5. A Mãe do Oliver

Acordo com o despertador às 6h20.

Zero vontade de levantar, mas o medo de ser expulsa no segundo dia é maior que o cansaço.

— Sobrevivi ao primeiro dia — murmuro, sentando na cama e até sorrindo. — Isso merece um troféu. Ou pelo menos um café decente.

Levanto, vou até o banheiro e, enquanto escovo os dentes, fico pensando em como vou me comportar quando encontrar Lucas de novo.

Será que ele vai fingir que nada aconteceu? Provavelmente.

Homens como ele não perdem o sono por causa de babás invasoras de cozinha.

— Relaxa, Ivy — digo para o espelho, ajeitando o uniforme. — Se hoje for como ontem, você nem vai cruzar com ele.

Afinal, meu chefe aparentemente não pisa em casa. Para a minha alegria.

Caminho até o quarto de Oliver e bato antes de entrar.

Ele está sentado no chão, ainda de pijama, brincando com um foguete prateado que parece ter saído direto da SpaceX.

— Bom dia, Oliver — digo, me abaixando ao lado dele. — Pronto para começar o dia?

Ele me olha com a maior cara de sono do planeta e assente devagar.

— Olha, meu foguete vai até Marte hoje!

— Que legal! Mas antes de ir pra Marte, que tal um café? — pergunto, estendendo a mão. — Astronautas precisam de energia.

Para minha surpresa, ele aceita sem uma única reclamação. Talvez o sono deixe as crianças mais cooperativas.

Anotado.

Ajudo Oliver a trocar de roupa, a escovar os dentes e, minutos depois, descemos para o café da manhã.

Só que, quando entramos na sala de jantar, meu estômago dá um nó e meu rosto esquenta na hora. Lucas está sentado à mesa, impecável, tomando café enquanto lê algo no tablet.

Cabelo perfeitamente penteado, barba aparada, postura reta… Nada que lembre o homem sem camisa de ontem.

— Bom dia, Sr. Sinclair — digo, forçando meu tom mais profissional do mundo.

Ele levanta os olhos e me encara por um segundo antes de acenar com a cabeça. Depois, puxa o filho para um abraço.

— Bom dia, filho.

— Bom dia, papai! — Oliver responde animado, subindo na cadeira ao lado dele.

Me sento, fingindo uma normalidade que definitivamente não sinto, focada em servir o suco de laranja como se fosse a tarefa mais complexa do mundo.

Lucas continua olhando o tablet, completamente indiferente à minha existência. Como se ontem não tivesse segurado minha cintura. Como se não tivesse me olhado daquele jeito.

Perfeito. Era exatamente isso que eu queria.

Mentira. Mas vamos fingir que sim.

O café da manhã segue naquele silêncio constrangedor até Lucas se levantar, pegar o tablet e se despedir do filho com um beijo na testa.

— Até mais tarde, campeão. Comporte-se.

— Tchau, papai!

Ele passa por mim sem dizer uma única palavra, e finalmente solto o ar que nem percebi que estava prendendo.

— Pronto — sussurro para mim mesma. — Dia dois, terceiro round: sobrevivido.

Após alguns minutos, depois de um café surpreendentemente civilizado, Oliver dispara para a sala de brinquedos.

E assim a manhã começa.

Pouco antes do almoço, a Sra. Mallory aparece na porta e anuncia que a professora de francês chegou.

— ODEIO FRANCÊS!

Oliver grita, tenta fugir, mas a professora o captura, com a habilidade de alguém que claramente já lida com ele há muito tempo, e o arrasta direto para a biblioteca.

Finalmente. Uma hora de paz.

Subo quase correndo para o meu quarto, fecho a porta e pego o celular com as mãos trêmulas.

Disco o número da minha antiga vizinha, que atende no terceiro toque.

— Ivy, querida! Como você está?

— Oi, Sra. Lawson — respondo, sentando na cama. — Está tudo bem aí? A casa está… tudo certo?

— Sim, tudo intacto. Passei lá ontem para regar as plantas da sua mãe.

Respiro fundo, sentindo o coração bater forte demais.

— E… ele apareceu? Nos últimos dias… alguém apareceu procurando por mim?

Silêncio.

— Não, Ivy. Ninguém apareceu.

O chão some.

Desligo e deixo o celular cair no colchão. As lágrimas escorrem sem pedir permissão, e eu cubro o rosto com as mãos para abafar os soluços.

Mais um dia sem notícias.

Mais um dia sem a menor ideia de onde ele possa estar.

Não sei quanto tempo fico assim, chorando baixinho, mas sou obrigada a me levantar quando ouço o berro inconfundível de Oliver no andar de baixo.

A aula de francês acabou. A paz também.

Corro até o banheiro, lavo o rosto e desço rápido.

Encontro o furacão mirim na sala de estar, resmungando enquanto arremessa os sapatos da professora contra a porta.

— EU NÃO QUERO FALAR FRANCÊS! QUERO IR PRA LUA!

A professora solta um suspiro aliviado quando me vê, pega os sapatos na velocidade da luz e praticamente foge da casa.

— Tô com fome! — ele grita, disparando para a cozinha.

Sigo atrás dele, rezando para que o almoço hoje não seja outro episódio de guerra intergaláctica.

Quando chegamos à sala de jantar, o prato dele já está servido: macarrão com molho de tomate e almôndegas em formato de estrelas.

Claro. Tudo para agradar o pequeno tirano espacial.

— Macarrão interestelar! — Ele comemora, correndo até o prato.

Solto um suspiro de alívio e me sento ao lado dele.

Ele come três almôndegas e meia antes de congelar com o garfo no ar, ao ouvir o som ritmado de saltos ecoando no corredor. Seus olhos se arregalam.

— BLAIR! — ele grita, derrubando o garfo e pulando da cadeira.

Blair?

A mesma do telefonema de ontem?

Viro a cabeça tão rápido que quase quebro o pescoço.

Ela entra na sala como se estivesse num editorial de moda: vestido branco justo, salto agulha, cabelo loiro perfeitamente ondulado, óculos escuros caros enfeitando a cabeça.

Oliver corre até ela e se j**a nos braços da mulher, que definitivamente é a mesma da foto.

Mas… quem é ela exatamente?

— Blair, estou comendo almôndegas de estrelas! — ele exclama, pendurado no pescoço dela.

— Ah, que fofo! — ela diz, abraçando-o por dois segundos antes de afastá-lo com jeitinho. — Chega, querido. Você está amassando meu vestido. E suas mãos estão sujas.

Ele ignora totalmente e começa a falar rapidamente sobre tudo o que quer mostrar para ela. Blair finge ouvir.

Então, seus olhos finalmente se fixam em mim.

Lentamente, ela me analisa de cima a baixo, como quem examina um inseto no microscópio.

— Vejo que o Lucas conseguiu outra babá — ela comenta, com um sorriso frio. — Uma bem… jovenzinha dessa vez.

Engulo em seco, me levanto e estendo a mão, mostrando toda a minha educação.

— Ivy Collins. Prazer em conhecê-la.

Ela olha para a minha mão como se eu tivesse oferecido um pedaço de lixo radioativo. Depois finge ajeitar os óculos na cabeça, ignorando o cumprimento.

— Sou Blair Sinclair — ela diz, com um sorriso que não chega aos olhos.

Sinclair? Será outra irmã do Lucas?

E então, como se estivesse lendo meus pensamentos e decidisse piorá-los…

— Sou a mãe do Oliver — ela completa, inclinando a cabeça antes de soltar a bomba. — E a esposa do Lucas.

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