O Café da Manhã do SilêncioCheguei cedo, como de costume, e logo percebi que o doutor Lucero já estava em sua sala.Mas havia algo diferente nele naquela manhã. O terno impecável, sim, o cabelo alinhado como sempre, mas o olhar, distante.Havia um peso nos ombros dele que nem a gravata perfeitamente ajustada conseguia esconder.Respirei fundo, ajeitei a agenda contra o peito e bati levemente à porta.— Posso entrar, doutor Lucero?Ele ergueu os olhos devagar, tirando-os da tela do notebook.— Pode, sim Nicola, por favor entre.Dei alguns passos até a mesa e deixei a agenda aberta diante dele.— Aqui está o resumo do dia, reunião em vídeo às nove, depois o comitê de projetos às onze. — Fiz uma pausa, estudando o rosto dele. — O senhor, quer o café de sempre hoje?Ele demorou um pouco para responder, como se a pergunta precisasse atravessar um deserto antes de chegar à consciência.— Quero, sim, — respondeu por fim, com a voz rouca, arranhada de cansaço,— por favor, como você sempre t
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