Seis meses se passaram desde aquela noite transformadora no jardim. Clarice não manteve a sensação de leveza o tempo todo, como Sol havia previsto, mas ela lembrava. Lembrava-se da conversa, do amanhecer, do cheiro da terra molhada. E, sempre que a antiga Clarice — controladora e ansiosa — tentava ressurgir, ela respirava fundo, fechava os olhos e se permitia sentir o imponderável. A maior e mais bela mudança em sua vida, porém, foi a pintura. Começou por impulso, com um conjunto de tintas a óleo e uma tela em branco que havia comprado sem motivo aparente. No início, tentou controlar cada pincelada, cada tom, cada sombra. Mas então, a voz de Sol ecoou em sua mente: — A vida não é um mapa onde podemos desenhar as rotas... Às vezes, o que mais precisamos é nos entregar ao que não sabemos. Clarice passou a pintar sem planos definidos. Deixava as cores se misturarem, as formas surgirem, as emoções guiarem sua mão. Suas telas tornaram-se explosões de cores e texturas — paisagens abstrata
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