A música começava a mudar o ritmo, assumindo tons mais cerimoniosos. Os tambores cessaram, e uma flauta grave e melodiosa tomou o espaço, anunciando a chegada de figuras importantes. A multidão se virou, respeitosa, quando um pequeno cortejo desceu as escadarias de mármore do palácio. — Quem são eles? — sussurrou Clarice, puxando Nara pelo braço. — Ah… — Nara endireitou os ombros, animada. — Os filhos da rainha. À frente do grupo vinha um homem alto, cabelos castanhos escuros e olhos dourados. Seu porte era digno de um príncipe de guerra — havia algo felino em sua movimentação, como se dançasse mesmo ao caminhar. Vestia roupas formais de Arkhadia, mas seu olhar avaliador pousou diretamente sobre Clarice por um segundo mais demorado. — Aquele é Kaelion, o primogênito. Guerreador. Frio como neve e intenso como fogo. — Nara sorriu. — E ali estão os gêmeos, Erien e Elian — apontou para dois jovens loiros de sorrisos idênticos — e o caçula, Syren. O mais gentil deles, e estudioso da

O sol nascente dourava as torres de Arkhadia, e o ar já carregava o perfume doce das flores recém-colhidas para o Festival de Verão. Músicas suaves ecoavam pelos corredores do castelo, e Clarice abriu os olhos sentindo algo diferente dentro de si. Uma inquietação quente, vibrante, pulsando sob sua pele. Sentou-se na cama lentamente. Suas mãos tremiam um pouco. *** Está tudo bem Lyn?… *** Não sei, sinto algo diferente no ar, talvez excitação pelo festival não sei. Lyanna disse pensativa. Antes que pudesse pensar muito, alguém escancarou a porta. — Acorda, dorminhoca! Hoje é o Festival! — exclamou Nara, com os braços carregados de vestidos. — Pelo amor da deusa, Nara, ainda é cedo… — resmungou Clarice, tentando esconder o rosto no travesseiro. — Cedo nada! É o dia mais bonito do ano! E você vai se arrumar sim! Olha essas cores! Tem dourado, vermelho, azul-estrela… Mas acho que você combina com esse! — disse, sacando um vestido verde-esmeralda e erguendo com orgulho. — Vo

No dia seguinte, emissários dos reinos vizinhos começaram a chegar. Clarice, escondida atrás de uma varanda interna, observava os estandartes com curiosidade. — Esses são os homens de Virkendel, reino das Montanhas de Ferro — comentou Ashen, surgindo ao seu lado. — E parecem todos mal-humorados — murmurou ela. — Eles são. E são perigosos. A última vez que vieram a Arkhadia, o rei deles exigiu um mapa das terras mágicas do sul. O rei Kaelith recusou. Eles nunca esqueceram. Clarice observou um dos homens de armadura escura descer do cavalo, os olhos varrendo o pátio como se procurasse algo específico. — Ele parece… inquieto. Ashen estreitou os olhos. — É porque ele sente algo diferente aqui. A aura da sua loba é sutil, mas poderosa. E alguns homens são sensíveis a isso. Clarice engoliu em seco. — Acha que me reconheceu? — Não. Ainda não. Mas vai começar a fazer perguntas. Ashen puxou o capuz dela para baixo com cuidado. — Fique fora de vista por enquanto. Vamos ganhar t

Dois anos depois.O sol estava no auge, queimando sobre os campos de treinamento ao sul de Arkhadia, onde estandartes tremulavam com o brasão do reino: um lobo em meio à aurora. E lá estava ela. Sozinha no centro do campo de batalha, Claer de Arkhadia — corpo firme, respiração controlada, olhos prateados brilhando sob o capacete parcialmente abaixado.Ao seu redor, dez soldados caíam um a um, vencidos sem sequer conseguir encostar a lâmina nela.— Chega.A voz de Ashen ecoou firme da arquibancada, e o restante dos combatentes se ergueu do banco, aplaudindo com fúria e reverência.Ashen desceu os degraus com passos pesados, carregando sua própria espada nas costas.— Isso não é treino, Claer. Você acabou com eles como se fossem sombras. Eles são jovens soldados, não sacos de areia.Claer, ainda com a respiração regular, abaixou a espada e ergueu o elmo. Seus cabelos escuros com mechas prateadas estavam presos em tranças firmes.— Eu avisei que não deviam subestimar uma loba.Ashen revi