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Capítulo 4 — A primeira noite da mulher que renasceu

POV Isadora Ferraz

Dante me beijou como quem não perguntava “posso?”, mas como quem lia “preciso”.

E eu…

Pela primeira vez em muito tempo…

Deixei.

Deixei ser tocada com ternura.

Deixei meu corpo se lembrar que era mais do que uma máquina quebrada esperando aprovações médicas.

Deixei que o desejo falasse mais alto do que o medo.

— Está tudo bem — ele sussurrou, quando percebeu meu corpo hesitando sob o toque. — Você não precisa fingir nada comigo.

Não precisei.

A mão dele deslizou pela minha cintura como se já me conhecesse há anos—não com a pressa de quem quer conquistar, mas com a paciência de quem está redesenhando um mapa esquecido. Os dedos dele encontraram a curva do meu quadril, e eu tremi. Não de medo, mas de estranheza: fazia tanto tempo que ninguém me tocava assim, que meu corpo tinha se tornado um estrangeiro para si mesmo.

— Você está lento — eu disse, e minha voz saiu rouca, quase irreconhecível.

— Você merece devagar — ele respondeu, e os lábios dele voltaram aos meus, não como uma pergunta, mas como uma afirmação.

Quando suas mãos subiram sob a minha blusa, minha pele arrepiou-se, não pelo frio, mas pela memória. Ah, é assim que se sente. O toque de alguém que não está contando os minutos, que não está pensando em outra coisa, que não está me tocando por obrigação. Dante beijou meu pescoço, e eu arquei, deixando um gemido escapar. Fazia tanto tempo que eu não ouvia esse som sair de mim que quase me assustei.

Ele percebeu. Sempre percebia.

— Tá tudo bem — murmurou contra minha pele, e suas mãos desceram, desembaraçando os botões da minha calça como se estivesse desvendando um presente. Eu não me lembrava da última vez que alguém tinha tido paciência para isso.

Quando seus dedos me encontraram lá embaixo, eu soltei um suspiro quebrado.

— Deus, você está tão molhada — ele rosnou no meu ouvido, e eu senti meu rosto queimar. Não de vergonha, mas de alívio. Ainda funciona. Ainda sou capaz disso.

Ele me deitou na cama, e eu deixei. Deixei suas mãos percorrerem cada parte de mim como se estivessem descobrindo uma cidade abandonada. Deixei seus lábios beijarem meus seios, minha barriga, a parte interna das minhas coxas—lugares que meu marido nem olhava mais. Quando ele finalmente entrou em mim, foi com um movimento tão suave que eu quase chorei.

— Você tá bem? — ele perguntou, parando, os olhos escuros cheios de preocupação.

Eu balancei a cabeça, não em negação, mas em desespero.

— Não para. Por favor, não para.

Ele não parou.

E eu me deixei sentir. Cada movimento, cada respiração, cada onda de prazer que subia como uma maré dentro de mim. Não era só o corpo dele dentro do meu—era a lembrança de que eu ainda existia. Que eu não era só um útero que não cumpriu seu dever, uma esposa que falhou, um objeto esquecido no escuro.

Quando o orgasmo veio, foi como um tremor de terra—algo tão forte que me fez gritar, não só de prazer, mas de surpresa. Eu ainda posso sentir isso.

Depois, ele me puxou contra seu peito, e eu deixei minha cabeça afundar no cheiro dele. Naquela cama desconhecida, com lençóis que não tinham cheiro de passado, eu me despi das culpas.

Fui mulher.

Não esposa.

Não fracasso.

Não útero frustrado.

Apenas… mulher.

E quando amanheceu, havia um silêncio bom entre nós. Daqueles que não gritam, não pressionam, não julgam.

Ele ainda dormia.

E eu, pela primeira vez em anos, estava desperta.

***

Voltei para casa com o cabelo bagunçado e a alma em pé.

Sem café. Sem café da manhã. Só com um impulso incontrolável de recomeçar.

Peguei o telefone. Liguei pro advogado.

— Quero assinar o divórcio hoje. Sem demora.

— Está certa disso? — ele perguntou.

— Pela primeira vez, sim.

Depois, abri o notebook. Redigi o e-mail mais curto e mais libertador da minha carreira:

“Prezada Elena,

Solicito minha rescisão imediata do contrato com a editora.

Grata por tudo,

— Isadora.”

Enviei sem revisar.

Fechei a aba. Respirei.

E então, como quem espalha currículos ao vento, atualizei meu perfil profissional. Anexei uma foto — aquela mesma em que eu estou sorrindo de verdade, ainda da época em que escrever me fazia vibrar e enviei currículos para algumas editoras e empresas do ramo.

Menos de uma hora depois, meu celular vibrou.

“Convite para entrevista.”

Empresa nova. Editora elegante. Cargo promissor.

Li a descrição duas vezes. Reparei no nome do responsável pelo RH.

Dante.

Só isso.

Nenhum sobrenome. Nenhuma foto.

Mas meu estômago apertou.

Um aperto bom — meio medo, meio esperança.

Seria ele?

Fechei os olhos por um segundo. A lembrança da noite anterior ainda viva na pele, no perfume deixado no travesseiro, no arrepio que veio sem pedir licença.

Talvez fosse só coincidência.

Talvez não.

Sorri.
Porque, se fosse ele…

O universo acabara de me responder da forma mais poética possível:

Na noite em que eu renasci, ele estava ali.

E talvez… só talvez…
também esteja na manhã em que eu começo a viver diferente.

***

Era madrugada quando a porta se abriu com violência.

Eu ainda estava na cama, vestida, a mala ao lado, a mente fervendo com possibilidades de fuga e liberdade.

Heitor entrou como uma tempestade embriagada de ego e perfume alheio.

— O que é isso? — rosnou, jogando os papéis do divórcio no chão.

Antes que eu respirasse, ele me arrancou da cama pelo braço. Um puxão seco. O corpo foi, o medo ficou. Caí de joelhos no carpete, o mundo girando.

— Me solta! — gritei, tentando escapar.

— Você enlouqueceu? Quem te deu o direito de tomar essa decisão sem me consultar?

— Eu te vi, Heitor! — cuspi as palavras com mais fúria do que ar nos pulmões. — Vi você com a Elena. Vi você parabenizando ela pela gravidez. E ainda me chamou de estéril. De estúpida!

Ele congelou por dois segundos.

Depois, o tapa.

Rápido. Cruel. Sem peso no braço, mas com todo o peso do desprezo.

Minha cabeça virou. Meus olhos arderam.

Mas eu não caí.

— Você nunca teve charme. Nem na cama, nem fora dela — ele disse, como se cuspisse no chão onde dormimos juntos por anos. — Uma mulher fria, inútil… acha mesmo que merecia um filho meu?

— A gente se amou, Heitor. Ou pelo menos eu amei. — falei, com a voz embargada — Mas você traiu. Com a minha colega. E agora ela está grávida. Não existe justificativa pra isso.

— Você não engravidava! — gritou — Não importa quantas simpatias ou exames você fizesse. O erro era seu!

— Então vamos nos divorciar — disse, limpa, mesmo com a voz suja de dor. — Simples assim.

Mas ele riu.

Aquela risada seca que corta a espinha.

— Divórcio? Agora? Você sabe o que isso faria com a minha imagem? Com a empresa?

— Não é mais meu problema.

Ele se aproximou. Muito perto. O hálito quente, venenoso, o olhar repleto de ameaça.

— Se você for adiante com isso… eu acabo com sua carreira. Você não publica nem cardápio de lanchonete. Eu te derrubo. Tenho contatos. Tenho poder.

Por um momento, minha garganta se apertou. Eu vi o medo. O velho medo.

Mas não deixei ele entrar.

— Faça. Me derrube. Mas saiba que, mesmo no chão, eu vou continuar sendo mais honesta do que você jamais foi.

Ele recuou. Surpreso.

Eu limpei a lágrima no canto do olho. A bochecha ardia. Mas a alma… a alma estava de pé.

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