6. Famosa Por Invasão

Continuo parada, congelada, sentindo o chão desaparecer sob meus pés.

Esposa.

Blair é a esposa dele.

Lucas é casado.

As palavras ecoam na minha cabeça enquanto tento, inutilmente, processar tudo.

Tento lembrar se em algum momento vi uma aliança na mão dele, mas minha memória só reproduz o peitoral definido, a pele úmida, os olhos verdes me encarando…

Perfeito. Eu estava admirando um homem casado. Excelente, Ivy. Nota dez.

— Que cara de espanto é essa, querida? — Ela pergunta, cruzando os braços com uma elegância treinada no espelho. — Achou que o Oliver não tinha mãe? Ou que o Lucas era viúvo?

Ela solta uma risada curta, debochada.

— Meu Deus, em que mundo você vive? — continua, balançando a cabeça. — Está agindo como se nunca tivesse ouvido falar de mim.

Engulo em seco, tentando manter alguma dignidade enquanto meu rosto esquenta perigosamente.

A verdade? Eu realmente nunca ouvi falar dela. Nem dela, nem do Lucas, nem do sobrenome Sinclair.

Até três dias atrás, minha vida era hospital, mercadinho, contas atrasadas e manter meu irmão longe dessa confusão.

Celebridades de Manhattan, CEOs bilionários e mansões com golfinhos de mármore não estavam exatamente no meu pacote básico de referências.

Mas, obviamente, não posso dizer isso.

— Desculpe, Sra. Sinclair — digo finalmente, arrancando do fundo da alma um sorriso educado que dói até no maxilar. — Só fiquei… surpresa em conhecê-la pessoalmente.

Blair estreita os olhos, me analisando como se eu fosse algum tipo de objeto fora do lugar na decoração dela. Depois dá de ombros, como se eu valesse meio centavo de atenção.

— Bem, agora estou de volta — ela declara, ajeitando a bolsa no ombro. — E espero que cuide bem do meu filho enquanto durar aqui. Afinal, é para isso que está sendo paga, não é?

— Sim, senhora.

— Ótimo — ela responde, pegando os óculos escuros na cabeça e colocando-os no rosto… dentro de casa. Claro. — Preciso de um longo banho. Estou com cheiro de avião.

Ela vira as costas, encerrando o assunto. Oliver, que tinha voltado a comer, solta o garfo com um estrondo e corre atrás dela.

— Blair! Blair, espera! — ele grita, estendendo os braços. — Você vai brincar comigo agora?

Ela para na porta, vira só um pouquinho a cabeça, mas não o encara de verdade.

— Estou muito cansada, querido. A gente brinca depois.

— Mas você acabou de chegar! — ele insiste, tentando pegar a mão dela.

— Oliver, não seja dramático — ela diz, afastando a mão dele como quem espanta um mosquito. — Brinque com a sua nova babá e me deixe descansar.

Então, ela sai sem olhar para trás, sem demonstrar um carinho sequer.

Oliver fica parado no meio da sala com os braços ainda erguidos no ar, como se estivesse esperando que ela voltasse. Mas ela não volta.

A mudança no rosto dele é instantânea. Os ombros caem, e o brilho nos olhos simplesmente apaga.

Meu coração aperta porque… conheço esse olhar. É o mesmo que Liam fazia quando minha mãe precisava voltar para o hospital e ele fingia ser forte.

— Oliver… — começo, me abaixando ao lado dele.

Ele corre até a mesa e empurra o prato com tanta força que a comida voa para o chão.

— EU ODEIO ALMÔNDEGAS! — ele berra, chutando a cadeira. — ODEIO TUDO!

E a partir daí… o apocalipse infantil.

O resto do dia vira um festival de gritos e birras.

Ele se recusa a fazer a lição, j**a os lápis pela janela, declara que astronautas não precisam saber matemática e, quando tento explicar que a NASA pensa diferente, ele responde gritando que a NASA é chata.

Na hora do lanche, ele derrama suco de uva no tapete persa. De propósito, claro.

No banho, ele transforma o banheiro numa piscina de espuma digna de festa rave.

E na hora de dormir, ele cruza os braços, sobe na cama e grita:

— NÃO VOU DORMIR! NUNCA MAIS VOU DORMIR!

Perfeito. Só alegria.

Levo quase duas horas convencendo o pequeno terror espacial de que até astronautas precisam dormir para ter energia nas missões. Quando ele finalmente apaga, já passa das 22h.

Saio do quarto arrastando os pés, parecendo uma sobrevivente de guerra.

Entro no meu quarto, tiro o uniforme e praticamente desabo na cama, ainda de calcinha e sutiã, sem forças nem para pensar em banho.

— Sobrevivi — murmuro, fechando os olhos. — Não sei como, mas sobrevivi.

O sono vem rápido… mas não dura. Meu celular vibra na mesinha.

Tiffany.

Atendo, fechando os olhos novamente.

— Oi, Tiff…

— IVY! — Ela grita como se estivesse me chamando do outro lado da cidade. — Como você tá? Sobrevivendo?

— Mal — murmuro, virando de lado. — Acho que vou morrer antes desses sete dias acabarem.

— Bem, queria te dizer que você virou assunto pela empresa depois que saiu, sabia?

Franzo a testa, abrindo os olhos.

— Como assim?

— Souberam o que você aprontou! — ela continua, animada demais para alguém às 23h. — Depois que o Sr. Sinclair demitiu toda a equipe de segurança, foi impossível não descobrir que uma mulher invadiu a sala dele!

— Ele demitiu… a segurança inteira? — pergunto, sem acreditar no que ouvi.

— Todinha! Por incompetência! — Tiffany gargalha. — Ivy, você é lendária. Ninguém invade a Sinclair Industries. Ninguém!

— Que ótimo — murmuro, esfregando o rosto. — Agora sou famosa por invasão.

Conversamos mais um pouco, até meu cérebro começar a desligar sozinho. Me despeço dela, deixo o celular cair ao lado do travesseiro e fecho os olhos.

Durmo de novo, mas não por muito tempo.

Meu sono é leve. Qualquer coisa me acorda.

Olho o relógio: 22h57.

E ouço de novo os passos rápidos que me acordaram. Dessa vez, vindo direto na direção do meu quarto.

Meu coração dispara. Sento na cama, puxando o lençol até o peito quando os passos param.

Bem na frente da minha porta.

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