POV Heitor Montenegro
O gelo tilintava no copo, dissolvendo-se lentamente no whisky que eu girava entre os dedos.
O relógio marcava quase duas da manhã, e o silêncio da mansão Montenegro era cortado apenas pelo som baixo da televisão ligada na sala.
Eu não deveria estar ali. Deveria estar dormindo, tentando esquecer o dia infernal que tinha tido, as cobranças, os números da empresa, os sorrisos falsos de reuniões intermináveis. Mas o sono parecia um luxo que já não me pertencia.
A notícia veio rápido: “Escritora premiada é vista em clima de intimidade com parceiro de trabalho em frente a condomínio de luxo.”
A foto aparecia na tela: Isadora e Raul Menezes, lado a lado, o rosto dela meio virado, o dele inclinado demais, o bastante pra deixar espaço pra dúvida. A legenda não ajudava. O texto era venenoso, cuidadosamente construído pra sugerir sem afirmar.
O whisky queimou quando desceu.
— Heitor? — a voz da minha mãe veio atrás de mim.
Célia Montenegro estava de robe, impecável até nas