O dia começou calmo, quase indiferente. O segurança permaneceu em vigilância, estacionado discretamente a algumas quadras do café e depois do prédio de Cecília, observando cada movimento da rua e cada pessoa que passava.Mas, diferente dos dias anteriores, o pai de Cecília não apareceu. Nem na esquina, nem na rua lateral. Nem sinais de que estivesse rondando. O profissional manteve a rotina, atento e discreto, mas sem precisar intervir.Enrico, por sua vez, passou o dia imerso em reuniões e telefonemas, tentando focar no trabalho, mas a mente não parava de viajar para Cecília. Cada notificação do segurança, cada atualização, mantinha seu coração em alerta. Era como se parte dele estivesse sempre no apartamento dela, acompanhando cada passo invisível, garantindo que ela estivesse bem.O tempo passou lentamente. No meio da tarde, Enrico finalizou sua última reunião. Respirou fundo, sentindo o alívio silencioso de que, naquele dia, não houve incidentes.A caminho do aeroporto passou rapi

Alguns dias se passaram desde o café da manhã com a caixinha de veludo. Enrico não tocou no assunto do pedido, e Cecília também não. O silêncio entre eles não era pesado, mas carregava uma tensão sutil, um jogo de olhares e gestos que falavam mais do que palavras poderiam expressar.Cecília se pegava pensando na caixinha todos os dias. Sentia um frio no estômago ao imaginar abrir e aceitar, ao mesmo tempo em que sentia medo. Medo de perder a liberdade que havia conquistado com tanto esforço e autonomia. E, se não aceitasse, um outro medo maior se instalava: o medo de perder o homem que amava, aquele que preenchia cada pedaço de sua vida com cuidado, presença e intensidade.Naquela tarde, estavam no apartamento de Enrico. O clima era tranquilo, com o sol filtrando-se pelas janelas e criando um padrão dourado no chão da sala. Cecília mexia em alguns papéis sobre a mesa enquanto Enrico lia algo em seu laptop, cada um perdido em seus pensamentos, mas confortáveis na companhia silenciosa u

O sol entrava lentamente pelas janelas do apartamento de Cecília, espalhando um brilho suave sobre os móveis e as paredes claras. O cheiro de café recém-passado flutuava pelo ar, misturado com o aroma de pão fresco e frutas cortadas.Enrico acordou, ainda envolto pelo calor da cama e pelo sono leve que teimava em permanecer. Levantou e caminhou até a cozinha, observando Cecília, concentrada, mexendo panelas e utensílios com aquela calma natural, mas que agora parecia cheia de cuidado especial.— Bom dia… — murmurou ele.Cecília olhou para ele e sorriu, com a expressão iluminada pelo sol da manhã.— Bom dia! — respondeu, a voz suave. — Preparei um café da manhã especial pra você. É seu aniversário, não podia deixar passar em branco.Enrico se aproximou dela, sentindo o cheiro do café e do pão, e não pôde evitar um sorriso de ternura.— Você é incrível… — disse, depositando um beijo suave na testa dela.Sentaram-se à mesa, lado a lado, saboreando o café, os ovos mexidos, o pão quentinho

O silêncio que se instalou após as palavras de Sabrina parecia pulsar por entre os talheres e taças. Cecília manteve a postura ereta, mesmo sentindo o calor subir lentamente pelo pescoço.Enrico respirou fundo, sentindo os músculos dos ombros se contraírem sob o paletó. Conhecia bem aquele tipo de silêncio — não era de surpresa inocente, mas de avaliação cuidadosa. Antes que alguém pudesse prolongar o desconforto, ele pousou calmamente o guardanapo sobre a mesa, olhou para Sabrina e, com um sorriso controlado, falou.— De fato, Sabrina, muita coisa mudou desde então. — A voz saiu firme, modulada, carregada de elegância e intenção. — E eu diria que… algumas mudanças foram as melhores que poderiam ter acontecido.Houve um breve murmúrio entre os convidados. O sorriso de Sabrina se manteve, mas os olhos estreitaram sutilmente, como se buscassem novas frestas por onde atacar. Cecília sentiu o toque da mão de Enrico sobre a dela — firme, não como um gesto de posse, mas de apoio silencioso.

O espelho refletia uma mistura de nervosismo e expectativa. Cecília ajeitou o vestido pela terceira vez, tentando controlar o tremor sutil das mãos.O verde-esmeralda realçava o tom claro da pele e fazia o cabelo ruivo dela brilhar ainda mais — uma escolha pensada, não por acaso. Ela sabia o quanto Enrico adorava aquela cor nela. Respirou fundo, ajustando os brincos e observando o reflexo com uma mistura de insegurança e esperança.Sabia que a noite não seria fácil.Por mais que desejasse o contrário, ela e Olga dificilmente seriam amigas. Mas ainda havia uma parte de Cecília que acreditava — ou queria acreditar — que poderiam, ao menos, manter o respeito uma pela outra.Cecília pensou nas palavras que escolheria, nos gestos que deveria conter. Tentava convencer a si mesma de que bastava ser gentil, cuidadosa, e tudo ficaria bem. Mas o nó no estômago denunciava que talvez não fosse tão simples assim.Na sala, Enrico estava sentado no sofá, o paletó já alinhado e a mente distante. Tinh