EDUARDO
O saguão da delegacia parecia mais frio naquela manhã. Não era o ar-condicionado. Era o clima. O peso invisível de estar do lado errado da verdade, ainda que inocente.
Assinei a intimação com a mesma mão que tremia de raiva contida. Meus dedos pressionavam a caneta com tanta força que a tinta falhou. Ao meu lado, Sofia apertava minha mão. Forte. Firme. Como se dissesse sem uma palavra: não solta agora, por favor. E eu não soltei. Porque se soltasse, não seria só da mão dela. Seria de mim mesmo.
O ranger metálico da porta se abrindo me trouxe de volta. Um agente da Polícia Federal — engravatado, impassível — me fez sinal com a cabeça. Fui conduzido por um corredor estreito, os passos ecoando como marteladas na minha consciência. O cheiro do lugar, uma mistura de café queimado, papel velho e medo, grudava na pele.
Na sala, dois agentes da Delegacia de Crimes Financeiros me esperavam. Um deles já tinha os cotovelos sobre a mesa, como se esse fosse apenas mais um dia comum para el