Mundo de ficçãoIniciar sessãoDubai
— Nesse mesmo momento, Sabina Hale Marwick girava lentamente diante do espelho dourado do palácio, observando seu reflexo sob três ângulos diferentes. — O vestido azul-celeste que vestia — feito de seda pura e bordado à mão — moldava seu corpo como uma lembrança de seu novo título: quarta esposa do Sheik Hassan Al-Masri, a esposa mais jovem, a mais bela e a favorita entre todas. — Suas pulseiras de ouro tilintavam ao ritmo de seus gestos enquanto ela aplainava a barriga grávida, sorrindo para a própria imagem como se contemplasse a realização de um sonho. —O vasto quarto, iluminado por lustres de cristal e ostentando cortinas pesadas vindas diretamente de Marrocos, parecia girar ao seu redor. —A cama circular, que mais parecia um trono, completava a cena de opulência, com servas a acompanhando silenciosamente, carregando bandejas repletas de frutas, perfumes e joias. Sabina desfrutava desse tratamento com um deleite que à primeira vista poderia parecer superficial, mas que, para ela, era o ápice de uma vida de desejos reprimidos. — Desde a infância, havia alimentado sonhos de grandeza, idealizando a figura de uma princesa em meio ao glamour e à sofisticação. — A cada anel de ouro que adornava suas mãos, sentia-se mais próxima de seu sonho. —Era o que sempre acreditara merecer: ser servida, mimada, adornada com jóias, tratada como uma verdadeira princesa. —Desde que deixara Damian, meses atrás, viver naquele palácio significava a cada dia um reforço de que fizera a escolha certa. — Embora Damian possuísse uma fortuna, somente o sheik a dotava de poder, título e status royal. —Agora, com a gravidez, ela acreditava firmemente que estava prestes a solidificar sua posição, um herdeiro — ou, melhor dizendo, dois. — O sheik costumava dizer com orgulho que a fertilidade dela era uma bênção divina. — As outras esposas, em silêncio, a invejavam, pois nenhuma delas esperava gêmeos. —Com a chegada iminente das crianças, Sabina estava convicta de que seu lugar no palácio se tornaria intocável, contudo, o destino tinha outros planos. —O dia do parto chegou com muita pompa. As esposas mais velhas se uniram em oração, enquanto os criados se movimentavam freneticamente, médicos particulares se posicionaram. —O sheik, sentado em um trono menor em um canto do quarto, aguardava, como se esperasse, um presente vindo do céu. Sabina estava eufórica. — Embora sentisse a dor das contrações, sorria como quem sabe que está a vencer. Até que o primeiro choro ecoou pela sala. — E em seguida, o segundo, no instante em que as duas bebês foram colocadas lado a lado, o ambiente parecia congelar. — Suas peles, claras como porcelana, cabelos tão loiros que lembravam fios de ouro, e olhos azul-cristal que brilhavam como lâminas recém-despertas… nada no mundo — nem o deserto, nem os ancestrais, nem a genética de Hassan — poderia explicar aquilo. O sheik se levantou lentamente. Cada passo ecoava pelo quarto silencioso. — Ele se inclinou sobre os berços, respirando pesadamente, a mão crispada. — Essas crianças… — disse, com a voz arranhada pela incredulidade — não são minhas. Sabina sentiu o pânico se alastrar pelo corpo como um gelo queimando. — Eu achei que eram suas... — mas as palavras ficaram entaladas na garganta. O rugido de Hassan cortou a atmosfera como uma lâmina. — Você se atreveu a me enganar, mulher? — As servas se ajoelharam, e as outras esposas se afastaram apressadamente, uma delas tapando o rosto, aterrorizada. — Sabina tentou se levantar, mas suas pernas, trêmulas, quase a traíram . — Eu não sabia... — murmurou, agora tomada pelo verdadeiro medo. — Eu juro que pensei que eram minhas, mas... palma da mão do sheik golpeou o braço do trono. — O pai é seu ex-noivo — afirmou, como se preferisse uma sentença, devolva-as, agora, Você me expôs ao ridículo... e pagará por isso, a humilhação foi imediata. A princesa de luxo transformou-se em prisioneira. As joias permaneceram, mas o brilho não significava mais nada — tornaram-se algemas adornadas. —As servas a conduziram de volta ao quarto, não com respeito, mas com vigilância. Atrás dela, Hassan proferiu a ordem que mudaria o destino de todos os envolvidos. — Levem essas crianças ao verdadeiro pai. Não quero escândalos, entreguem-nas em sigilo, sem deixar rastros. Antes que o mundo descubra que fui enganado. — E pela primeira vez desde que chegou ao palácio, Sabina Hale Marwick compreendeu: — o luxo não a salvava. — O ouro não a protegia, o título de princesa não tinha valor algum, quando a verdade clamava mais alto do que qualquer joia que pudesse adornar seu corpo.






