Achei que não haveria mais casamento.Não havia mais motivos para Soo-ah se casar comigo. Mesmo sentindo desejo por mim, ela só havia aceitado aquele compromisso para salvar a vida do pai com a cirurgia. E agora… ele se fora. E com ele, tudo o que dava algum sentido àquela urgência.Sem falar que Soo-ah estava despedaçada por dentro. Não havia clima, nem estrutura emocional para um casamento. Ela não havia perdido apenas o pai... havia perdido a mãe também. E não foi uma perda natural. Foi cruel, violenta, sangrenta.Desde aquele domingo à noite, Soo-ah se fechou em si mesma. Dormia pouco, comia quase nada. Passava a maior parte do tempo sentada na varanda do meu apartamento — para onde a trouxe, longe da cena do crime — olhando para o nada, como se tentasse costurar os estilhaços da vida que agora nem ela reconhecia.A polícia isolou o apartamento dela por tempo indeterminado. A detetive Ro-um seguia na investigação, mas me deixava claro que sem testemunhas, imagens de câmeras ou evi

Naquela manhã, quando cheguei à empresa, a primeira coisa que fiz foi chamar Go-eun até minha sala. A noite mal dormida me deixara com os nervos à flor da pele, e eu ainda não conseguia tirar da cabeça as perguntas sem resposta em torno do assassinato dos pais de Soo-ah e do seu tio.Quando Go-eun entrou, percebi o leve tremor em sua expressão.— Que foi? Fiz alguma coisa de errado? — ela perguntou, franzindo a testa.— Não sei. Depende do que você vai me responder. — disse, tentando manter a calma. — Apareceu alguém aqui procurando pela Soo-ah?— Alguém...?— Sim. Uma mulher, por exemplo. Essa aqui. — Abri a imagem que Soo-ah tinha me mandado no celular. Era o rosto da mãe dela. Segurei a tela diante do rosto de Go-eun, e observei com atenção a sua reação.Ela arregalou levemente os olhos, como quem lembrava de algo.— Ah, tá... coitada. A gente almoçou algumas vezes. Ela pagava. Disse que queria muito rever a filha, que tinha feito uma besteira na vida, mas que estava arrependida. F

Pelo o olhar do meu pai, assim que ele me viu entrar na sala, ele já sabia que a polícia havia descoberto sobre a visita dele ao pai de Soo-ah no dia dos assassinatos.A tensão no ar era espessa, e meu coração pesava como chumbo.— A detetive Ro-um me contou — falei com calma, mas firme. — Ela vai procurá-lo para interrogar.Ele não respondeu de imediato. Apenas desviou o olhar e engoliu em seco. Eu, no entanto, não tinha dúvidas dentro de mim. Por mais complicado que tudo estivesse, jamais acreditaria que meu pai fosse capaz de matar alguém — muito menos os pais e o tio da mulher com quem eu ia me casar.— Pode me dizer, pai — insisti, encarando-o — por que foi ver o pai de Soo-ah?— Foi a polícia que te disse?— Sim. A detetive teve acesso a uma filmagem de um carro estacionado em frente ao prédio. Você aparece entrando no prédio, às dezoito horas.Ele soltou um longo suspiro. Depois, se levantou, esbarrando levemente em mim. Mãos nos bolsos, olhar fixo no chão, e uma amargura na vo

Nossa lua de mel em Busan foi como um sonho calmo depois de um longo pesadelo.Deixamos os irmãos de Soo-ah com meus pais, que os acolheram com carinho de verdadeiros avós, e partimos para o sul, para a cidade costeira que parecia feita sob medida para recomeços.Ficamos hospedados em um resort charmoso perto da Praia de Haeundae, onde as ondas batiam mansas e o vento trazia o cheiro do mar misturado com algo doce — talvez paz. Caminhamos descalços pela areia fina, de mãos dadas, rindo à toa como adolescentes. Assistimos ao pôr do sol sentados sobre rochas, com os pés na água, nossos corpos encostados, trocando beijos salgados e intensos.Durante o dia, exploramos Gamcheon Culture Village, um bairro colorido de vielas estreitas e casas vibrantes empilhadas nas colinas. Tiramos fotos, provamos doces locais, e rimos de nossas selfies desajeitadas. À noite, jantávamos à beira-mar, à luz de velas, e depois...Fazíamos amor, encostados nas pedras mornas pela luz do sol, envoltos pelo som d

Com a minha gravidez, eu sentia mais atração por Eun-woo. Talvez fossem os hormônios, talvez fosse o amor que crescia a cada dia... ou os dois. O fato era que eu o desejava como nunca antes.Não havia hora, nem lugar.Bastava um toque, um olhar mais demorado, ou um beijo mais quente, para que o fogo se alastrasse pelos nossos corpos.Às vezes era no sofá da sala, outras vezes na cozinha, enquanto eu preparava algo e ele se aproximava por trás, beijando meu pescoço. Às vezes no carro, antes de subirmos para casa.Uma vontade urgente, crua, que tomava conta de nós.Mesmo com o meu corpo mudando, Eun-woo me olhava com ainda mais desejo, mais carinho.Tocava a minha barriga com ternura, e mesmo nos momentos de pura luxúria, ele era delicado, atento a mim. Fazíamos amor com pressa, com paixão, com risos abafados entre lençóis e janelas embaçadas. Outras vezes era lento, quase reverente, como se ele estivesse agradecendo por tudo o que vivíamos.Uma noite, durante uma tempestade, ficamos em