Cada degrau que descíamos, fingíamos não perceber os olhares que nos seguiam. Era como se cada gesto fosse observado, medido, analisado. Para evitar o silêncio desconfortável, comecei a contar a Mikhail sobre minha tarde com Alek. Falar sobre o pequeno me trouxe uma sensação quase reconfortante, como se, por alguns minutos, eu pudesse esquecer onde estávamos. Ri baixinho ao lembrar de como ele me arrastou para brincar na neve, feito uma criança, e Mikhail também esboçou um sorriso contido.— Querida, quero lhe apresentar algumas pessoas. — disse ele, ao me conduzir com delicadeza até um casal que nos observava de longe.— Este é Sergei Orlov e esta, sua esposa, Lilia.Sergei me cumprimentou com educação. Sua expressão era cordial, mas havia algo em seu olhar que vasculhava mais do que via. Ele analisava cada detalhe entre mim e Mikhail — nossos gestos, a forma como ele mantinha a mão firme na minha cintura.Lilia, por outro lado, parecia feita de gelo. Seus olhos deslizaram sobre mim

Sophie Williams Volkova Três meses.Estou casada há exatamente três meses. A convivência tem sido… pacífica, no mínimo. Dormimos em quartos separados. Quase não conversamos. Ele está sempre ocupado — ou com o Alek, ou afundado no trabalho.E eu… voltei a fotografar para revistas.Tenho um ensaio amanhã à tarde. De lingerie.E é por isso que estou aqui, na Vk Enterprises, decidida a conversar com meu adorável marido antes que isso vire um problema maior do que precisa ser.Caminho até a recepção. Sinto os olhares sobre mim — alguns curiosos, outros julgadores. Há também os inevitáveis invejosos. Ignoro todos eles.— Bom dia. Tudo bem? Gostaria de falar com o senhor Mikhail Volkov. — digo, com a voz firme e o olhar direto.A recepcionista me encara como se eu tivesse dito a coisa mais absurda do mundo. Seu sorriso é debochado, quase provocativo, como se minha presença ali fosse apenas entretenimento para ela.— Bom dia. A senhorita tem horário marcado? — pergunta, com falsa cordialidad

Sophie Williams Volkova Ontem, ao sair da empresa, avisei minha assessora que estava tudo certo para o ensaio fotográfico e pedi que ela me enviasse o endereço. Agora, quase seis da tarde, estou finalizando as últimas poses diante das câmeras. As lingeries da nova coleção são absolutamente deslumbrantes — dizer que são perfeitas chega a ser um elogio modesto diante da sofisticação e sensualidade que cada peça transmite. A que estou usando agora é vermelha, com cinta-liga presa às coxas. O tecido envolve meu corpo como se tivesse sido feito sob medida, realçando cada curva com provocação sutil. — Agora vire de costas e me dá aquele olhar sério por cima do ombro — instrui o fotógrafo com empolgação. Faço o que ele pede, concentrando minha expressão, até ouvir o que já esperava há horas: — É isso, gente. Temos tudo! Ficaram perfeitas! Solto um suspiro aliviado, agradeço à equipe e puxo o robe pendurado ao lado, cobrindo rapidamente o corpo antes de seguir até o banheiro para me

Sophie Williams Volkova Era meu aniversário de sete anos. A casa estava silenciosa — grande demais para mim, vazia demais para o que aquele dia deveria significar. Não havia balões, nem bolo, nem um “parabéns” sequer. Nenhum sinal dos meus pais. Apenas o som dos meus próprios passos ecoando pelos corredores. Cheguei da escola com uma esperança boba no peito. Talvez este ano fosse diferente. Talvez mamãe tivesse mandado fazer um bolo de morango. Talvez papai tivesse me comprado um daqueles cadernos de desenho que eu vira na vitrine da papelaria. Mas não. Era só mais um dia comum. Mais um dia de invisibilidade. O silêncio tomava conta da casa, tão grande e fria quanto nos anos anteriores. Subi as escadas devagar, sentindo o peso do vazio me esmagar. Quando estava prestes a me trancar no quarto, ouvi passos leves atrás de mim. Virei. Era Jhon, o mordomo, parado à beira da sala de estar com um olhar cuidadoso. — Senhorita Sophie... o almoço está servido — disse, com a voz g

Mikhail VolkovHoje, quando acordei, ela estava nos meus braços.Como das outras vezes. Como se aquele corpo tivesse sido moldado para encaixar no meu. Os cabelos dourados espalhados pelo travesseiro, uma mecha em cima do meu peito. A respiração dela ainda calma, quase inocente — como se tudo entre nós fosse puro, quando estávamos longe do caos.O cheiro dela, doce e quente, ainda estava impregnado na minha pele. Um perfume que grudava na alma, não só no corpo. Aquela mulher era uma maldição bem vestida. Uma tentação feita sob medida. Ela vai ser a minha ruína. Já está sendo.Mas nem tudo era paz naquele quarto. O ataque da noite anterior ainda pairava sobre nós como uma sombra espessa, densa demais para ignorar, a dor de cada homem perdido martelava nos meus ouvidos. Reforcei a segurança da mansão, dobrei as patrulhas, aumentei o número de armas nos perímetros. Os homens que sobraram estavam em alerta máximo, como cães prestes a atacar. O clima era de guerra silenciosa — e nós está