As portas pesadas do refúgio dos híbridos se abriram lentamente, rangendo como se carregassem o peso de séculos. O grupo atravessou a entrada em silêncio, exausto pela fuga, pelas lutas e pelas perdas. O ar do lugar era diferente: impregnado de magia antiga, mas acolhedor, com o cheiro da terra úmida e das árvores que cercavam a fortaleza subterrânea.Annabelle segurava a respiração. Cada passo parecia levá-la para mais perto de uma lembrança esquecida, de uma esperança que quase perdera. Ao seu lado, Andreas caminhava firme, mas seu olhar duro se suavizava diante da esposa e dos filhos. Os gêmeos, Bernardo e Benjamin, ainda debilitados, seguiam amparados por Nick e Afonso, mas já não pareciam tão frágeis. Havia uma centelha diferente em seus olhos.Eva, a bruxa, caminhava mais atrás, com Azaleia apoiada em seu braço. A jovem mal conseguia se manter de pé, o corpo frágil marcado por correntes, feridas e semanas de cativeiro. Mas dentro dela havia um fogo que nem mesmo a escuridão de M

A noite caiu pesada sobre o refúgio. O silêncio que se espalhava depois dos treinos, das estratégias e das conversas tensas sobre o futuro, parecia mais ameaçador do que qualquer batalha. O vento frio penetrava pelas frestas, trazendo o cheiro distante da floresta e lembrando a todos que Magnus ainda estava lá fora, reunindo forças, aguardando o momento de atacar.Annabelle não conseguia dormir.Deitada ao lado de Andreas, observava o teto de pedra iluminado pela chama vacilante das tochas. Seu corpo estava cansado, mas sua mente ardia em preocupação: os filhos, a irmã desaparecida, a guerra iminente. Tudo parecia pesar sobre seus ombros.Andreas percebeu sua inquietação. Ele sempre percebia. Rolou para o lado e a puxou suavemente contra o peito, envolvendo-a com o calor do seu corpo.— Não consegue descansar? — perguntou em um sussurro grave, que arrepiou a pele dela.— Não... — ela murmurou, quase sem voz. — Parece que minha mente não para. Vejo Magnus em cada sombra, ouço os gritos

O sol começava a se erguer atrás das montanhas, dourando os picos nevados e trazendo um brilho suave para o vale onde o refúgio dos híbridos se escondia. O ar frio da manhã carregava o cheiro de terra molhada e fumaça das fogueiras que nunca se apagavam, sinal de que aquele lugar não era apenas abrigo, mas também quartel.Os guerreiros já estavam de pé, empunhando espadas, lanças e armas improvisadas, treinando em duelos que faziam ecoar o som metálico pelas paredes de pedra. O bater dos pés contra o solo era cadenciado, como um tambor de guerra antecipando a batalha que se aproximava.Annabelle observava de longe, o coração dividido entre orgulho e temor. Seus filhos, Bernardo e Benjamin, de apenas onze anos, já estavam entre os guerreiros. Os gêmeos, agora completamente recuperados, mostravam-se incansáveis, cada dia mais fortes, cada golpe mais certeiro. Seus poderes, antes adormecidos, brilhavam como labaredas vivas, e até os mais velhos paravam para observá-los com respeito.— El

O Refúgio dos Híbridos já não era mais o mesmo de algumas semanas atrás. O que antes fora apenas um abrigo silencioso, escondido entre montanhas e rios, agora era o coração pulsante do sobrenatural. Lobos de várias alcateias, bruxas, metamorfos e híbridos de diferentes origens conviviam juntos, treinando, se organizando, tentando sobreviver.Annabelle observava de longe cada novo grupo que chegava. Havia dor em seus olhos, mas também esperança. Cada criatura que passava pelos portões era uma vida salva das garras de Maginos, e um guerreiro a mais para a resistência.Naquela manhã, enquanto o sol ainda se escondia atrás das montanhas e a névoa cobria o vale, sons diferentes ecoaram. Não eram passos de lobos, nem o som leve de bruxas viajantes. Eram pisadas pesadas, firmes, acompanhadas por rugidos baixos e cadenciados.— Eles estão vindo... — murmurou Eva, a bruxa ancestral, seus olhos brilhando com reconhecimento.Os guardiões do Refúgio abriram os portões, e então eles apareceram: um

Annabelle sentava-se sozinha sobre a muralha do Refúgio, a lua cheia alta no céu iluminando seus olhos marejados. O vento frio cortava sua pele, mas dentro dela o fogo ardia, misto de coragem e saudade. Era difícil acreditar em tudo que tinha vivido até ali.Ela fechou os olhos e respirou fundo, deixando a memória correr como um rio.No início, era apenas uma jovem humana. Uma vida simples, sem saber da existência real de lobos, bruxas e criaturas que viviam nas sombras. Seu destino parecia já traçado: sobreviver como qualquer mortal, buscando apenas um lugar no mundo. Mas a lua, caprichosa e eterna, havia lhe reservado algo muito maior.Annabelle recordava-se do primeiro contato com Andreas. Aquele homem enigmático, forte, dono de uma presença que parecia atravessar o tempo. No começo, havia medo, desconfiança. Ele não era apenas um homem: era o Rei Alpha, um ser que carregava séculos de lutas e fúria. Mas pouco a pouco, no meio das batalhas, das perdas e dos segredos revelados, ela