No fim da tarde, ouço batidinhas leves na porta. Reconheço de imediato. É Clara.Abro com um sorriso. Ela está com os cabelos presos num coque torto, as mãos cheias de sacolas de feira.— Trouxe umas frutas boas. Seu pai gosta de banana, né? — diz, entrando sem cerimônia.— Vai amar. Está comendo pouco, mas o que come, escolhe com carinho — respondo, pegando as sacolas.Ela vai até ele, se abaixa devagar ao lado da poltrona, segura sua mão com ternura.— E aí, campeão?Meu pai sorri, fraco, mas genuíno.— Continua aqui, firme. Só um pouco mais lento — brinca, tentando soar forte.Clara conversa com ele como se o tempo não tivesse passado. Como se ele ainda fosse aquele homem que a ajudava a consertar a torneira, carregar as compras, dar conselhos. E talvez, para ela, ele ainda seja. Eu observo de longe, sentindo o nó na garganta se formar de novo.Depois, enquanto ela me ajuda a organizar as compras na cozinha, fala baixo, com aquele olhar preocupado de sempre:— Tenho notado que ele
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