POV Célia Montenegro

Eu nunca gostei de médicos. Nem de seus consultórios frios, cheios de diplomas emoldurados e cheiro de desinfetante barato tentando mascarar a podridão humana que sempre se esconde por trás das paredes brancas. Mas, naquela manhã, eu estava disposta a atravessar qualquer barreira.

A placa na porta lia: Dr. Benjamin – Ginecologia e Obstetrícia. Ironia fina, quase cruel. O homem que deveria proteger vidas ainda no ventre era, na realidade, cúmplice da destruição de uma.

Bati na porta, três vezes, firme, sem pressa. Ouvi passos apressados do outro lado e, em seguida, uma voz seca, impaciente:

— Estou ocupado! Volte mais tarde!

Sorri sozinha, um sorriso curto, gélido. Não vim até ali para pedir licença. Girei a maçaneta e empurrei a porta.

O consultório era amplo, paredes brancas decoradas com quadros insípidos, diplomas orgulhosamente expostos atrás da mesa. Benício ergueu os olhos do computador, irritado. A expressão, no entanto, se transformou assim que me reconhec