O pastor fez uma pausa, apoiando as mãos firmemente no púlpito. O silêncio na sala estava denso, quase palpável, como se cada pessoa presente estivesse aguardando ansiosamente a próxima palavra, como quem espera o impacto de uma flecha em pleno voo. — Eu cresci em outra época. — ele começou, com uma voz grave, embora não austera. — Uma época em que os jovens não ficavam grudados em seus celulares o dia todo. Não estavam sempre se comparando com as vidas editadas dos outros. A gente se reunia nas ruas, jogava bola descalço, corria até o anoitecer... E mesmo assim, havia um respeito maior por nossos pais, pelos mais velhos, até por nós mesmos. Ele passou a mão pelo queixo e, respirando fundo, prosseguiu: — Hoje, olhando para esta geração, percebo que vocês têm acesso a tudo o que nunca tivemos. Informação na palma da mão, oportunidades que nossos avós nem sonhavam. Mas ao mesmo tempo, vejo uma juventude perdida. Meninas e meninos que trocam a noite por likes, que medem seu valor pela

E talvez fosse exatamente esse o motivo da minha inquietação. O pastor voltou seu olhar para mim por alguns momentos e, com uma calma impressionante, umedeceu os joelhos e se acomodou no chão gélido ao meu lado. Aquela ação, tão simples e tão profundamente humana, me desarmou. Ele não era apenas um homem em uma posição elevada, pregando do púlpito; era uma pessoa que havia decidido se rebaixar ao meu nível, como se quisesse transmitir a mensagem de que eu não estava sozinha. — Sabe, Clara... — começou ele, com uma voz suave, mas que carregava firmeza. — Já escutei muitos testemunhos aqui nesta igreja. Histórias de pessoas que foram desenganadas pelos médicos, pessoas que haviam perdido toda a esperança, pessoas que, de uma forma ou de outra, acreditavam que suas vidas tinham chegado ao fim. E eu vivi momentos de milagres. — Fez uma pausa, fixando seu olhar profundo nos meus olhos, que agora estavam repletos de lágrimas. — Deus me diz, aqui e agora, que um dia ainda eu vou te ver de

Narrado por Miguel Satamini — Noite de sábado O silêncio no carro era cortante. Não havia música, não havia conversa, apenas o ronco grave do motor e a respiração dela que, mesmo contida, parecia preencher todo o espaço. Minhas mãos estavam firmes no volante, mas os nós dos dedos denunciavam a força com que eu o segurava. O vestido dela tinha uma maldita fenda lateral. Cada vez que o tecido cedia, revelava mais da coxa clara, iluminada pelos postes da rua que passavam rápidos. Aquilo não era apenas provocação era tortura. Eu desviava o olhar de propósito, me forçando a manter a atenção na pista, mas sempre acabava traído pelo canto dos olhos. Ela ajeitou a barra do vestido discretamente, como se tivesse notado meu esforço em não olhar. O gesto dela, inocente ou proposital, tanto fazia: o efeito foi devastador. — Esse silêncio… — ela quebrou o ar pesado, a voz baixa, quase hesitante. — Está me deixando nervosa. — Nervosa? — perguntei, sem desviar os olhos da estrada, mas ar

Narrado por Miguel Satamini — Noite de sábado — Não pela comida, Clara… — deixei a frase cair pesada entre nós, como uma sentença. Ela arqueou a sobrancelha, tentando disfarçar o impacto, mas a respiração dela se entregou. — Então por quê? — rebateu, firme, mas a voz dela vacilou na última palavra. Inclinei o corpo para frente, os cotovelos apoiados na mesa. O perfume dela misturado ao vinho chegava até mim como uma provocação calculada. — Por você. — respondi sem rodeios. — Porque desde o momento em que abriu aquela porta… eu só consigo pensar em arrancar esse vestido preto com as minhas próprias mãos. Os olhos dela se arregalaram, e vi o rubor subir ainda mais nas bochechas. Mesmo assim, Clara manteve o queixo erguido. — O senhor fala isso como se não houvesse consequências. — disse, tentando recuperar o controle. Apoiei a mão sobre a mesa, bem perto da dela, sem tocá-la. — Eu já disse… aqui não existe “senhor”. — minha voz saiu baixa, mas firme. — Só Miguel. E Miguel nã

📓 Narrado por Clara — Noite de sábado Eu não sei como conseguimos chegar até a porta do chalé. Cada passo era uma batalha entre o impulso dele e minha resistência silenciosa. Miguel me mantinha prensada contra o próprio corpo, os beijos dele roubando o ar dos meus pulmões, as mãos percorrendo meu corpo com uma pressa faminta. Quando ele girou a chave e empurrou a porta, mal tivemos tempo de ver o interior. Entramos ainda colados, a boca dele devorando a minha, a língua exigente, me deixando atordoada. O som da chuva ficou do lado de fora, mas a tempestade parecia ter entrado junto conosco só que agora era dentro de mim. O calor do ambiente me envolveu, mas o corpo gelado pela chuva só fez aumentar o choque quando senti a palma dele deslizar pela lateral do meu vestido. Miguel não esperava permissão, nunca esperava. Ele mandava, avançava, tomava. Até que seus dedos agarraram a barra molhada do vestido e puxaram, como se fosse arrancar de uma vez. Travei. Meu corpo inteiro enrij