POV Isadora — Ainda acredita em mim? — Sempre acreditei. — respondi sem hesitar. — O mundo pode gritar o que quiser. Eu sei quem você é. O olhar dele suavizou, por um instante, e eu vi o homem por trás do caos. Aquele que ria comigo no meio da madrugada, que embalava nossa filha com uma paciência infinita. Mas logo, o Dante empresário, o homem público, voltou à tona. Ele respirou fundo e se afastou, o semblante voltando a endurecer. — Preciso buscar uns documentos na minha sala antes de irmos — disse ele, o tom voltando ao prático. — Quero evitar a imprensa na saída. O estacionamento subterrâneo está livre, estacionei lá embaixo. Ele tirou a chave do bolso e me entregou. O toque rápido dos dedos dele contra os meus era quase um pedido silencioso: espera por mim. — Não demora — pedi, baixinho. — Cinco minutos. Prometo. — Ele forçou um meio sorriso. Peguei as chaves e desci. O corredor estava quase vazio, o som dos meus saltos ecoando nas paredes de cimento cru. O elevador levo

Pov Heitor Montenegro O ar frio da noite cortava meu rosto enquanto eu abria a porta de casa, cada movimento um lembrete do estrago que Dante Harrison tinha deixado. O gosto de sangue ainda estava na minha boca. Minha mandíbula latejava, o maxilar parecia ter se soltado do resto do corpo. Cada respiração doía, não só por fora, mas por dentro também.O corredor estava silencioso, só o som do relógio antigo da sala marcando o tempo. E então, como um trovão vindo do nada, ouvi a voz dela.— Meu Deus, Heitor! — Célia apareceu na escada, o olhar arregalado, as unhas longas segurando o corrimão. — O que foi isso?! O que aconteceu com você?Joguei a chave sobre o aparador e ri, um som rouco, amargo, completamente deslocado.— O que aconteceu? — repeti, cuspindo um pouco de sangue no lenço que tirei do bolso. — Aconteceu que Dante Harrison me socou.O silêncio que veio depois disso foi pior que qualquer grito. Ela desceu os degraus devagar, os saltos fazendo eco no chão de mármore, os olhos

Pov Isadora Ele quebrou o beijo por um instante, apenas o suficiente para arrancar a própria camisa e deixá-la cair sobre o blazer. Seus olhos, agora completamente escuros na penumbra, devoraram-me. Havia uma reverência na forma como suas mãos subiram novamente, desta vez para deslizar as alças do meu vestido pelos meus ombros. O tecido, leve, cedeu ao peso, escorregando lentamente pelo meu corpo até formar um círculo escuro aos meus pés. Fiquei ali, exposta ao vento, ao sal, ao olhar dele, e senti meu corpo responder com um rubor quente, não de vergonha, mas de antecipação. — Isadora... — meu nome saiu dos lábios dele como uma oração, um som rouco e quebrado. Sua mão tocou a curva do meu seio por cima do sutiã, um toque leve, quase experimental. Eu arquei contra seu toque, um gemido mais audível escapando de mim. Foi o sinal que ele parecia esperar. Seus dedos encontraram as costas do meu sutiã, e com um movimento hábil, o fez se abrir. Quando a peça caiu, seu olhar desceu, e a

POV IsadoraA notícia chegou como chegam as coisas que mudam tudo: sem aviso, sem gentileza, sem dar tempo pra respirar.O celular de Dante vibrou uma vez, e a vida que a gente estava reconstruindo, tijolo por tijolo, riso por riso, desabou com uma única mensagem.Ele estava sentado no tapete da sala, Sofia no colo, rindo com aquela risada de bebê que enchia a casa de luz. O som que me fazia esquecer tudo de ruim. E então… vibrou. Ele olhou a tela, ficou quieto por um segundo, e o brilho nos olhos dele simplesmente apagou.O silêncio que veio depois foi uma coisa viva. Espessa. Fria.— Dante? — chamei, sem entender o peso que se instalava.Ele demorou pra responder. Quando finalmente falou, a voz dele era baixa, rouca, meio oca.— Meu pai morreu.Foram três palavras. Só três. Mas pareceram um trovão dentro do peito.De repente, o mundo ficou pequeno. A casa grande, o som do mar lá fora, a luz suave da manhã… tudo pareceu distante, irrelevante. Só sobrou ele, parado, ainda segurando a

POV Dante Editora Vertigem — tarde do mesmo dia A porta de vidro da Vertigem fechou atrás de mim com um estalo seco. Normalmente aquele som me trazia paz, minha casa nova, minha vida nova, minha segunda chance, mas hoje, ele soou como uma sentença.A leitura do testamento ainda latejava dentro da minha cabeça. Cada palavra. Cada olhar. Cada veneno disfarçado de condolência. O olhar da minha mãe. Frio. Clínico. Como se eu fosse uma falha de fabricação que ela estava tentando compreender. O olhar dos meus irmãos ou o que quer que eles fossem pra mim. A surpresa deles não foi de luto. Foi de ganância ferida. Eles queriam as migalhas do império. Meu pai deixou tudo pra mim. E isso… isso os destruiu mais do que a morte dele. Enquanto eu caminhava até minha sala, cada passo parecia mais pesado que o anterior. Meus pensamentos vinham em espirais agressivas, atravessando lembranças antigas que eu preferia manter enterradas. “Você vai assumir essa empresa algum dia.” “Você vai carregar