10 – A QUEDA DO LAR

POV: LAUREN

A água ainda escorria pelo meu cabelo e pelas roupas pingando ao chão deixando um rastro molhado enquanto eu caminhava para os portões da mansão da minha família. Franzir o cenho ao perceber um caminhão de mudança estacionado na entrada principal, e vários homens carregavam móveis, quadros e caixas para dentro do veículo como se fossem meros objetos descartáveis. Meu peito apertou enquanto corria em direção a um dos homens, que carregava o antigo relógio de parede que meu pai tanto amava.

— O que está acontecendo aqui? Quem autorizou isso? — Minha voz saiu mais alta do que eu esperava, carregada de desespero.

— Senhora, por favor, mantenha a calma. — O homem disse, desviando o olhar e apressando o passo em direção ao caminhão.

Não aceitei a resposta vaga e corri para barrar o próximo carregador, segurando o braço dele com força.

— Essas coisas pertencem ao meu pai! — Eu gritei nervosa. — Vocês não podem simplesmente entrar na nossa casa e levar tudo assim!

Um homem engravatado, de terno impecável e óculos grossos, se aproximou lentamente, segurando uma prancheta em mãos. Ele ajustou os óculos antes de me encarar com um olhar frio e indiferente.

— Senhorita Lauren Becker, suponho? — Ele perguntou com uma frieza que me fez estremecer.

— Sim, sou eu! — Respondi, cruzando os braços na tentativa de esconder o tremor. — Agora, pode me explicar o que está acontecendo aqui?

— Meu nome é Daniel Martins, sou inspetor do Banco Central. — Ele começou, com um tom seco e profissional. — Seu pai adquiriu empréstimos para tentar salvar a empresa e, infelizmente, não conseguiu honrar os pagamentos. Este imóvel, assim como os bens listados, foram oferecidos como garantia nos contratos. Estamos aqui para cumprir o procedimento de recuperação de ativos.

Meu coração apertou.

— Garantia? — Eu repeti, quase sem voz. — Isso aqui é a nossa casa! Tudo o que está aqui pertence à minha família!

Ele retirou um papel da prancheta e o estendeu para mim.

— Aqui está o detalhamento da dívida. Como pode ver, o valor é substancial.

Tomei o papel com as mãos trêmulas. Meus olhos correram pelas linhas, mas parecia impossível entender os números. O valor era assustador, algo que nunca conseguiríamos pagar.

— Meu pai fez tudo o que estava ao seu alcance para salvar a empresa. — Minha voz vacilou, embargada pelo nó que apertava minha garganta. — E agora vocês querem levar tudo o que ele dedicou a vida inteira para construir?

— Não apenas levar, senhorita. — O inspetor continuou, sem demonstrar qualquer empatia com um sorriso cruel no rosto. — O imóvel será leiloado para cobrir parte da dívida. O restante deverá ser quitado pela família.

Minhas pernas quase cederam. A ideia de perder a casa, o lugar onde cresci, onde meu pai construiu um legado, tudo aquilo era demais.

— Isso não pode ser real. — Sussurrei para mim mesma.

O inspetor pareceu ignorar meu desespero e fez um sinal para que os homens continuassem o trabalho.

Meu telefone vibrou no bolso, me tirando daquele momento surreal. Era uma mensagem de Kate: "Sua mãe está bem. Troque de roupa e venha ao hospital. Precisamos conversar."

Eu precisava sair dali, mas não sabia para onde ir ou o que fazer. Entrei na casa pela última vez. Os corredores pareciam vazios, embora algumas coisas ainda estivessem no lugar. Cada canto carregava uma memória, mas agora tudo seria tomado.

Corri para o quarto, troquei a roupa molhada por algo seco e fiz o caminho para o hospital.

Cheguei ao hospital exausta, mordendo os lábios, sabia que precisaria contar a minha mãe o que estava acontecendo, precisávamos saber como lidar com tudo. Mas como dizer a ela que além de acabar de perder o marido, estávamos prestes a perder tudo? A casa, os móveis, nossas memórias estavam sendo arrancados de nós? Soltei um suspiro frustrado, e antes mesmo de chegar ao seu quarto indicado pela enfermeira, o médico que a atendeu me chamou para conversar.

— Sra. Becker, como informei a sua amiga, a saúde da sua mãe é delicada. Qualquer estresse ou choque pode ser extremamente perigoso agora. — Explicou o médico de forma profissional. — Seja uma boa filha e a proteja de qualquer notícia que possa preocupá-la.

Eu assenti, sentindo um aperto no peito.

— A manteremos em observação por mais alguns dias. — Completou o Doutor.

— Lauren, o que está acontecendo? — Kate perguntou pela terceira vez desde que saímos do hospital. Ela estava dirigindo em silêncio por alguns minutos, mas claramente não aguentava mais.

— Nada, Kate. Eu já disse que está tudo sob controle. — Eu respondi, olhando pela janela, tentando esconder o tremor na minha voz.

— Você é a pior mentirosa que eu conheço. — Ela bufou, desviando o olhar para mim por um segundo antes de voltar a atenção para a estrada. — Vamos lá, despeje tudo. Estou esperando.

Suspirei, cansada demais para lutar.

— Eles estão tomando a casa, Kate. O banco confiscou tudo. A casa, os móveis... tudo.

O som de um xingamento escapou dos lábios dela. Kate parou o carro bruscamente no acostamento e virou-se para mim.

— Eles o quê? Como isso aconteceu? — Ela questionou surpresa e preocupada.

— Não tem nada que possamos fazer. O banco tomou tudo por causa das dívidas do meu pai. — Eu admiti, sentindo um nó na garganta. — Mas minha mãe não pode saber. O médico disse que qualquer estresse pode piorar a situação dela, não sei o que fazer.

— Ok, aqui está o plano. — Kate cruzou os braços, sua expressão decidida. — Vocês duas vão ficar na minha casa. Não aceito objeções. Eu tenho um quarto de hóspedes, e a sua mãe pode ficar confortável lá.

— Kate, eu não posso fazer isso com você. — Eu tentei argumentar, mas ela levantou a mão, me silenciando.

— Pode, sim. E vai. — Kate ressoou firme, mas havia um toque de carinho. — Amiga, você precisa de um lugar seguro para pensar no próximo passo. E sua mãe precisa de paz. Minha casa é grande o suficiente.

Olhei para ela, sentindo os olhos marejarem.

— Obrigada, Kate. Eu não sei o que faria sem você.

— Provavelmente desabaria no meio da rua. — Ela deu um sorriso leve, tentando quebrar a tensão. — Agora, pare de agradecer e vamos resolver isso juntas.

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