Pov Leyla Montenegro
 O resto da manhã foi uma prisão feita de porcelana e silêncio.
 Depois que Célia terminou o café, ela subiu para o escritório, deixando-me sozinha à mesa, com a xícara ainda cheia e o olhar perdido no nada. O relógio da parede marcava cada segundo como um lembrete cruel do tempo que não passava.
 Heitor não desceu. Nenhum barulho no corredor. Nenhum passo, nenhuma voz. Só o som distante de pássaros lá fora, indiferentes a tudo que me corroía por dentro.
 Levantei-me devagar, arrumei a mesa como se cada movimento pudesse distrair minha mente. Mas cada dobra do guardanapo, cada colher que eu colocava no lugar, parecia um gesto inútil, uma tentativa falha de fingir controle quando tudo dentro de mim estava um caos.
 Subi as escadas lentamente, cada degrau me lembrando da noite anterior. A cada passo, uma lembrança: o olhar dele, o som do vidro batendo na mesa, o toque. Meu corpo respondia com uma memória física, e eu me odiava por isso.
 O corredor estava em silênc