou. Não disfarçou. Apenas deixou o contato durar um segundo a mais do que o profissional permitiria. — Bem-vinda oficialmente à minha casa, Elena — ele disse, a voz baixa, intensa. — Agora… você é indispensável. Elena não soube como responder. Mas uma coisa era certa: O contrato estava assinado. E nada seria como antes.






