Mundo de ficçãoIniciar sessãoSete meses depois, a vida parecia ter seguido em frente, mas para Damian Alexander Ashford, cada dia era idêntico ao anterior, uma repetição monótona marcada por uma profunda solidão.
— O sinal fechou com um estalo seco, como se o destino estivesse a sinalizar que ele permanecia preso em um ciclo vicioso. — Damian, sempre impecável ao volante, mantinha o olhar reto, sua expressão uma máscara de controle absoluto, tentando organizar sua mente com a mesma precisão milimétrica que governava seus negócios. — Enquanto a cidade se movia ao seu redor, ele conseguia atuar como um maestro nas montanhas de números e gráficos do mundo financeiro. — No entanto, controlar seus pensamentos era outra história; eles escorregavam, voltavam e o corroíam, como sombras persistentes que se recusavam a ser dissipadas. Por vezes, à noite, quando a solidão tornava-se mais pesada, Damian acordava ouvindo mentalmente a frase que o perseguia: — “Você não é um príncipe.” — As palavras, cortantes e cruéis, reverberou em sua mente, trazendo à tona lembranças dolorosas que ele teria preferido enterrar. — Ele inspirou fundo, apertando o volante, tentando afastar o passado que teimava em assombrá-lo como um espectro. Então, uma batida suave no vidro interrompeu seu ciclo de pensamentos. — Seus olhos se moveram e lá estava uma garota, jovem demais para enfrentar a crueza da vida, magra como um botão de rosa ainda fechado, e com frio demais para estar ali àquela hora da noite. — Ela segurava um ramalhete de rosas com as duas mãos pequenas, cada flor colorida contrastando com a palidez de seu rosto. — Senhor... — a voz dela saiu baixa, mas determinada, como se cada sílaba fosse uma pequena oração. — Gostaria de comprar rosas para sua amada? São cultivadas por mim. — Cada uma carrega um significado: amor, pureza, fraternidade. Ela ergueu um sorriso — pequeno, frágil e esperançoso, mas também carregando uma resiliência que parecia desafiar as dificuldades da vida. — Damian virou o rosto, ríspido e defensivo, quase brutal na sua rejeição. — Eu não tenho amor — disse, seco, com um tom que ressoou como uma porta se fechando. — Não tenho amada, e não tenho para quem dar. Então me diga... por que eu compraria rosas de você? Ele não levantou a voz, mas sua frieza foi tão cortante quanto um tapa, um golpe desferido a partir de seu lugar de dor e desilusão. — A garota piscou, surpresa, ferida, um olhar de confusão passando por seus olhos, mas apenas por um segundo. —Depois, ela ergueu o queixo, orgulhosa como alguém que a vida tentou esmagar, mas não conseguiu. — Desculpe, senhor — respondeu, tentando manter a dignidade em sua voz que tremia um pouco. — Eu só ofereci minhas flores, o senhor não precisava falar comigo assim; estou apenas tentando vender rosas. O olhar dela tremia, mas não tinha medo, foram palavras honestas, como uma luz tênue em meio à escuridão. — Era coragem, uma bravura que não combinava com seus dezenove anos, mas que parecia brotar de um lugar profundo dentro dela. — Eu não tenho culpa se alguém machucou o seu coração — continuou, firme, com uma maturidade que desafiava o que se esperava de alguém tão jovem. — O meu também foi machucado... mas eu escolhi não machucar ninguém só porque fui ferida. Ela ajeitou as flores nos braços, como quem cuida de algo vivo, delicado e, ao mesmo tempo, poderoso, uma metáfora perfeita para a própria vida que ela estava se recusando a deixar que a dor moldasse. — Tenha um bom dia, senhor. E deu um passo para trás, mantendo a postura ereta, demonstrando a força que poderia passar despercebida. — Damian abriu a boca para dizer algo — qualquer coisa que pudesse salvar aquele momento de se afundar ainda mais em seu próprio vazio. — Um “espere”, um “desculpe”, um “quanto custa uma rosa”. — Mas nada saiu; sua voz estava presa na garganta como um grito sufocado. — A garota se afastou entre os carros, com a postura de alguém que perdera tudo, menos a própria bondade, uma aconchegante chama de esperança em um mundo frio. —E algo dentro dele pesou: arrependimento, culpa, humanidade — aquela que ele achava que tinha morrido na mesma noite em que Sabina o abandonou, deixando-o vagar em um deserto emocional. — O sinal finalmente abriu, e Damian acelerou, mas, pela primeira vez em meses, desejou voltar atrás, fazendo as coisas de maneira diferente. — Sem entender que aquele rosto jovem, aquela voz frágil, aquela rosa não vendida... voltaria para sua vida do jeito mais improvável, desafiando-o a reconsiderar os próprios muros que havia construído em torno de seu coração.






