Angelina Da CostaContinuei insistindo nas ligações para Débora durante a volta ao escritório. A senhora Roberta já aguardava Saulo, sentada perdida na recepção, quando chegamos. Ninguém a havia recebido, embora a sala de Francesca estivesse fechada. Desconfiei que ela estivesse ali. Recebi a cliente, ofereci chá, enquanto Saulo revisava o processo e analisava suas anotações.Mas minha mente ainda nadava em questões. Havia uma parte vacilante em mim: ambição. Mas como um sofá pode custar catorze mil? Era lindo. O design curvado, os pés de madeira, os braços envernizados... parecia um sonho. Caminhava da copa para a sala de Saulo ainda imaginando aquele móvel. Como pude me encantar assim? Ri, torcendo internamente para que ninguém o visse e levasse, quem sabe uma liquidação surgisse.Servi chá à testemunha. Saulo recusou o café ,suspeitei que estivesse evitando por causa do estresse. O sexo intenso e pesado de domingo devia também ser por isto? Embora eu tenha gostado, ficaram marcas q

Angelina da CostaEu finalmente soltei o que sempre pensei sobre aquela investigação. No fundo, sabia que não levaria a nada. Otávio Prado é um bilionário que acumula milhões por dia, seja em indústrias açucareiras, redes de supermercados, telemarketing ou qualquer outra coisa. Se opor a ele era burrice. Nos anos em que trabalhei, sempre vi que homens como ele fazem o que querem, onde querem, sem sujar as mãos.E por mais que meu pescoço estivesse em risco por me envolver com o neto dele, me deixei abraçar por Saulo. O amanhã talvez não chegasse, talvez ninguém desse conta. Adormeci em seus braços, mesmo sabendo que, em casa, minha filha não estava sozinha. Júlia dormia no tapete da sala ao lado de Sarah, aquela garota de cabelos negros intensos, olhos marcantes e corpo atraente, que claramente era mais que uma amiga, conclui pelas conversas pela metade, que acabam em risadinhas maliciosas. Ambas adormeceram assistindo a algum filme bobo que certamente acabaria em casamento e final f

Saulo Prado:- Fomos precipitados em declarar, em assumir - ela respirou fundo, firme, como se estivesse engolindo as próprias lágrimas. - Você terá que jogar o jogo dele até achar uma saída. Tem os meus filhos, tem a sua mãe... o meu emprego é o de menos. Se ele quiser, pode até cancelar a sua inscrição na ordem dos advogados. Não é tão simples, Saulo. Qualquer coisa que comprove que você agiu ilegalmente te anula, te destrói. Eu não quero você correndo esse risco.Engoli em seco em compreender de imediato. Mas tudo o que ela dizia fazia sentido. Ele é um homem frio; ela o conhece bem, eu nem tanto. Mal tive duas conversas com ele. E nessas duas, Otavio Prado só me mostrou que é um homem de negócios.- Jogue o jogo dele até onde der - prosseguiu. - A Francesca estava feliz ontem, até conversou comigo, perguntou sobre o Rafael, se mostrou interessada... até me tratou bem.Ergui a sobrancelha, sentindo-me um completo idiota. Eu deveria ter percebido.- Vamos jogar com eles - disse, com

Angelina Da Costa:Saí do prédio ligando para Rafael, do celular de Saulo. Ele não atendeu na primeira, nem na segunda, nem até eu chegar ao RH. Fitei o nome na porta: "Camila Rodrigues - Recursos Humanos".Débora, eu sei que é você. É a Lina. Por favor, me atenda, é urgente.Mandei a mensagem sendo direta. A porta foi aberta quase que imediatamente. Camila olhou em volta no corredor e abriu um sorriso ao me ver.- Ah, aí está você! Nossa, tem certeza de que está mal? - perguntou, ainda sorridente.Entrei em sua sala, suspeitando que ela, de todas as pessoas, me conhecesse bem demais.- Sim, terminamos. O Saulo é muito novo, é muito intenso, é muito... - Eu repetir o mesmo enredo, ela riu. Começou a rir alto, sem cerimônia.- Desculpa, amiga, mas tu tá com a cara de quem foi fodida pra caralho. A tua pele tá um escândalo, parece que gozou até morrer - disse, rindo, e se sentou atrás da mesa. Ela não estava errada, parecendo mesmo que me conhecia bem, talvez faltasse as lágrimas?Me jo

Angelina Da CostaO resto da tarde foi um tormento. Saí da copa para um escritório vazio. O Saulo tinha saído, e o meu celular estava sobre a mesa dele. Peguei-o de volta e soltei uma risada ao ver a mensagem que havia escrito para mim: "Eu te amo, minha ruiva maluca!"Eu tinha deixado o celular dele na gaveta da minha mesa; ia apenas devolvê-lo. "Ama mesmo? Hum... será que você não aceitou a companhia de alguém na minha saída?" ainda digitava quando o celular dele tocou nas minhas mãos. O nome "Fernando" surgiu na tela. Fiquei tão sem reação que nem sabia onde enfiá-lo. Coloquei-o de volta na mesa após abaixar o volume no desespero.Pouco depois, ele chegou, acompanhado de um homem. Eu me concentrei no trabalho, fingindo normalidade. A Francesca chegou atrás deles, assídua, como se estivesse seguindo o chefe.Quando deu meu horário, bati na sala do Saulo para avisar que ia embora. Ele apenas assentiu, sem negar. Fui de ônibus para casa, me sentindo tensa e cansada. A mente e o corpo,