####CAPITULO 3

A Entrega —

Yasmin Whitfield estava ajoelhada na calçada fria, reorganizando as flores murchas em seu cesto improvisado.

O vento de Londres cortava como navalha, e mesmo assim ela tentava sorrir para cada pessoa que passava.

Ela vivia disso, da gentileza, do que sobrava no mundo.

Mas naquele momento, algo mudou no ar.

Passos pesados ecoaram atrás dela.

Dois… três… quatro.

Como botas militares cruzando um campo de batalha.

E então uma voz — dura, grave, carregada de um sotaque árabe que parecia acostumado a dar ordens, não a recebê-las.

— Você. Levante-se.

Yasmin virou-se devagar, com o coração já acelerado.

Duas mulheres enormes, vestidas de preto, armadas até os dentes.

Guardas.

Que não pertenciam àquele país.

— P-Posso ajudar? — ela perguntou, a voz quase inaudível.

Uma das guardas não respondeu.

Simplesmente empurrou um embrulho grande, pesado, quente, contra o peito dela.

— Pegue esses bebês e entregue ao dono deste prédio, agora.

Yasmin cambaleou para trás.

— O que é…?

E então viu.

Não era pacote, nem caixa, e nada que pudesse ser explicado.

Eram duas bebês.

Duas meninas minúsculas, embrulhadas em mantas de seda, joias presas aos tornozelos, bochechas coradas pelo frio.

Yasmin perdeu o ar.

— E… eu não posso… — ela gaguejou, sentindo o pânico subir pela garganta. — Eu nem sei quem vocês são. Por favor, isso é algum tipo de engano…

A segunda guarda deu um passo à frente, o olhar letal.

— Não questione. Apenas cumpra. Elas pertencem a ele.

Pertencem.

A palavra soou cruel, errada, assustadora.

A quem?

Quem “possuía” bebês?

Que tipo de gente entregava recém-nascidas como se fossem objetos?

E o mais terrível…

Por que elas estavam tão quietas?

Yasmin apertou as meninas contra o peito, sentindo o corpinho pequeno se mexer e soltar um choramingo fraco. Seu coração despedaçou.

— Meu Deus… — ela sussurrou. — São tão pequenas…

O cesto de flores caiu de sua mão.

As rosas se espalharam pela calçada como gotas de sangue.

Os carros passavam.

Ninguém parava.

Ninguém via.

E Yasmin — a menina órfã, a vendedora de rua que lutava para sobreviver — agora estava ali, segurando duas vidas que não pertenciam a lugar nenhum.

A guarda a empurrou levemente.

— Vá. Agora.

Yasmin correu.

Entrou no prédio com um desespero que nunca sentiu antes, as botas escorregando no piso frio de mármore.

— P-por favor! — ela gritou para a recepcionista, sem respirar direito. — Eu preciso falar com o dono deste prédio! É urgente! Muito urgente!

A recepcionista levantou-se tão rápido que a cadeira bateu contra a parede.

— Meu Deus! O que… o que são essas crianças? Quem deixou isso com você?!

— Eu não sei! — Yasmin choramingou, quase soluçando. — Por favor, eu… eu estava vendendo flores e… e essas mulheres me deram… e mandaram eu entregar para o dono daqui… elas disseram que… que as bebês pertencem a ele…

Ela engasgou em lágrimas.

Os braços tremiam.

O medo fazia sua visão borrar.

A recepcionista colocou as mãos na boca, chocada.

— Pertencem ao dono? Mas… o dono é…

Os elevadores se abriram naquele instante.

Um homem saiu, falando algo no telefone em tom irritado.

Um terno preto impecável.

O rosto sério, marcado por noites sem dormir.

Olhos azuis que carregavam a sombra de um homem destruído.

A recepcionista empalideceu.

— É ele — sussurrou.

— Ele é o dono.

Yasmin virou-se devagar.

E viu Damian Alexander Ashford pela segunda vez na vida — a primeira vez que ele realmente a enxergava.

Ele parou imediatamente quando a viu segurando dois pacotes de mantas.

Não era pacote.

Ele reconheceu imediatamente.

E sua alma partiu ao meio.

— O que… — sua voz falhou. — O que é isso?

Yasmin engoliu o choro.

— Senhor, deixaram essas bebês comigo… e pediram para entregar ao dono… da empresa — ela apertou as bebês contra o peito, tentando protegê-las de tudo — pertencem ao senhor.

O telefone caiu da mão de Damian.

Um som seco ecoou no saguão.

Ele deu um passo à frente.

Outro.

Outro.

Como se seus pés agissem antes da mente.

E quando ele viu os rostinhos loiros, os olhos azul-cristal, a pele idêntica à dele…

O mundo simplesmente… parou.

Ele não respirou,nem piscou, só olhou.

Apenas sentiu a vida inteira virar cinzas e renascer ao mesmo tempo.

Yasmin, trêmula, completou num sussurro:

— Eu… acho que… são suas filhas.

E naquele instante — naquele exato segundo — o destino costurou todos os fios soltos.

Todos os erros, dores, e as mentiras.

A vida de Damian Alexander Ashford, que ele achava arruinada há sete meses, estava prestes a recomeçar…

Nos braços da menina que vendia flores.

E das duas bebês que nunca deveriam ter sido dele…

Mas eram.

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