O silêncio que se instalou depois da proposta parecia durar uma eternidade.Meus olhos estavam fixos nos dele, tentando entender se era algum tipo de brincadeira de mau gosto. Mas não havia sequer um traço de humor em sua expressão. Ele estava falando sério. Muito sério.— Você quer... se casar comigo? — repeti, num sussurro incrédulo.— Sim. Um casamento por contrato. Você não precisa fingir sentimentos. Só cumprir alguns termos. Eu garanto uma vida confortável para você, seus irmãos e seu pai. Em troca, você será minha esposa... e mãe do meu filho.Senti minha garganta secar. A comida esfriava na mesa ao nosso lado, esquecida.— Eu... não sei o que dizer — murmurei, desviando o olhar.— Eu não espero uma resposta agora. — Sua voz era gentil, mas firme. — Sei que é muita coisa para absorver. Mas preciso que pense. Com calma.— E se eu disser não?— Você continuará empregada. Continuará recebendo seu salário. Eu jamais tiraria nada de você. Essa proposta é uma escolha, não uma chantag

Desde que Soo-ah começou a trabalhar na empresa, minha rotina deixou de ser previsível. Tudo que antes era meticulosamente organizado, cronometrado, até mesmo entediante... agora parecia levemente fora de eixo. Mas não de um jeito ruim. Era como se, finalmente, alguma parte dormente da minha vida tivesse acordado.Não sou o tipo de homem que se distrai fácil. Sempre fui metódico, silencioso, objetivo. Os funcionários sabem: gosto de pontualidade, descrição e foco. Mas bastou aquela garota pisar pela primeira vez com seu uniforme simples e um sorriso tímido nos lábios, para que os olhares começassem a se voltar. Inclusive os meus.No primeiro dia, Soo-ah se atrapalhou ao servir café. Tremeu a mão, derramou um pouco na mesa de reuniões e pediu desculpas tantas vezes que eu quase ri — e eu não rio em reuniões.Go-eun me lançou um olhar atravessado, como se dissesse: “Eu avisei”. E talvez tenha avisado mesmo. Mas eu estava pouco me importando.Passei a observá-la mais do que deveria. Fing

Me virei de lado na cama, abraçando o travesseiro contra o peito, como se pudesse sufocar as emoções e desejos que me invadiam.Fechei os olhos, buscando pensar em outra coisa, qualquer coisa...Mas foi nesse momento que ouvi.Um som.Baixo, sutil.Parecia uma porta sendo fechada… ou aberta.Meu corpo congelou.Sentei na cama devagar, com os olhos fixos na porta do quarto.A maçaneta não se movia. Nada parecia fora do lugar.Mas havia outro som agora.Passos.Passos vindo do corredor.Leves, mas determinados.Talvez fosse o senhor Bong. Talvez uma das crianças procurando por mim.Mas algo naqueles passos… me pareceu diferente.Levantei da cama devagar, sem fazer barulho, e fui até a porta.Não a abri. Apenas encostei o ouvido, o coração batendo forte.E então… uma batida. Suave. Três toques leves na madeira.— Soo-ah… sou eu.A voz do outro lado fez o ar fugir dos meus pulmões.Era Eun-woo.Minha mão tremia ao girar a maçaneta. Quando abri, ele estava ali.Com o mesmo olhar de sempre

Eu continuei lá, ainda com as pernas bambas depois daquele momento quase íntimo que havíamos tido. Meu corpo parecia carregado por uma energia nova — um calor que ainda vibrava em mim, mesmo horas depois. A forma como ele me tocou, olhou nos meus olhos... Aquilo não tinha sido só desejo. Tinha sido diferente. Intenso.Demorei um tempo até sentir meu coração bater normalmente de novo. Quando finalmente criei coragem para sair do quarto, decidi ir até a piscina. As crianças já estavam lá fazia um bom tempo, e pelo som das risadas que ecoavam pelo corredor, estavam se divertindo bastante.Ao me aproximar, percebi que o senhor Bong observava tudo com sua postura gentil de sempre, sentado em uma espreguiçadeira, enquanto Eun-woo estava dentro da piscina com eles.Sem camisa. Apenas de sunga.A visão me fez parar. E prender o ar.A cena parecia tirada de um sonho impossível. Eun-woo mergulhava com as crianças, ria com elas, deixava que subissem em suas costas como se ele fosse um tipo de he

O silêncio no jardim era cortado apenas pelo som leve do vento passando entre as folhas das árvores antigas. Sentado em sua cadeira de madeira, diante do lago artificial cuidadosamente esculpido, o pai de Eun-woo observava os peixes nadando lentamente, como se o tempo se movesse de forma diferente naquele lugar.Ele tossiu levemente, o som seco e abafado que parecia vir de dentro da alma. Ultimamente, as tosses eram mais frequentes, mais profundas. Os médicos não diziam muito — ou talvez ele já nem ouvisse com atenção. Ele sabia. Seu tempo estava se esgotando.Passou a mão pelos cabelos grisalhos, olhando para o céu nublado com um olhar distante. Havia algo que o inquietava mais do que a própria morte: a solidão em que deixaria o filho. Não era uma solidão de estar sozinho... Mas uma solidão de não ter raízes, de não ter um lar real.— Ele tem tudo... menos aquilo que importa — murmurou para si mesmo, com a voz rouca.Lembrou-se de quando Eun-woo era criança. Tão sério, tão precoce. S