A primeira coisa que Lyra sentiu foi o frio.Não o frio comum da noite, aquele que apenas toca a pele e desaparece com um arrepio passageiro. Era um frio invasivo, vivo, que se infiltrava por dentro do corpo como dedos gelados procurando algo para arrancar. Se alojava nos ossos e fazia os músculos esquecerem como obedecer, transformando-os em algo inútil, pesado. Um frio antigo, quase ritualístico, carregado de intenção — como se a própria terra a rejeitasse, cuspindo-a para fora com nojo.A neve colava em seus joelhos nus, úmida e pesada, misturada a manchas escuras que ela reconheceu tarde demais. Suas mãos tremiam de forma descontrolada, não apenas pelo frio que mordia a carne exposta, mas pelo esforço brutal de permanecer consciente quando cada célula do corpo gritava para desistir, para deixar a escuridão vir. Havia um gosto metálico na boca, espesso, enjoativo, familiar demais para ser ignorado.Sangue.Ela passou a língua pelos lábios rachados, engoliu em seco e soube com certe
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