Narrado por Zalea BaranovOs dias escorreram lentos desde que minha pele conheceu os punhos de Ivan. O corpo, marcado por hematomas sombrios, tornou-se um mapa da dor, e cada respiração se tornava um ato de coragem. Havia algo quase poético naquele sofrimento — como se meu corpo estivesse aprendendo a conversar com a dor em silêncio. Mas nem isso era libertador. Era apenas mais uma cela, mais um açoite invisível.A casa sussurrava em vozes baixas, e eu, sua prisioneira, escutava tudo do fundo do meu quarto. A luz filtrada pelas cortinas pesadas parecia hesitar antes de tocar minha pele. Nada ali era leve. Nem a luz, nem o tempo, nem a memória.Dione era a única sombra que não me assustava. Silenciosa, macia como neve recém caída, ela se aproximava com mãos cuidadosas e palavras que não ousavam ferir. Não a compreendia. Talvez fosse mais uma peça no jogo de Ivan. Ou talvez… talvez ela também fosse uma prisioneira de aparência livre.Naquela manhã, a maçaneta girou com um lamento suave

Narrado por Zaiden MarevickO gosto de Zalea ainda queimava nos meus lábios. Doce e amargo como um pecado. Um beijo roubado entre as grades douradas de um mundo condenado. Ela havia tremido contra meu peito, e por um momento o tempo inteiro cessou. Tudo ao redor evaporou, como se restássemos apenas nós dois — predador e presa, cúmplices de um destino que jamais nos pertenceria por completo.A segurei pela cintura, firme, como se ela pudesse escorregar entre meus dedos e desaparecer. Ela era feita de silêncio, de dor contida, de uma beleza que doía só de olhar. E mesmo assim, mesmo com os olhos escurecidos pela tristeza, me desafiava. Aquele olhar… aquele maldito olhar. Era como cair de um precipício e sorrir no meio da queda.Inclinei-me até sua testa roçar na minha, sentindo sua respiração quente, entrecortada.— E se eu não tivesse noiva? — perguntei, minha voz era sombra e promessa.Ela piscou, surpresa. Não com as palavras, mas com a possibilidade. Como se não tivesse direito sequ

Narrado por Zalea BaranovDizem que os monstros andam à noite.Mentira.Os monstros têm rosto de homem e olhos que queimam mais do que qualquer inferno que um deus falho poderia criar. Eles caminham entre nós, elegantes, sedutores, e sabem exatamente quais palavras sussurrar para nos manter cativas. E eu… sou a perfeita prisioneira.Zaiden.Mesmo agora, enquanto caminho na escuridão em direção ao ponto de encontro, sei que estou indo ao encontro de alguém que poderia me destruir com um único gesto. Cada passo é uma traição. Cada batida do meu coração é uma confissão.A noite envolve tudo com sua capa cúmplice. O som abafado dos meus sapatos contra o chão úmido é como um tambor de guerra dentro da minha cabeça. Meus dedos apertam o casaco com força, como se o tecido pudesse conter a tempestade que se agita em meu peito.Ele me espera.E mesmo antes de vê-lo, sinto sua presença. Um campo magnético que me arrasta, me seduz… me condena.Zaiden Marevick está encostado no parapeito de pedra

Narrado por Zaiden MarevickA pista de patinação dormia sob a respiração fria da madrugada, envolta num silêncio quase sagrado. O gelo refletia a luz pálida do luar, e cada centelha congelada parecia vibrar com a tensão entre nós dois.Ela estava ali.Tão perto.Tão pronta para fugir.Tão pronta para se perder.Zalea.A menina feita de faca e melancolia, que dizia “não” com os olhos mesmo quando a boca tremia de desejo.Eu me aproximei, sentindo o ranger do gelo sob minhas botas ecoar como promessas quebradas. Meus olhos prenderam os dela — grandes, escuros, com aquele brilho que me desafiava a desvendá-la, a destruí-la, a salvá-la. Ela era a única que me fazia esquecer o controle. Ou querer fingir que eu o perdi.Estendi a mão, e toquei seu rosto.A pele dela estava fria, mas havia um calor oculto, quase como um segredo guardado sob a superfície. Meu dedo deslizou pela mandíbula delicada, marcando território como um predador que já sabia que aquela caça pertencia a ele.— Você acha q

Narrado por Zaiden MarevickA agarrei com o desespero de quem assiste o céu desabar sobre a própria cabeça. Nossos rostos estavam tão próximos que eu podia sentir cada tremor da respiração dela, cada batida trêmula que escapava do peito contido. E mesmo assim, ela ainda tentava fugir.— Você acha que eu não faria qualquer coisa por você? — murmurei, a voz saindo em um sussurro rouco, como se minha garganta estivesse sendo dilacerada por dentro. Minhas mãos subiram até o maxilar dela, forçando-a a me olhar, a me ver — realmente me ver — mesmo que o mundo inteiro ao redor de nós estivesse desmoronando. — Acha que eu colocaria sua vida em risco sem ter um plano para te tirar dessa maldita prisão?Ela se moveu, tentando escapar do meu toque, mas eu não permiti. Apertei com mais firmeza — não para machucá-la, mas para impedi-la de desaparecer como um sonho ruim antes do amanhecer.— Eu não posso errar com você, Zalea. — Minha voz saiu densa, entrelaçada com a dor que rasgava por dentro. —