— Mas agora isso ficou um pouco mais complicado. Nosso plano era voltar e convencer Alfa Karim a mandá-la embora, fosse deliberadamente ou maltratando-a até que não suportasse mais. Agora, porém, ela carrega o herdeiro dele, e ele não pode expulsar sabendo que seu próprio sangue cresce no ventre dela. Você conhece a obsessão desses Alfas por um herdeiro.— Paciência. Erika, depois de tantos anos ao meu lado, ainda não absorveu minha astúcia. É preciso paciência. As coisas sempre se resolvem para quem espera, uma oportunidade surge. Quem disse que seria simples conquistar Alfa Karim e levar nossos desígnios adiante? A vida é intrincada demais, nada dela se oferece de mãos abertas. Por isso você será a heroína quando superar cada prova. Todos eles são apenas obstáculos.Minha mãe sorriu e entrelaçou meus dedos nos dela.As palavras dela deveriam confortar-me, afinal era minha mãe e elaborara cada passo. Nunca falhara comigo. Contudo, enquanto Laika continuasse a circular pelos terrenos d

MORPHEUSEla me fitou, atônita. Aqueles olhos pareciam sempre me repreender, e isso era, de certo modo, encantador. A confiança e a audácia que exalava poderiam ser fruto dos hormônios, mas até o ódio dela me divertia, atraindo‐me ainda mais.Seus olhos deslizaram da minha face para minha mão. Já havia me esquadrinhado inteiro e, em vez de irritar‐me, achei graça; ela era quase fofa. Algo me dizia que, apesar do pé esquerdo, poderíamos ter uma boa história juntos. Cresci como humano e pouco sabia sobre lobos, mas, aos dezoito anos, transformei‐me num enorme lobo cinza salpicado de negro — foi então que minha mãe revelou a origem que eu desconhecia. Desde esse dia, nunca mais me senti normal: passei a ter olfato aguçado e a conversar com meu eu interior como se dialogasse com outro homem.— O que você quer com o Bando Titã? — Ela me desafiou, arrancando‐me das lembranças.Além de linda, ela era inconfundível como loba: sentia‐se no cheiro, e aquela cascata de cabelo branco era única. De

ALFA KARIMObservei atentamente os traços do outro homem. Havia muito tempo não me deparava com alguém tão corpulento. Um vulto que parecia alargar o próprio ar ao redor. Eu, que ainda assim era mais alto do que ele, surpreendia-me com o fato de aquele forasteiro ser um híbrido. Tudo aquilo me provocou um desagrado profundo, e contive a cólera que fervilhava sob a pele. Antipatizava com a confiança que lampejava em seus olhos e, mesmo sem qualquer provocação, já o classificava como ameaça.— Relaxe, Karim! — Repreendeu Poder.Eu não pretendia tirar conclusões precipitadas nem agir por impulso, para não parecer que temia um desafio banal. Contudo, assim que o vi abraçando a Ômega, algo ascendeu no meu peito e ali se enroscou, exigindo que eu lutasse contra o impulso de esmigalhar-lhe cada dente.Sabia qual era o meu papel. Como líder do bando, cabia-me afirmar a dominância, e eu o fazia sem hesitar. Não me rebaixaria a atacá-lo por mera inveja, pois já superara esse estágio. Limitava-me

LAIKAEu já estava exausta de ver Morpheus rondar cada canto do Bando atrás de mim. Jago contara tudo o que fora decidido no conselho: Alfa Ehis deixara uma carta pedindo que o outro filho fosse acolhido assim que surgisse. Procurava corrigir um erro antigo e não desejava que o rapaz pagasse por isso.Morpheus, portanto, permaneceria no bando por algum tempo, adaptando-se às regras antes de ser plenamente integrado. Karim, embora enfurecido, nada podia fazer para afastá-lo. Mesmo ferido pela revelação que o pai escondera, continuava a respeitar o antigo Alfa. Ainda assim, sentia-se vulnerável diante da possibilidade de Morpheus reivindicar o posto que lhe custara tantos sacrifícios. Não imaginava, porém, que o recém-chegado pretendia reclamar outras coisas que julgava suas.Também me sentia insegura. Jago comentara que, sendo primogênito de Wolfe, Morpheus poderia pleitear a liderança, mas Karim sacrificara e arriscara demasiado para ser simplesmente descartado. Ele estava arrasado, e

ERIKANada saía como eu havia planejado. Carregava a impressão nítida de que algo dera errado em todo o esquema. Por que Karim decidira fazer Laika se apaixonar por ele? Ele deveria estar furioso e tratá-la como o lixo que era. Por que ainda a deixava vagar pelo Bando? Por que não a tinha acorrentado em qualquer canto?O desespero já me corroía; eu ansiava agarrar o poder com as duas mãos. Também queria que Laika morresse de uma vez. Não compreendia por que todos gravitavam em torno dela. Primeiro Karim, depois aquele frustrado Sekani, sempre pronto a defendê-la. Não entendia por que Khalid não o matara na hora em que ele atacou.Minha mãe dava sinais de cansaço diante daquela confusão. Por que me pediria calma justamente quando tudo se complicava? Surgira uma nova figura no Bando. Embora fosse uma distração considerável, sua presença era bem-vinda. Morpheus aparecera do nada e agora estava na linha de sucessão para a posição de Alfa, caso eu conseguisse eliminar Karim.Esse posto pare