EstelaMeus passos se apressaram instintivamente.O coração batia tão forte que parecia ecoar no peito. As mãos suavam, os olhos ardiam. Eu me escondi atrás da lateral da casa grande, respirando rápido, como se tivesse corrido uma maratona, quando na verdade, só estava fugindo. Dele.Ou talvez… de mim mesma.Encostei na parede de madeira antiga, tentando encontrar um fio de racionalidade em meio ao caos dentro de mim. Era como se tudo que eu tinha segurado por meses estivesse prestes a transbordar ali, naquele momento.— Filha… ouvi a voz suave da mamãe se aproximando. Está tudo bem?Tentei responder, mas a voz não saiu.Ela me olhou com ternura, com aquela calma que só as mães carregam no olhar. Se aproximou devagar, me envolvendo num abraço que me fez desmoronar por dentro. Respirei fundo, tentando me recompor.— Eu achei que estava pronta, murmurei, quase num sussurro. Mas ver ele... me desmontou.Ela não disse nada. Apenas apertou mais o abraço e depois passou a mão no meu cabelo,

Acordei com a luz suave da manhã entrando pelas frestas da cortina. O dia parecia calmo, mas dentro de mim… havia uma decisão borbulhando.Vesti um moletom leve e desci as escadas com passos ainda silenciosos, sentindo o cheiro de café fresco se espalhar pela casa. Meus pais já estavam na cozinha, mamãe passando manteiga no pão, e papai cortando frutas como sempre fazia. Ele sempre arrumava a mesa como se fosse um ritual de cuidado.Sentei ao lado deles, observando em silêncio.O jeito como ele olhava pra ela. Como pegava a xícara e a entregava com carinho. O modo como ela sorria com os olhos, agradecendo sem dizer nada. Tudo aquilo era tão simples… mas tão bonito. Tão cheio de verdade.Meu coração apertou.Era isso.Era isso que eu queria viver.Cuidar… e ser cuidada assim.— Pai… mãe… falei, interrompendo o silêncio leve da manhã. Eu vou me arrumar. Preciso do endereço do Guilherme.Os dois pararam, surpresos. Mamãe arqueou as sobrancelhas com um sorriso contido. Papai deixou a faca

EstelaO apartamento dele tinha cheiro de café antigo, livros… e alguma coisa só dele, algo que ficou grudado em mim desde sempre. Meu coração batia forte, quase doendo, enquanto eu caminhava devagar pela sala, sentindo o peso do olhar dele me seguir a cada passo. Quando parei e virei, ele já estava ali tão perto… e ainda assim eu queria mais.Ele me olhava como se eu fosse feita de vidro. Ou de fogo. E talvez eu fosse mesmo um pouco dos dois.Quando ele encostou as mãos na minha cintura, precisei conter o suspiro que ameaçou escapar. O toque era quente. Firme. Familiar. Meu corpo reagiu no mesmo instante, como se tivesse sido programado só pra responder a ele.— Estela… tem certeza? ele sussurrou, e só o jeito que meu nome soou naqueles lábios já foi o bastante pra me incendiar por dentro.Assenti, sem precisar dizer mais nada.Os dedos dele passearam pela lateral do meu corpo como se buscassem descobrir quem eu era agora, quem eu tinha me tornado longe dele. Meu corpo inteiro se arr

GuilhermeComemos no sofá mesmo, dividindo uma pizza e algumas risadas.Ela falava com a boca cheia, reclamava que eu tinha pegado a fatia maior e ria sozinha quando eu fingia ofensa.Estar com ela assim, leve, viva, solta… era como ganhar uma segunda chance de tudo que a vida me negou.Mas o riso dela ficou um pouco mais fraco de repente.Ela limpou os dedos num guardanapo, encostou o corpo no encosto e desviou o olhar.— Guilherme… ela disse, sem a doçura de antes, só com a sinceridade da Estela que eu conhecia de verdade. O que a gente faz agora?Parei de mastigar.— Agora…?— É. Com isso. Com a gente. Com o que aconteceu hoje.— Você tá arrependida?— Não. respondeu na hora. Só tô tentando entender onde isso vai dar. Eu ainda tenho quase dois anos de aula em Nova York. E você… você tá aqui. No Brasil. Na sua vida.Fiquei em silêncio por um momento. O tipo de silêncio que eu costumava me esconder dentro.Mas dessa vez, ela esperava mais. E ela merecia mais.— Estela, eu passei tem

GuilhermeAssisti ela desaparecer pelo portão de embarque e permaneci ali, parado, sem conseguir me mover.Parecia que, se eu saísse daquele lugar, estaria aceitando que ela realmente foi. Que aquele fim de semana intenso e absurdo tinha acabado.Meus olhos ardiam, minha garganta estava seca. E, mesmo cercado de gente, era como se o mundo tivesse silenciado.Ela foi.E metade de mim foi junto.Quando o avião decolou, dei as costas e fui até o carro como quem carrega pedra no peito. Sentei atrás do volante e respirei fundo, lutando contra o impulso de correr até a pista e gritar pra ela não ir.Mas eu não podia. Ela tinha uma vida lá.E eu… tinha que continuar com a minha aqui.Liguei o carro e segui pro hospital.O plantão me aguardava com a frieza habitual, e aquilo foi quase um alívio. Era como mergulhar de volta no piloto automático, no lugar onde emoções eram abafadas por jalecos, protocolos e urgência.Mas não durou.O cheiro dela ainda estava na minha camisa. A lembrança do gost