Angelina Da CostaEu ainda almoçava quando Saulo mandou uma mensagem dizendo que já havia chegado à chácara. Perguntou: "Como foi a conversa?" Se é que houve conversa... Respondi apenas com um "Legal". Porque não foi. Ela não reagiu bem, pontuou nossa diferença de idade, o fato de ele ser meu chefe, eu sua funcionária... Tudo. Mas eu não queria que Saulo soubesse que poderíamos ser rejeitados.Terminei de almoçar, tomei um banho, vesti uma roupa leve. Ana Júlia terminou de lavar a varanda, desligou o som e não veio ao meu quarto. Só desligou o som - como se tudo tivesse acabado.Me deitei na cama. Depois de uma semana puxada, eu estava exausta. Não parecia tanto, mas sim... estava sobrecarregada. Cuidar da recepção praticamente sozinha, estudar casos, atender gente que mal me cumprimentava... Meu corpo pedia descanso. E namorando um homem mais novo? Bom, a frequência com que transávamos não era pouca coisa. E meu corpo já tinha desacostumado com isso.Fechei os olhos, querendo dorm

Angelina Da CostaO que Saulo queria era arriscado. Um homem sonhador... eu nunca tinha conhecido um desses. E a minha função nisso tudo? Nem ajudar, tampouco atrapalhar. O que ele queria, afinal? Salvar o mundo do vilão que é o próprio avô?Eu sabia bem que todo sonho e fanatismo por justiça morria fácil.Mas, ainda assim... eu gemi. Gozei com ele mais uma vez.Saulo se jogou ao meu lado, me olhando. Pegou a ponta de uma mecha minha colada às minhas costas e disse, ainda ofegante:- Todas depois da briga foram boas, mas essa... caralho, essa foi inesquecível.Seu peito subia e descia em arfar, a barriga suada. Eu também estava suada, ardendo, vermelha, descabelada. Deitada na cama, olhei para ele sem forças. As pernas ainda bambas.- Banho? - ele perguntou.Neguei com a cabeça. Talvez tivéssemos transado por uma hora... uma hora e meia sem parar.Ele sorriu, se aproximou e beijou meu ombro com carinho.- Nunca foi plano te envolver nisso, amor. Juro.Afirmei em silêncio. Mas dentro d

Angelina Da CostaUm bate e volta. Correria. Trânsito que não colaborava. Engarrafamento, parte da área industrial ficava justamente desse lado da cidade. Ana Júlia seguia calada no banco de trás. Em alguns momentos, trocávamos olhares pelo retrovisor. Ela sempre desviava. E eu... eu só queria entender. Entender o motivo daquela rejeição.Talvez fosse por não aceitar outro homem no lugar do pai. Mas isso jamais aconteceria.Saulo é mais novo. Já deixou claro que não pretende ser figura paterna. Mesmo falando de futuro, nada é certo entre nós. E quando a gente está com pressa, parece que o mundo gira ao contrário só pra atrasar ainda mais.- Você vai perder a primeira aula. - comentei, encarando o relógio. Faltavam vinte minutos para as nove.- Não é aula. Só vou assinar papelada: estágio, contagem de horas, revisão de disciplinas... Meu histórico não tá batendo. - respondeu ela, ainda sem me encarar.Mantive os olhos no retrovisor. - Como assim não tá batendo?Ela balançou a cabeça, n

Angelina da CostaNão era novidade alguma que o doutor Otávio quisesse arrumar um casamento entre um neto bastardo e uma Gutierrez. Eles sempre tiveram terras a perder de vista e isso o doutor Otávio nunca escondeu: seu interesse era notório. Frantesca pode não ser mais nenhuma virgem recatada, mas seria um bom acordo. Uma excelente oportunidade para o meu patrão fazer negócio. Saulo seria bem-quisto pelos Prado, enquanto Frantesca, já uma mulher "casada", seria bem-vista na alta sociedade.E por mais que eu tenha passado anos vendo casamentos sendo fabricados como se saíssem de uma linha de montagem, eu... decidi sentar e assistir. Ou melhor: viver. Talvez quebrar a cara fosse o meu destino. Raul já havia me destruído e nem por isso eu morri. Saulo... Saulo estava me fazendo viver de uma maneira nova. E dessa experiência, eu não queria abrir mão. Era como sonhar uma única vez. Sair do meu mundo e mergulhar em um conto de fadas, claro, com muitas brigas... e talvez algumas lágrimas.M

Angelina da CostaEu queria aproveitar o hoje.O agora.Cada segundo da minha vida sem atropelar o tempo, sem querer chegar no amanhã antes de viver o presente.Acordei mais cedo que o habitual.Saulo dormia relaxado na cama, o peito subindo e descendo num compasso lento. Peguei a camisa amarela dele, ainda impregnada com o perfume que talvez estivesse mais no meu corpo do que no tecido. Calcei os chinelos dele e, depois de uma higiene rápida, comecei a descer as escadas devagar.O dia ainda estava ganhando tonalidades.Hoje é o aniversário dele.Eu queria preparar um café e levar na cama, mas mal alcancei o terceiro degrau...- Ele não vai ver. Fica aqui... o que custa confiar em mim? - uma voz masculina sussurrou.- O problema, Rafael, é que eu não posso confiar em ninguém. Nem em você. Nem no Saulo que você tanto confia. Eu sou uma fodida... O Edgar pode me matar se quiser, a qualquer hora. O que você acha? - a resposta veio carregada de amargura. A voz... era de Débora.Meu corpo