O som do gravador recomeçou. O agente principal ergueu o olhar por cima dos óculos, atento ao menor tremor nas mãos de Karl. Eleanor, sentada ao lado, mantinha os dedos entrelaçados, a aliança girando em um círculo nervoso.
— Senhor Harrington, a senhora Eleanor — começou o agente. — Este é o momento de dizer tudo. Sem omissões. Cada detalhe pode representar a diferença entre prisão e proteção.
Karl respirou fundo. O peso de meses de fuga desabou sobre os ombros. — Eu e minha esposa estávamos fugindo — disse, a voz embargada. — Fugindo de Phillip Collins.
O agente se inclinou, a caneta suspensa no ar. — Fugindo? Por quê?
— Porque ele nos ameaçou — respondeu Eleanor, antes mesmo que Karl pudesse continuar. — Disse que, se abríssemos a boca, mandaria pessoas atrás de nós. Que nossas filhas jamais veriam o amanhecer.
Ela tremia. O lenço no pescoço já não escondia o desespero. Karl pousou a mão sobre a dela, tentando conter o tremor.