Trinta dias depois, enquanto revisava alguns contratos no escritório de casa, Luchero ouviu o som dos saltos de Chiara ecoando pelo corredor. Ela entrou no ambiente com o celular na mão e o semblante impecável, maquiada como se fosse para um evento, não para uma conversa familiar.— Luccero, a médica marcou a cesariana — disse, sem rodeios, enquanto digitava algo na tela. —Vai ser amanhã cedo, às oito. Já está tudo organizado.Ele levantou o olhar, surpreso.— Amanhã? — repetiu, incrédulo. —Mas… por que tão de repente?Chiara deu de ombros.— Porque preciso de tempo para me recuperar.Tenho o desfile de Milão em duas semanas e outro em Paris logo depois.Preciso estar bem até lá.As palavras ecoaram na sala como um estalo seco.Luchero piscou algumas vezes, tentando processar o que acabara de ouvir.— Chiara… — começou, com a voz baixa, quase rouca. —Você está me dizendo que marcou o nascimento

Na manhã seguinte, dona Lucrécia acordou com um propósito renovado e uma determinação feroz. O rosto do filho não lhe saía da cabeça — aquele olhar vazio, de um homem que tenta ser forte enquanto o coração sangra por dentro, cada batida parecendo um eco de dor. A imagem de Luchero, lutando contra as ondas de tristeza que ameaçavam submergi-lo, a inspirou a agir de forma decisiva. Sem hesitar, ela ligou para uma amiga antiga, Sofia, enfermeira voluntária do banco de leite do hospital San Filippo, uma mulher sempre pronta para ajudar em momentos de crise, refletindo a coragem que emanava de Lucrécia. Enquanto conversavam, a lembrança de outra mulher lhe atravessou o pensamento como um sopro divino, trazendo uma esperança inesperada que a fez sentir que algo bom estava prestes a acontecer.— Sofia, — disse ela, pausando por um instante para organizar suas palavras — acho que encontrei alguém que pode ajudar ainda mais. Uma moça humilde chamada Carmela,

Dois meses se passaram desde o nascimento das gêmeas. Durante todo esse tempo, Chiara havia estado no hospital apenas duas vezes — no dia da cesariana e agora, no dia da alta. A distância dela não surpreendia mais Luchero, mas ainda o feria profundamente. O homem que outrora acreditara ter encontrado uma companheira, agora se via ao lado de uma mulher incapaz de olhar para as próprias filhas. Na maternidade, enquanto as enfermeiras faziam os últimos exames nas pequenas, Chiara, de vestido bege e óculos escuros, falava ao telefone com a equipe do ateliê, organizando desfiles em Milão e Paris. Entre uma ligação e outra, chamou o marido com a voz fria e prática de quem trata de negócios. — Já providenciei duas enfermeiras — disse ela, ajustando a pulseira no pulso, como se a peça de metal pudesse conectar sua realidade à sua profissão, distante do mundo das fraldas e choro de bebês. — Uma para o dia e outra para a noite. Eu não tenho tempo