A sala mergulhou em um silêncio absoluto. Cada respiração parecia mais alta que um trovão, cada pequeno movimento ecoava, e mesmo o menor sussurro poderia denunciar a todos. As crianças lutavam para não chorar ou gritar. Noah sentia o coração disparar tão forte que parecia que iria saltar do peito, as mãos coladas à mesa, as pernas tremendo de maneira quase involuntária. Ele trocava olhares rápidos com Lucas, que mantinha o lábio mordido até quase sangrar, e com Kaio, que escondia o rosto nos braços sobre a mesa. Tobi, em contraste, permanecia rígido, encarando a porta, com os olhos fixos como se pudesse impedir a entrada dos invasores apenas com o olhar. A professora, estava em choque. Suas mãos trêmulas seguravam a chave com força excessiva, os dedos apertando na tentativa de não deixá-la cair. O corpo dela estava tenso, cada músculo rígido, cada respiração um esforço. Ela sentia o peso esmagador da responsabilidade sobre si: cada criança naquela sala dependia dela. Do outro lado d

O grupo tático, que aguardava ordens, avançou em formação. Os agentes da linha de frente, com escudos balísticos erguidos, correram em direção à porta principal. Atrás deles, outros policiais carregavam armas, equipamentos de arrombamento e granadas de efeito moral. O som metálico de armamentos sendo preparados substituiu o choro dos pais por alguns instantes.— Equipe Alfa, entrada pelo corredor central. Bravo, pela ala do ginásio. Não parem até localizar todos os civis! — ordenou o comandante.Um estampido ecoou e a porta principal foi arrombada. A escola, antes apenas cenário de terror, agora se transformava em um verdadeiro campo de batalha.Assim que entraram, o silêncio foi quebrado por tiros vindos de dentro. Estilhaços de vidro caíram pelo chão. Os criminosos, percebendo a entrada da polícia, reagiram com violência.— Contato! Ala leste! — gritou um policial, abrindo fogo controlado.A troca de tiros foi ensurdecedora. Corredores antes preenchidos por gemidos e súplicas agora

O sábado amanheceu silencioso, como se o próprio bairro tivesse absorvido parte do trauma vivido naquela semana. As ruas estavam mais vazias, vizinhos evitavam barulhos desnecessários, e cada jornal ou canal de televisão ainda girava em torno da mesma tragédia. Para muitos pais, apenas pensar em deixar os filhos saírem de casa já parecia um risco imenso.Na casa de Eduardo e Jinx, o clima ainda era de convalescença. Noah passava boa parte dos dias quieto, agarrado ora ao colo de um, ora ao do outro, evitando a qualquer custo permanecer sozinho. Dormia mal, acordando com pesadelos, e com frequência caminhava pela madrugada até o quarto deles para se deitar entre os dois. Eduardo e Jinx nem cogitavam recusar: quando o menino batia na porta, eles apenas abriam os braços.Naquele sábado específico, Noah estava deitado no sofá, mexendo distraidamente no celular. Foi quando o aparelho vibrou mais forte: uma mensagem no grupo que ele dividia com os três colegas mais próximos.Lucas: Oi, gent

Kaio tinha recebido alta algumas horas antes. O clima ainda era de tensão, mas também de alívio. Agora, de volta à casa de Eduardo, Noah parecia mais tranquilo, apesar do cansaço evidente nos olhos. Ele se aconchegava no sofá, abraçado a uma almofada, enquanto Jinx organizava algumas coisas na cozinha e Eduardo fechava a porta após as mães de Lucas e Tobi irem embora com os filhos.Assim que o silêncio se instalou, Jinx bateu palmas, com aquele jeito dela de querer virar a página.— Um dia ruim como esse merece, no mínimo, sorvete e o filme favorito do Noah. O que você acha?Noah ergueu o rosto, surpreso com a sugestão, e seus olhos brilharam um pouco.Eduardo, que estava apoiado no batente da porta, deixou escapar um meio sorriso, cansado, mas verdadeiro.— Concordo. — respondeu, olhando para o garoto. — O que você acha, campeão?Noah mordeu o canto da boca, sem conseguir segurar o sorriso. Ele acenou energicamente, os olhos marejando de felicidade por aquele momento de normalidade.

Noah estava sentado no sofá macio do consultório, uma sala ampla, mas aconchegante, com paredes em tons claros e quadros coloridos que passavam tranquilidade. A psicóloga era uma mulher de fala calma e muito bonita, ela ajeitou a cadeira à frente dele, deixando uma distância confortável, nem perto demais, nem distante demais. Ela sorriu novamente, tentando deixá-lo à vontade. — Então, Noah, — começou ela, com voz suave — quero que você se sinta em casa aqui. Esse é um espaço só seu, para falar do que quiser, sem pressa, nem julgamento. Tudo o que você disser aqui é importante. Noah mexeu nos dedos, inquieto, o olhar fugindo de um lado para o outro. Eduardo e Jinx estavam sentados do lado de fora e Noah teria que conversar só com ela. — Pode começar me contando como está se sentindo ultimamente? — incentivou a profissional. Noah respirou fundo, ergueu os ombros e depois os deixou cair. — Não sei… acho que estou tentando… ficar normal. — Normal? — repetiu a psicóloga, inclinando l