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Capítulo 3 — O fundo do poço tem nome e sobrenome: Célia

POV Isadora Ferraz

A frase ainda ecoava no telefone, como uma sentença definitiva: "Eu quero o divórcio."

Mas o que eu recebi, horas depois, foi uma visita.

Minha sogra entrou sem bater, como sempre fez. Como se minha casa fosse extensão do império dela. Como se minha vida tivesse sido uma gentileza que ela podia cancelar a qualquer momento.

Ela entrou com a bolsa de couro e o mesmo olhar que me atravessava como se eu fosse mobília fora do lugar.

— O que foi isso que eu ouvi, Isadora? Divórcio?

Cruzei os braços, tentando manter a postura. Mas a verdade é que eu estava trêmula. Dormi duas horas, chorei doze. O chão parecia inclinado. Meu corpo, oco.

— Ele não dorme mais em casa. Não me toca. E agora… agora eu descobri que ele não queria filho nenhum. Não comigo.

— E você acha que merece? — ela perguntou, séria. — Uma mulher fria, apagada, que nunca soube manter o próprio marido interessado. É claro que ele ia procurar outra.

Minha respiração travou. A ofensa veio direto, sem freio. Mas ela não parou.

— Você não tem charme, Isadora. Nunca teve. Vive se vestindo como freira. Vive com essa cara de velório. Um homem precisa de estímulo, de calor, de... uma mulher de verdade. Só pensa em fugir das responsabilidades pedindo o divórcio! Nem sequer tentou de verdade! Você tem que engravidar, tem que conseguir! Me aguarde! 

E foi embora.

Me deixou ali, no meio da sala, com a alma jogada no chão.

***

Três dias.

Três longos dias.

Eu me tranquei no apartamento. Vesti pijamas como se fossem armaduras. Esqueci de comer. Apaguei notificações. O mundo podia explodir lá fora, e eu continuaria aqui dentro, mastigando os escombros da minha vida.

Até que ela chegou.

Olívia.

Com cheiro de perfume doce, uma sacola cheia de roupas e uma frase que me acordou como tapa:

— Levanta, Isa. A gente vai sair. Hoje você vai lembrar que ainda é viva.

Tentei protestar. Disse que estava feia, destruída, sem energia nem pra respirar.

Ela ignorou.

— Hoje você vai se vestir pra si. Pra olhar no espelho e lembrar que você ainda existe. Que você ainda é mulher, bonita, desejável. Não por ele. Por você.

E ali, no banheiro, ela me maquiou. Como quem reconstrói um rosto. Como quem ressuscita.

Vestido preto. Justo. Cabelo solto. Um batom vermelho que me lembrou da minha própria boca, do meu corpo, do que eu sentia falta: de mim.

O espelho me encarava como quem reencontra alguém que morreu e voltou.

O vestido colado ao corpo. O cabelo solto, rebelde. O batom — vermelho demais, ousado demais. Tudo em mim parecia gritar um nome que eu não respondia há anos.

Eu.

Me toquei nos ombros, deslizei os dedos pela clavícula, como quem reconhece um território esquecido. Senti o perfume novo misturado com o velho medo.

E então lembrei:
Heitor nunca deixava.

— "Vai sair assim?"

— "Tá querendo chamar atenção de quem?"

— "Você é casada, Isadora."

Eu era casada.

Com um homem que me traiu.

Com uma família que me descartou.

Com uma versão minha que eu não queria mais vestir.

Olívia sorriu. Me olhou dos pés à cabeça.

— Pronta?

— Não sei.

— Não importa. Você vai mesmo assim.

E fomos.

O bar era um amontoado de luzes amareladas, risadas soltas e músicas que não combinavam com meu humor. Mas Olívia combinava. Ela me arrastou até o balcão e pediu dois drinks com nomes indecentes.

— Hoje você só diz “sim” — ela sussurrou no meu ouvido. — Pra vida. Pro mundo. Pra si mesma.

Foi quando eu vi ele.

Dante.

O nome, eu só descobri depois. Mas os olhos... esses chegaram primeiro.

Olharam direto nos meus, depois escorregaram pelo meu pescoço como se reconhecessem uma fome antiga.

Ele se aproximou com calma. Como quem sabe que não precisa correr pra conquistar.

— Desculpa, mas... você parece estar fugindo de alguma coisa — ele disse, com um sorriso enviesado.

— E se eu estiver?

— Então talvez seja hora de parar de fugir.

Conversamos.

Sobre livros, sobre vinho, sobre tragédias e ironias. Sobre tudo e sobre nada. E, por um tempo, eu esqueci.

Esqueci que estava em pedaços.

Ele tocou minha mão, de leve. E o mundo inteiro pareceu deslizar com aquele gesto. Como se alguém tivesse acendido uma vela dentro do meu peito.

— Quer ir pra minha casa?

A pergunta veio direta. Sem rodeios. Sem promessas.

Eu congelei.

Porque, tecnicamente...

Eu ainda era casada.

Ainda levava o sobrenome dele.

Ainda usava a aliança.

Ainda carregava a culpa.

Por que continuar fiel a alguém que me fez esquecer de mim?

Respirei fundo.

Olhei pro Dante.

E pensei: Talvez essa noite eu diga sim.

Não pra ele.

Mas pra mim.

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