Eu preciso falar com Anna. Eu preciso alertá-la sobre quem é Rafael.
Rafael
Ajusto a tipoia no ombro esquerdo com cuidado, tentando disfarçar o incômodo que insiste em me lembrar da dor a cada pequeno movimento. Pelo menos o carro é automático — se fosse manual, eu estaria totalmente fora de combate. Esse segundo carro, que comprei quase por impulso, me pareceu uma decisão sem graça na época. Hoje, reconheço que foi um raro acerto em meio ao caos.
Enquanto aperto o botão de ignição e o motor ronrona suavemente, me pego questionando o que, afinal, me levou a convidá-la para almoçar. Já faz tanto tempo que não chamo alguém para sair sem um motivo oculto, sem algum objetivo egoísta por trás. A verdade é que, ultimamente, cada encontro que tenho parece cumprir uma função específica: me distrair, preencher o vazio, ou — na maioria das vezes — manter a ilusão de que estou bem. Que sigo em frente. Que nada me afeta.
Mas hoje é diferente. Pela primeira vez em muito tempo, não quero nada além de uma conversa. Sem segundas intenções. Sem jogos. Sem o roteiro pre