Pov Heitor Montenegro
O ar frio da noite cortava meu rosto enquanto eu abria a porta de casa, cada movimento um lembrete do estrago que Dante Harrison tinha deixado.
O gosto de sangue ainda estava na minha boca. Minha mandíbula latejava, o maxilar parecia ter se soltado do resto do corpo. Cada respiração doía, não só por fora, mas por dentro também.
O corredor estava silencioso, só o som do relógio antigo da sala marcando o tempo. E então, como um trovão vindo do nada, ouvi a voz dela.
— Meu Deus, Heitor! — Célia apareceu na escada, o olhar arregalado, as unhas longas segurando o corrimão. — O que foi isso?! O que aconteceu com você?
Joguei a chave sobre o aparador e ri, um som rouco, amargo, completamente deslocado.
— O que aconteceu? — repeti, cuspindo um pouco de sangue no lenço que tirei do bolso. — Aconteceu que Dante Harrison me socou.
O silêncio que veio depois disso foi pior que qualquer grito. Ela desceu os degraus devagar, os saltos fazendo eco no chão de mármore, os olhos