“Lorenzo Villani”O armazém na zona industrial, sob nosso controle há anos, está silencioso demais para um local que teve movimento suspeito há apenas uma hora.Já faz quarenta minutos que inspecionamos cada fileira de caixas, e a cada passo que dou, minha desconfiança só aumenta.Três homens foram vistos por aqui, mas algo não bate. As evidências são sutis demais, quase inexistentes. Para quem supostamente investigava nosso território, deixaram rastros de menos.— Vocês têm certeza de que viram alguém aqui? — pergunto, revistando pela terceira vez as caixas próximas à entrada.— Absoluta — Giuseppe insiste. — Três homens, no mínimo. Estavam verificando as entradas, como se planejassem algo.Franzo a testa.Em quinze anos lidando com invasões territoriais, nunca vi nada tão… limpo. Invasores de verdade sempre deixam bagunça, sinais óbvios.Caminho até o centro do galpão, analisando cada canto. Está tudo quase normal e isso é o que mais me incomoda. Quando parece fácil demais, é porque

“Lorenzo Bianchi” Há duas horas, estamos em um escritório improvisado em um dos nossos armazéns. Quase três horas desde que Aurora desapareceu. Mapas de Milão cobrem as mesas, marcados com locais já verificados e possíveis esconderijos. — Cinco carros, seis homens em cada um — ordeno, conferindo minha arma enquanto Tiziano coordena pelo rádio. — Quero a cidade varrida quadra por quadra. — Já estão analisando as câmeras do trajeto dela — Tiziano informa, desligando o rádio. — E Antonio disse que a polícia vai “oficialmente” demorar a processar a cena. — Ótimo — respondo, seco. — Não posso ter policiais no caminho quando encontrarmos esses figli di puttana. Mal termino a frase e meu celular toca. Número desconhecido. — Pronto — atendo, sinalizando para Tiziano rastrear a ligação. — Buonasera, Lorenzo — a voz masculina responde calma, quase educada. — Imagino que esteja procurando por algo… ou melhor, por alguém. — Figlio di puttana — vocifero entre os dentes. — Quem é você? O q

Meu coração bate tão forte que, por um instante, tenho certeza de que eles vão me encontrar só pelo barulho.Respiro fundo, tentando controlar o pânico, enfio a arma entre os seios o mais fundo que consigo e pressiono o telefone contra a orelha.— Consegui localizar você — a voz de Lorenzo me traz um alívio imediato, mas frágil. — Estamos a dez minutos de distância. Ragazza, me escute: você precisa ficar escondida até lá, entendeu?— Entendi — sussurro, me encolhendo ainda mais atrás das caixas. — Eu estou com…As vozes chegam antes que eu termine a frase. Rápidas, nervosas, percorrendo o galpão.— Aurora? — Lorenzo percebe minha pausa. — O que está acontecendo?— Tem mais gente aqui — murmuro quase sem som. — Estou ouvindo passos lá fora.— Merda. Onde exatamente?— No fundo do galpão, atrás de umas caixas — respondo, tentando ficar invisível. — Lorenzo, se eles me acharem…— Não vão achar — ele corta, firme, autoritário. — Oito minutos, ragazza. Só mais oito minutos.As vozes se apr

“Aurora Bianchi”O cheiro de desinfetante e o bip constante dos monitores me trazem de volta à realidade.Abro os olhos e levo alguns segundos para reconhecer onde estou. Hospital. Quarto particular e flores em todos os cantos disponíveis.Pisco algumas vezes e, quando olho para o lado, encontro Emily sentada na poltrona ao meu lado, enquanto Pietro está encostado na janela mexendo no celular.— Finalmente! — Emily se levanta assim que me vê acordada. — Você nos deixou apavorados.— Emily? — minha voz sai rouca. — Como você soube?— Lorenzo nos avisou durante a madrugada. Estamos aqui desde então — responde, se aproximando. — Você sumiu e aparece num acidente de carro? Como isso…— Que horas são? — mudo de assunto rápido, evitando falar sobre isso.— Quase 13h — ela olha o relógio. — Você estava dormindo feito a Bela Adormecida. Achamos melhor não te acordar.Assinto, levando a mão ao curativo na testa. O médico avisou que, depois da pancada, seria normal dormir mais do que o comum.

“Aurora Bianchi” As últimas duas semanas de recuperação foram suficientes para me fazer sentir sufocada. Lorenzo, em modo de proteção máxima, mal me deixava levantar da cama sozinha, sair de casa, então, era completamente impensável. Por isso, quando ele disse que precisava vir para a Sicília, aceitei sem pensar duas vezes. Agora, sentada na varanda com vista para o mar, com Giovanna trazendo chá pela terceira vez em duas horas, começo a me perguntar se Milão não teria sido a melhor opção. — Como você está se sentindo hoje, tesoro? — ela pergunta, ajeitando a manta sobre meus ombros, apesar do sol quente. — Muito melhor, obrigada — respondo, tocando os pulsos que já estão quase cicatrizados. — Mas você não precisa se preocupar tanto comigo. — Bobagem — rebate, acomodando-se na cadeira ao lado. — Você passou por um trauma terrível. É natural precisar de cuidados. Trauma terrível. Uma boa definição para aquela noite. — Giovanna — digo, após alguns minutos em silêncio —, você sa