LAIKASegui Karim até as colinas e o encontrei contemplando os vales lá em baixo. Reduzi o passo e me aproximei devagar. Eu precisava deixá-lo claro que nada havia entre Morpheus e mim, ainda que nem devesse justificar-me. Afinal, ele mesmo dividia a cama com Erika. Dois erros, porém, não se transformam em acerto, e, se o ciúme lhe corroesse o peito, eu talvez encontrasse uma fenda na maldição. Não disputávamos quem machucaria mais o outro, embora Karim não hesitasse em ferir-me. Ele era o único enredado pelo feitiço, e eu precisava manter tudo em equilíbrio se quisesse tê-lo de volta.— O que você quer? — Perguntou ele, a voz grave e áspera.Limpei a garganta. Ao menos ele desejava saber por que eu estava ali. Eu, na verdade, contava que me expulsasse. Aproximando-me mais, permaneci ao seu lado. Ele não me lançou nem um olhar, mas notei o corte ainda aberto em seu peito. Já deveria ter cicatrizado.— Você não está se curando. Por quê? — Indaguei.Ele continuou sem me encarar, o olhar

ALFA KARIMEstar perto de Laika me deixava completamente insano; era como arrancar meu próprio coração do peito.Num instante eu fervia de ódio pelo que ela fizera, tentando roubar meu bando e virar meu povo contra mim. No momento seguinte, via-me consumido por ela, percebendo o quanto estava irremediavelmente apaixonado.O ciúme corroía minhas entranhas, e eu sentia que ela me roubara a glória ao matar MOLART. Às vezes me perguntava como conseguira tal façanha sendo apenas uma Ômega frágil, mas era inegável. Parte de mim reconhecia que ela salvara minha vida. Eu a admirava, eu a respeitava. Se o que diziam fosse verdade, ela fizera o que julgara melhor, mas isso ainda doía pra caramba.Culpava-a por ter trazido o mal chamado Khalid ao meu bando e não conseguia descartar o que Erika escrevera naquela carta. Era tudo possível. Talvez tivesse sido tramado por ela desde o início. Eu via essa hipótese com nitidez, mas que diabos era a coisa que latejava no meu peito?Marchava furioso até o

ERIKA— Existe uma rachadura no feitiço. É por isso que ele se comporta assim. — Disse a feiticeira cega.Suspirei.— Que rachadura? Por quê? Eu fiz tudo o que você me pediu.— Uma nova vida pode romper um feitiço.Olhei para ela, confusa. Eu não entendia do que ela estava falando.— O que você quer dizer? — Eu me perguntava se ela estava falando sobre o retorno de Morpheus ao bando.— Por que o seu Alfa não mandou a companheira dele embora? Ele deveria odiá-la tanto a ponto de não conseguir sequer olhá-la.— Ele disse que ela está grávida dele. Vai mantê-la até o nascimento do bebê.— Você disse que Laika está grávida dele. Essa é a rachadura no feitiço. É por isso que ele está confuso com os sentimentos que tem por ela. Ele sente atração por ela e, ao mesmo tempo, luta contra isso. Se isso continuar até ela dar à luz, o feitiço será quebrado.— O quê? Como posso impedir isso? Eu preciso conquistar o que fui buscar.A feiticeira se recostou.— A única forma de fazer isso é se livrando

MORPHEUSObservei Erika aproximar-se da minha tenda com passos hesitantes. Eu já percebera o interesse que nutria por mim. Embora Laika jamais tivesse comentado algo sobre ela ou sobre a mãe dela, os sussurros que circulavam bastavam para eu entender que Erika via Laika como rival. Não era exatamente ódio o que eu sentia por Erika, mas a afeição também me faltava.Meu plano consistia em persuadir Laika a abandonar este bando e partir comigo. Eu estava certo de que ela cometia um equívoco doloroso. Como ainda podia permanecer ao lado de um homem que lhe infligira tanto sofrimento, dentro do próprio bando que a maltratara? Haviam-na arrancado do lar quando ainda era jovem, transformando-a em escrava por metade da existência; depois, Karim surgira convencido de ser o grande herói.O que havia de errado com todas essas pessoas? Laika mal tivera tempo de explorar o mundo e, agora, estava presa a um homem que não a merecia.— Morpheus? — Chamou Erika do lado de fora.Finji não ouvir da prime

LAIKAEu não compreendia o que se desenrolava, mas a paciência já transbordava, e a indignação latejava em mim, difícil de conter. Por que Karim despejava acusações que jamais caberiam em mim? Arrisquei a própria vida por ele e por este bando, e o mínimo que esperava era a confiança dele, não uma crise de ciúmes. Tolerei tudo porque, então, ele não guardava lembrança de mim, mas agora... por que afirmava recordar-se e, mesmo assim, lançava tais inverdades?— Sempre foi o seu plano, e eu sei disso. Você se fez de vítima porque sabia que eu sucumbiria. Penetrou neste Bando, obrigou-me a maltratar o meu próprio povo em seu benefício e, no fim, quando o seu antigo companheiro atacou, matou-o para posar de heroína e tomou o controle do meu Bando. Você era a única que conhecia o meu segredo. Sabia que eu só morreria se me partissem a coluna. Contei-lhe isso, e foi assim que Khalid me venceu...— Chega! Apenas pare! — Gritei, erguendo a mão enquanto cerrava os olhos com força. As lágrimas que