LAIKAEu não conseguia repousar. Pensamentos demais se atropelavam na minha cabeça e eu sabia que precisava conversar com Karim. Podia fingir que não me sentia magoada, mas o nó no peito não me deixava esquecer. Quando, afinal, a minha vida se estabilizaria para sempre? Deveria ser o momento de desfrutar a paz ao lado do meu companheiro, contudo, lá estava eu, outra vez, lutando para permanecer perto dele. Karim já se enfurecera com as regras que instituíra — eu tinha certeza de que não se importaria se ainda se lembrasse de mim. Pensei em chamar uma vidente para descobrir o que ocorrera, porém temia a reação dele.Sobressaltei-me sobre a pele de animal ao ouvir um ruído do lado de fora. O Bando permanecia em silêncio, quase todos recolhidos às próprias tendas. A sombra dele tomou parte da lona antes que surgisse de súbito na abertura. Talvez pela postura sombria dos últimos dias, parecia ainda mais intimidante. Fitei os olhos verdes, outrora cheios de ternura e admiração, que agora me

LAIKAEu te odeio… Você é uma fraca Ômega… Não acredito nisso… Eu te odeio!Despertei de supetão no saco de dormir, ofegante. Sekani já se encontrava sentado a meu lado, fitando-me em silêncio. Soltei um suspiro demorado e percorri a tenda com o olhar, enquanto os primeiros raios da manhã infiltravam-se pela janela aberta e pintavam o tecido de dourado.— Está tudo bem? — Ele perguntou.Assenti sem emitir som. O aroma de café invadiu minhas narinas, e voltei o rosto para o interior da tenda. Sekani ergueu-se e desapareceu lá dentro, deixando-me a sós com os próprios pensamentos. Meu sono fora conturbado: sonhara com muitas pessoas, algumas que conhecera no passado, outras já mortas, e chorara, no sonho, por causa de Karim. Expulsei o aperto no peito com outro suspiro, levantei-me e enrolei o saco de dormir antes de aproximar-me da estreita abertura que servia de janela para espiar o exterior do bando.O dia surgira límpido, o sol ainda brando, e as pessoas já se ocupavam de suas tarefa

Jago engasgou com a bebida e tossiu. Observei-o com desagrado, percorri o salão com o olhar e encontrei Sra. Lena fitando-me num canto. Não resisti. Levantei-me e avancei com passos pesados em sua direção. Ela encolheu-se à medida que eu me aproximava.— Por que continua me encarando desse jeito? — Exigi, a voz áspera.— Meu Alfa, perdoe-me, mas nossa companheira…Ergui-lhe o queixo e encarei-lhe os olhos.— Ei, escute, ela não é minha companheira.A mulher assentiu freneticamente e fungou.— É Laika… ela… a criança…Jago levantou-se da cadeira e, em dois passos rápidos, postou-se ao meu lado.— O que disse?— A criança… a criança… ela sentiu dores esta manhã…— Onde ela está? — Inquiriu Jago.— Sekani a levou ao curandeiro no Bando do pai dele… Desculpe, não permitimos que ela trabalhasse… Não sei por que ela…Jago lançou-me um olhar como se eu tivesse enlouquecido.— Como não soube disso? Onde estava Laika quando aconteceu?Não consegui responder. A confusão me dominava. Eu não lhe p

— Me solte! — Gritei, esmurrando-lhe as costas, mas era como socar um tronco seco. Eu me esquecera da solidez do corpo dele.Noutro tempo e lugar, essa cena estaria pontuada pelas minhas risadinhas. Lembro-me de quando Karim costumava fazer isso nas ocasiões em que eu me mostrava teimosa. Ele me erguia assim, e nós dois gargalhávamos enquanto ele me carregava. Não era o caso agora. Desta vez, ele me arrastava de volta ao seu Bando por motivos que eu sequer compreendia.— Você não deve me desobedecer. Sou seu Alfa e o governante do Bando Titã. Sou eu quem dita o que acontece lá. — Declarou Karim, marchando em direção ao cavalo. — Jago, entre e recolha tudo o que for dela.— Você me expulsou da sua tenda ontem à noite, lembra? — Falei, quando ele me atirou sobre o dorso do animal.Ele lançou-me um olhar incandescente.— Foi porque você estava sendo teimosa. — Rosnou.Contornou o cavalo, montou atrás de mim e passou o braço à minha volta. Quis apenas me manter no lugar, mas o calor que de

Sorri.— Eu disse para não usar esse título. Ele já não significa nada.Nos afastamos um do outro.— Não consigo evitar. Você merece a honra.Trocávamos estocadas leves, as lâminas tilintando num jogo despreocupado, enquanto conversávamos.— Você não parece bem nesta manhã. Viu algo que a perturbou?— Tive um pesadelo terrível. Não sei como agir. Karim não está me ajudando em nada.— Chorou por causa do sonho?Desviei o olhar de Jago e ataquei de novo, porém ele foi rápido o bastante para bloquear a espada. Eu não chorara pelo pesadelo, e sim pelo que presenciara ao amanhecer. Os demais guerreiros já se agrupavam, observando-nos em silêncio.— Acho que sim. Na verdade, preciso da sua ajuda. Quero deixar este bando, encontrar um vidente ou um feiticeiro que possa romper o feitiço em Karim ou, ao menos, indicar-me onde ele está ancorado.— Receio que Alfa Karim ordenou que você não pode sair do bando. — Revelou Jago.Franzi as sobrancelhas.— Por quê?— Pelo menos até dar à luz. Ele teme