A chuva caía fina sobre os telhados de Londres, como um sussurro triste de que o tempo também adoecia com ela. Alicia passou os últimos três dias quase em completo estado febril. O corpo debilitado já não respondia, o enjoo matinal era apenas o início de ondas de náusea que vinham e voltavam durante todo o dia.O celular permanecia desligado, esquecido em cima da cômoda. Nem mesmo Lorena havia conseguido arrancar dela uma palavra desde a visita.Alicia estava exausta. Não apenas fisicamente.Havia algo em seu peito que doía como se estivesse sendo esmagado — um cansaço emocional, como se sua alma estivesse apodrecendo em silêncio.Ela não queria ver ninguém.Não queria que Victor a visse naquele estado.Não queria que Renzo insistisse com mensagens.Não queria encarar o que estava se tornando.Mesmo deitada, com os olhos fechados, sua mente não parava de martelar perguntas:Estaria grávida?E se estivesse... o que Victor diria?E se ele... não a quisesse mais?Seu instinto lhe dizia q

Alicia chegou cedo ao edifício da D’Abruzzi Corporation. O ar da manhã era frio, mas havia uma firmeza nos passos dela, um brilho renovado nos olhos. Estava recuperada da febre e determinada a cumprir a solicitação de Victor. Vestia um conjunto elegante, mas confortável, e o cabelo preso em um coque baixo revelava sua nuca delicada.Subiu pelo elevador com o coração acelerado. Ainda pensava na noite anterior, no modo como Victor a cuidara, na forma como ele a olhou enquanto adormecia. Era estranho sentir-se tão protegida e vulnerável ao mesmo tempo.Já instalada em sua sala, revisava os relatórios do último contrato quando uma batida breve soou na porta.Renzo entrou com sua habitual elegância, sempre discreto.— Dra. Parker, bom dia. O senhor D’Abruzzi pediu que você se dirigisse à sala de reuniões 1 às 9h30. Disse que gostaria de iniciar o dia com os alinhamentos dos contratos da filial de Munique.Ela assentiu, agradecendo. Renzo permaneceu um instante a mais na porta, observando-a

Melanie Cristy não saiu da reunião junto aos demais. Permaneceu sentada, com o maxilar travado e os olhos fixos na porta por onde Victor havia desaparecido. O anúncio da nomeação de Alicia Parker como consultora jurídica permanente da presidência havia sido o golpe mais cruel — e público — que já levara na carreira.Ela se levantou lentamente, ajeitando a saia lápis como se estivesse em pleno controle, mas por dentro, um vendaval de raiva e estratégia já se formava.Foi direto para a sala da Diretoria Administrativa, onde nos últimos dias vinha construindo suas alianças. Mulheres da alta gestão que nutriam certa antipatia por Alicia, seja pela beleza natural, seja pela rápida ascensão ao círculo mais próximo de Victor, já haviam sido cuidadosamente alimentadas por Melanie com suposições maliciosas e sorrisos ensaiados.— Sabem o que isso significa, não é? — começou ela, jogando a pasta sobre a mesa. — A empresa inteira vai pensar que ela está nessa posição porque está dormindo com ele

Alicia desceu da limusine preta com discrição. O motorista a havia deixado na entrada lateral, a pedido de Victor, para evitar os olhares curiosos que se espalhavam como pólvora pelos corredores da D’Abruzzi Corporation.O salto de couro claro batia firme no mármore liso do hall. A roupa que usava, de corte clássico e ao mesmo tempo ousado, chamava atenção por onde passava. Era como se dissesse: ela pertence a um lugar acima da intriga e da inveja.Mas por dentro, ainda pulsava o eco de tudo o que vivera nos últimos dias. A doença súbita. As manipulações. A suspeita crescente de estar grávida. E agora… o olhar apaixonado de um homem como Victor D’Abruzzi. Era demais para processar, mas ela aprendera a sorrir com compostura e caminhar com firmeza mesmo quando o mundo parecia prestes a desabar.Ao chegar à sala, foi surpreendida por um bilhete delicadamente disposto sobre a mesa.“Você é a mulher que eu escolhi. Não esqueça isso nem por um segundo. — V.”Ela respirou fundo, sentindo o c

Alicia despertou nos braços de Victor, sentindo a respiração quente dele tocar sua nuca. O peito firme dele subia e descia suavemente, e por alguns minutos ela apenas ficou ali, ouvindo o compasso do coração que, de forma estranha, parecia sincronizar-se com o seu. Havia paz naquele silêncio. Uma paz rara.Mas não havia tempo.Ela se levantou devagar, caminhou até o banheiro e, quando voltou, Victor já estava sentado na cama, ainda sem camisa, com os olhos claros a observá-la como se ela fosse a única coisa viva no mundo.— Está pronta? — ele perguntou, com a voz rouca da manhã.— O mais pronta que eu poderia estar — respondeu, tentando sorrir, mesmo com o nervosismo girando no estômago.Victor vestiu-se com elegância discreta, e juntos saíram cedo, ainda antes do movimento da cidade começar. Ele havia enviado uma mensagem para seu amigo de confiança, ginecologista renomado que atendia discretamente em uma clínica privada em Notting Hill. O médico era reservado e já esperava por eles