Elena MoreauA brisa da Toscana era diferente. Mais suave, mais quente, carregada de cheiros que pareciam dançar entre o frescor das oliveiras e o perfume distante das videiras em flor. Havia algo quase sagrado no ar, como se cada sopro fosse um convite à calma. Mesmo depois de tudo, ela me dava paz.Talvez porque, pela primeira vez em muito tempo, eu sentia que não precisava estar em alerta. Não havia olhares me julgando, nem vozes tentando me diminuir. Pela primeira vez, eu podia apenas... respirar.Estávamos de volta à Itália havia alguns dias, e a viagem parecia ter nos lavado por dentro. Havíamos rido até doer o estômago em estradas estreitas, chorado juntos em lembranças dolorosas, cantado desafinados dentro do carro alugado até os motoristas locais nos olharem torto. Mas acima de tudo, estávamos costurando, ponto a ponto, uma nova história.A verdade é que, com Leon, Diego e Clóvis, a vida parecia menos pesada. Era como se cada um segurasse um pedaço do fardo que antes eu carre

Elena MoreauA festa anual da Moreau International era sempre algo grandioso. Mas, naquele ano, ela tinha um gosto diferente. Pela primeira vez desde que me tornei oficialmente parte daquela família, eu sentia paz. Não havia sussurros venenosos da sogra nos cantos, nem olhares duvidosos do sogro fiscalizando cada gesto meu. Ambos haviam partido — e, apesar da dor que a tragédia trouxe, uma parte de mim sabia que um ciclo havia se encerrado.Eu usava um vestido esmeralda de seda, com um corte elegante que valorizava meu corpo sem exageros. Leonhart não parava de me lançar olhares orgulhosos do outro lado do salão, mesmo enquanto conversava com acionistas e parceiros da empresa. Diego e Clóvis, como sempre, dançava com leveza, em meio às luzes douradas do salão principal.Tudo parecia no lugar. Como se, finalmente, o caos tivesse cedido espaço para o recomeço.— Você está deslumbrante — disse Clóvis, se aproximando com uma taça de champanhe. — Posso dizer isso como cunhado e sem levar u

Dois anos depois...Elena MoreauDois anos se passaram desde que tudo mudou. Desde que a verdade veio à tona e nos libertamos das amarras do passado. Como prometemos um ao outro, não deixamos mais que ninguém nos derrubasse. E conseguimos. Enfrentamos cada cicatriz, cada perda, cada descoberta, e reerguemos algo muito mais bonito: uma nova vida.Leon e eu nos mudamos para a casa dos nossos sonhos, uma antiga propriedade reformada nos arredores da Toscana. Rodeada de vinhedos, janelas grandes e um jardim que floresce com cada estação. Diego e Clóvis moram a poucas ruas de nós. É estranho pensar que há poucos anos éramos quatro almas perdidas — e hoje somos uma família.E hoje… é um dia duplamente feliz.O sol brilhou desde cedo, como se até o universo estivesse celebrando esse momento. Estamos todos reunidos para o casamento de Diego e Clóvis. Um casamento íntimo, porém repleto de significado. Apenas amigos próximos e familiares que realmente importam. Porque aprendemos a valorizar o e

Elena MoreauO som dos nossos passos ecoava pelos corredores frios e úmidos da penitenciária. Cada passo parecia pesar uma tonelada. Eu acariciava minha barriga já bastante grande, sentindo os movimentos delicados do meu bebê. Era como se ele estivesse me dando forças naquele momento. Leon estava ao meu lado, de mãos dadas comigo, mais protetor do que nunca.— Elena, tem certeza de que quer fazer isso? — ele perguntou pela décima vez desde que saímos de casa.Assenti, sem encará-lo diretamente.— É meu dever como ser humano, Leon. Eu preciso olhar nos olhos dele e ouvir o que ele tem a dizer. Não por ele, mas por mim… por nós.Ele suspirou, visivelmente tenso. Nunca foi fácil para ele lidar com situações em que não podia me proteger de algo emocionalmente pesado. Mas naquele momento, ele sabia que não poderia me impedir.Fomos levados até a sala de visitas reservada para casos sensíveis. Arthur estava sentado à mesa, visivelmente mais magro, o rosto pálido e os olhos fundos. Estava ir

Elena MoreauOs dias passam como páginas de um livro que a gente não quer terminar. Há momentos em que me pego parada, observando cada detalhe da minha vida, como se quisesse guardar tudo num potinho, protegê-los do tempo, como se o tempo fosse um ladrão perigoso rondando minha casa, sempre pronto para levar embora o que mais amo.Theo agora tem três anos. Três anos que mudaram completamente a forma como vejo o mundo. Ele é uma mistura perfeita de mim e de Leon: teimoso como o pai, sonhador como eu. Quando ele cruza os bracinhos e franze a testa, sinto como se estivesse vendo Leon em miniatura. Mas quando fecha os olhos e se perde em alguma história inventada, como se realmente acreditasse que dragões e sereias dividem espaço no quintal de casa, vejo o reflexo da minha alma de menina.E Amélie… ah, Amélie… aquela garotinha que chegou de mansinho e se tornou parte do nosso coração como se sempre tivesse estado aqui, como se só tivesse dado uma voltinha antes de se reencontrar conosco.