POV Heitor
Duas semanas.
Apenas isso e ainda assim, parece que se passaram dois anos dentro da minha cabeça.
Duas semanas desde que minha mãe e minha esposa morreram naquele acidente. Duas semanas desde que o telefone tocou e o hospital me informou que as duas estavam em estado crítico. Duas semanas desde que eu vi seus corpos destruídos sobre macas de metal, frágil demais para acreditar que um dia foram tão imponentes, tão vivas, tão… minhas.
Agora só existem como arquivos. Relatórios. Fotos. E uma investigação que insiste em bater na minha porta, literalmente e metaforicamente.
Hoje é o dia do meu depoimento. E é como se meu estômago estivesse tentando fugir pelas minhas costelas.
***
O corredor da delegacia é frio como uma câmera mortuária. O tipo de frio que não vem do ar-condicionado, mas das pessoas que passam por ali todos os dias, gente quebrada, gente perigosa, gente que perdeu tudo. E eu talvez seja uma mistura dos três.
O policial que me acompanha é o mesmo que me avisou so