Mundo de ficçãoIniciar sessãoPOV: HENRY
Um segundo foi o suficiente para ele desaparecer. Ao longe, ouvi seus gritos. O som de sua voz em pânico clamando por mim fez meu peito apertar e minha respiração descompassar.
— Socorro, tio Henry, por favor! — Theodor gritava, a voz cheia de desespero. — Ela vai morrer!
— Theodor! — Eu gritei em resposta, meu coração disparado. Um frio percorreu minha espinha, e senti o suor escorrer pela testa enquanto corria pelo cemitério, ignorando qualquer coisa ao meu redor. Segui sua voz até alcançar o lago.
Lá estava ele, parado na beira da água, apontando freneticamente para algo que eu ainda não conseguia ver.
— Você precisa salvá-la! — ele gritava, a voz trêmula, os olhos arregalados e cheios de lágrimas.
Me aproximei rapidamente, franzindo o cenho ao ouvir suas palavras.
— Do que está falando, Theodor? Quem? — perguntei, tentando entender enquanto minha respiração estava pesada pela corrida.
— A fada está se afogando! — ele gritou, sua ingenuidade transparecendo no tom urgente.
Parei por um momento, confuso.
— A fada? — Eu repeti, olhando para ele com descrença. — Que brincadeira é essa, Theo?
Minha voz soava mais irritada do que deveria. Eu olhei para ele de cima a baixo, tentando verificar se ele estava bem. Parte de mim acreditava que era mais uma de suas tentativas de chamar atenção.
— Lá, olha! — ele gritou insistente, e meus olhos seguiram na direção que ele indicava. Uma mulher estava na água, se debatendo desesperadamente, claramente se afogando.
— Droga! — Eu exclamei, arrancando os sapatos enquanto olhava rapidamente para Theo. — Não saia daí, entendeu?
Sem esperar resposta, saltei para dentro da água gelada. A corrente era mais forte do que parecia, e a mulher já estava quase desacordada. Nadei com força, segurando-a nos braços. Quando tentei puxá-la, percebi que algo estava prendendo seu pé.
Mergulhei, enxergando que uma alga grossa estava enroscada. Puxei com toda a força, soltando-a por fim, e consegui arrastá-la para fora da água, minha respiração ofegante enquanto a colocava no chão. Ela estava desacordada.
— Ei! — chamei, dando leves t***s em seu rosto na tentativa de despertá-la. — Vamos acorde, você está bem?
Após alguns segundos, ela tossiu forte, virando o rosto e expelindo a água dos pulmões antes de me empurrar levemente. Soltei um suspiro longo, me sentando ao lado dela, exausto.
— Viu, tio Henry? Eu disse que ela precisava de ajuda! — Falou Theodor, aproximando-se com olhos arregalados. Ele tocou os cabelos molhados da mulher com cuidado, a preocupação clara em sua expressão. — Fada, você está bem?
— Fada? — Eu questionei em voz alta, franzindo o cenho enquanto olhava para ele.
A mulher virou o rosto lentamente, seus olhos encontrando os meus. Por um momento, o tempo pareceu congelar.
Antes que eu pudesse reagir, Theodor correu em direção à mulher, envolvendo seu pescoço em um abraço tão apertado que quase me deixou sem palavras. Aquilo foi um choque. Desde que perdeu os pais, Theo não demonstrava esse tipo de afeto por ninguém, nem mesmo por mim.
Os soluços altos e descontrolados dele ecoaram, quebrando o silêncio que pairava no local. A mulher, ainda molhada e visivelmente exausta, retribuiu o abraço com um cuidado que parecia natural, como se soubesse exatamente como lidar com a dor de uma criança.
— Ei, pequeno, está tudo bem agora. — ela murmurou, sua voz baixa e tranquila enquanto acariciava os cabelos de Theo.
Depois de alguns instantes, ela o afastou suavemente, segurando seu rosto com as mãos e enxugando as lágrimas que escorriam de seus olhos. Seu sorriso era calmo, quase reconfortante, como se não tivesse acabado de sair de uma situação de quase morte.
— Olha o que eu trouxe para você — disse ela, ainda com aquele tom gentil, enquanto erguia a corrente com a bússola.
Theo arregalou os olhos, sua expressão mudando completamente. Ele pegou a corrente como se fosse um objeto sagrado, segurando-a com ambas as mãos. Seus olhos, que estavam cheios de dor há tanto tempo, agora brilhavam com uma felicidade que eu não via há meses.
— Você cumpriu a promessa? — ele perguntou, sua voz ainda embargada, mas cheia de esperança.
— Eu sempre cumpro minhas promessas. — respondeu ela, sorrindo enquanto ajustava a corrente no pescoço dele.
Reconheci o colar imediatamente. Endureci minha postura e me virei para Theo, franzindo o cenho. Levantei-me de uma vez, limpando a garganta com força para chamar a atenção dos dois.
— Theodor, eu não acredito que você colocou um estranho em perigo por causa de um colar. Você tem ideia do que fez? — Meu tom era severo, cortante. Theo encolheu os ombros, evitando me encarar. — Ela poderia ter morrido por isso. Foi irresponsável, imprudente, e...
Antes que eu pudesse terminar, a mulher misteriosa do lago se levantou com um movimento decidido. Colocou as mãos no quadril, o olhar firme e desafiador, sua expressão claramente irritada.
— Ei, não brigue com ele! — Ela retrucou, puxando Theo para seus braços com um gesto protetor que me pegou de surpresa. — Fui eu que quis procurar o colar no lago. Além do mais, sou uma ótima nadadora.
"Que tipo de ideia idiota é essa de pular em um rio por um colar?" Eu pensei arqueando uma sobrancelha.
— E que tipo de irresponsável deixa uma criança sozinha perto de um lago? — Disse ela furiosa, a acusação foi direta, cortante. — Ele poderia ter se afogado no meu lugar! — Ela não esperou minha resposta, continuando com o tom autoritário que eu não esperava. — Cuide melhor do seu filho de agora em diante.
Ela voltou a atenção para Theo, como se eu não estivesse ali.
— E você, não saia por aí correndo sozinho novamente, ok? Preciso ir agora, mas se cuida, está bem?
Ela se despediu de Theo com um sorriso gentil, ainda ignorando completamente a minha presença. Quando começou a se afastar, meu sobrinho correu atrás dela e a abraçou pelo quadril. Ela se abaixou, afagou seus cabelos e depositou um beijo no topo de sua cabeça antes de finalmente partir.
Observei a cena em silêncio, tentando processar o que acabara de acontecer. Theo, que mal conseguia olhar para mim sem mágoa, agora exibia um sorriso. A emoção que ele demonstrava, o conforto que encontrava naquela mulher, era algo que me desarmava. Era algo que eu não sabia como oferecer.
Embora a cena tivesse algo de reconfortante, um incômodo crescia em meu peito. Quem era ela para simplesmente dar uma bronca em mim e agir como se tivesse algum tipo de autoridade? Abri a boca para esclarecer que Theo não era meu filho, mas sim meu sobrinho, e que ele havia fugido do meu lado em um momento de distração. Contudo, antes que eu pudesse dizer uma palavra, ela simplesmente se virou e foi embora, como se eu fosse irrelevante. Como se ela pudesse ignorar um homem como eu.
Ela não fazia ideia de quem eu era? Ou simplesmente não se importava?
Theo permaneceu parado, os olhos fixos na direção em que ela havia desaparecido. O brilho nos olhos dele era diferente. Desde que Finn e Emma partiram, ele se fechou para o mundo. Essa foi a primeira vez que vi meu sobrinho se abrir para alguém.
— Essa mulher...







