O tempo, às vezes, sabe ser cruel. Outras vezes, é generoso. Nos meses que se seguiram à ameaça deixada na porta de casa, aquela boneca profanada com o vestido rasgado de Vitória e a carta marcada com sangue o tempo fez as duas coisas.Cruel porque nos manteve em estado de alerta. Em cada esquina, em cada porta, em cada olhar de desconhecido. Nos fez dormir com um olho aberto e acordar com o coração aos pulos.Mas também foi generoso. Porque, ainda que sob tensão, ele nos deu algo precioso, instantes de paz entre as brechas da guerra.Vitória crescia em meio ao caos, mas cercada de amor como uma muralha invisível que nenhum inimigo ousaria romper.Ela estava prestes a completar dois anos. Falava mais, se comunicava com o mundo como se quisesse compreendê-lo, moldá-lo ao seu jeito.— Mamãe, jamin! — ela dizia, apontando para as flores do jardim, que ela insistia em chamar de “jamins”.Ela não sabia, mas esse nome doce, inventado p
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