Capítulo 2

João Paulo

Viver na maior capital do país é uma maravilha.

Muitas mulheres, agitação, oportunidades e abundância. No entanto, tudo tem seu preço. São Paulo dá oportunidades a alguns, tira de outros, e ainda tem os que não se esforçam para fazer sua vida acontecer.

Com tanta movimentação na maior cidade do país, o tráfego de automóveis continua em sua frequência lenta e passiva. Hoje, de acordo com as estimativas que o radialista faz questão de noticiar a cada quinze minutos através do sistema de som do carro, o engarrafamento chegará a dez quilômetros. Não deveria me importar se fosse um dia qualquer, todavia, é impossível não ficar entediado quando se tem uma reunião importante e o trânsito não ajuda em nada.

Através do vidro do automóvel, observo a massa em sua rotina diária. Homens e mulheres correndo para seus possíveis trabalhos, outros apenas observando os artistas de rua que também estão trabalhando.

Tudo se resume a trabalho. Quando as pessoas vão perceber que morrem e o trabalho fica?

Hipocrisia da minha parte, já que agora mesmo estou indo para a Sede da Arrais Motors me apresentar pessoalmente como advogado da empresa.

Henrique, meu amigo desde a faculdade, indicou essa vaga para mim. Ele está à frente da Arrais há algum tempo, entretanto, não é o todo-poderoso de lá. Segundo minhas pesquisas, e pelo pouco que ele me contou, sua irmã que é a CEO do império automobilístico. Apesar de tudo, como eu já presumi, a mesma não gosta de estar frequentemente no escritório, deixando esse papel para o sortudo do Henrique. Pelo que entendi, poucas pessoas sabem que ela é a “mandachuva”, e isso me levou a desconfiar que ela não tem capacidade de m****r naquilo tudo, porque a pessoa para com****r uma empresa na estirpe da Arrais, tem que ter pulso firme. Outro ponto negativo e que eu suponho ser positivo é que se ela for igual ao Henrique e o senhor Alfredo, pai dela, provavelmente esbanja a fortuna com coisas fúteis. Entretanto, eu ainda aposto na minha primeira opção, a que ela deve ser mesmo uma incompetente.

Meu celular vibra no bolso interno do terno. Creio que seja minha mãe, que não se conforma com minha decisão de não trabalhar mais com meu pai e seu sócio.

Há algum tempo resolvi me desvincular do escritório de advocacia do meu pai para trabalhar por conta própria, mas só agora dei voz a razão e fiz o que minha vontade pediu. Embora eu já tenha uma carreira consolidada, o convite do meu amigo para trabalhar na empresa de sua família veio bem a calhar. Sem contar que incluir uma empresa como Arrais Motors no meu portfólio de clientes, e ainda ter a oportunidade única de trabalhar no administrativo, é a satisfação de todo advogado.

— O senhor está bem, J.P? — Marcos pergunta de cenho franzido.

— Sim, tudo certo, só um pouco irritado com esse fluxo lento.

— Entendo, senhor, mas logo chegaremos. Pode ficar tranquilo.

— Tudo bem, Marcos! Não é sua culpa mesmo.

Marcos é um ótimo funcionário, trabalha há anos na família. Atua também como meu segurança de vez em quando. Fico me perguntando onde ele acha tanto tempo e disposição para esse trabalho, pois, dentro de sua postura competente, Marcos está sempre disponível para o que lhe for solicitado.

Mais uma vez paramos em um semáforo. Olho o relógio e vejo que ainda temos tempo. Minha reunião está marcada para às onze da manhã. Saí um pouco antes do horário a fim de chegar a tempo.

Odeio atrasos. Se for de minha parte, pior ainda.

O barulho de um motor me desperta para o mundo a minha volta.

— Mas o que diabos é isso? — pergunto, esquentado.

Viro o corpo para trás tentando identificar o ponto de onde está vindo toda aquela barulheira. Pouco consigo ver quem está no comando daquele treco de som estridente.

Como se já não bastasse o barulho infernal dos carros, o motociclista acelera mais um pouco em protesto à lentidão a nossa frente.

Olho de relance pelo retrovisor da frente e admiro o exato momento em que ele encosta ao lado direito do carro enquanto equilibra a moto quase parada. Tiro à vista, mas sou compelido a dar uma segunda olhada quando o motociclista se emparelha com minha janela, me obrigo a abaixar o vidro e viajar mais um pouco naquelas curvas perigosas.

Suas formas femininas me deixam de boca aberta.

As coxas grossas e torneadas, destacam-se em um jeans surrado mostrando o cós da calcinha vermelha. Como se aquela mulher precisasse me deixar mais hipnotizado, ela inclina-se levemente sobre a moto, empina o bumbum arredondado ao ver pelo retrovisor que não desgrudo os olhos dela.

O movimento me faz imaginar as sacanagens mais imorais possíveis.

A mulher eleva a viseira do capacete, pisca para mim, logo em seguida acelera mais indicando que está prestes a seguir seu destino entre o mar de automóveis.

Em um piscar de olhos, menos de um segundo posso afirmar, ela sai em disparada no meio do tráfego assim que houve uma abertura entre os carros.

Forço-me a sair do entorpecimento causado pela motociclista gostosa e percebo que não posso perdê-la de vista.

Maldito engarrafamento!

— Siga aquela moto, Marcos! — mando de modo autoritário. Algo que ele já está acostumado, principalmente por receber os gritos de minha mãe.

A vergonha se faz presente quando percebo que isso não é motivo que justifique minha falta de educação.

— Faça o seu melhor em não a perder de vista.

— Sinto muito, senhor, mas é impossível nesse trânsito — explica, sem graça.

— Não a perca de vista — rebato de forma brusca.

Depois de alguns minutos tentando não a perder no meio de tantos carros, vejo que é loucura ir atrás de uma desconhecida que me fez ficar excitado só em empinar a bunda.

Arrumo meu pau semiereto dentro da calça, frustrado.

Bem que eu gostaria de encontrá-la, jogar um charminho — esse que faz qualquer mulher ficar de pernas bambas —, e depois me aventurar naquele corpo que, absolutamente, me deixou aceso só em admirá-lo.

Gostaria de fazer tudo isso, de preferência, em cima da sua moto.

Mas, infelizmente, o dever me chama. Toco o ombro do motorista.

— Vamos para a Arrais.

— Tem certeza, senhor?

Apenas assinto de leve.

Felizmente e como em um passe de mágica, o tráfego melhorou significativamente.

Continuo disperso, a visão daquele corpo curvilíneo não sai da minha cabeça.

— Tenho que encontrá-la

Após percorrer alguns quilômetros, Marcos estaciona o carro em frente ao prédio lustroso. Saio do interior frio do carro depois de abotoar o terno e arrumar a gravata pela milésima vez.

O prédio da Arrais não é muito grande, porém, é bem localizado, próximo à Avenida Paulista. Seu design é moderno, com vidraças escuras e brilhantes além de ter uma bela composição em aço. O hall de entrada possui algumas colunas escuras que combinam com o chão de granito preto reluzente.

Chego à recepção e sou recebido por uma morena que exibe um sorriso exageradamente branco. Seus olhos verdes brilham ao medir meu corpo de cima a baixo.

— Pois não?! O senhor deseja algo?

Tenho a leve impressão de que esse “deseja algo” veio com segundas intenções.

— Sim, tenho horário marcado com Henrique Arrais. — Olho o relógio de época que há na recepção. — E ele já me espera — comunico e sigo rumo ao elevador.

Seu sorriso maroto se esvai deixando uma expressão de desapontamento aparente.

Gosto de mulheres, amo mulheres. Elas são gostosas e esquentam sua cama no inverno ou verão, mas há uma coisa: gosto de ir à caça, ter o prazer de conquistar e desfrutar de todo seu corpo. Não ao contrário.

Antes de chegar ao elevador, noto uma cena muito interessante. Uma mulher muito atraente anda de braços dados com um senhor muito mais velho que ela.

Pelas vestes de ambos, são funcionários da empresa.

A interação deles é incomum. Dividem uma conversa entre risos e gargalhadas que me deixa curioso para saber do que se trata.

— Segura o elevador, por favor! — Ela grita para ninguém especial, mas eu faço o serviço já que fui o último que entrou.

Mesmo de longe, noto que sua voz possui um tom um pouco áspero, mas sedutor.

— Até logo Seu Valdir! Foi um prazer rever o senhor. — Ela se despede do senhor que a beija no rosto seguido de um abraço.

— Até mais, menina. Se cuida — o senhor responde e se retira com uma vassoura em punho.

A mulher entra no elevador expondo um sorriso lindo.

Embora sua aparência seja madura, ela possui um ar de menina sapeca.

— Bom dia! — cumprimenta a todos que a respondem chamando de Doti.

Doti? Será de quê?

Observo suas roupas e vejo que estão em péssimo estado. O macacão azul-marinho com a logo da empresa em um dos bolsos da lateral, têm algumas manchas de óleo queimado além de estar um pouco desgastado pela ação do tempo. Ainda assim, por mais que esteja com uma situação ruim, ele não é capaz de esconder a perfeição que é o corpo dessa linda mulher: curvas nos lugares certos, seios fartos, quadril largo e bunda empinada.

Absolutamente uma Deusa em meio aos mortais.

Ela me olha por cima do ombro e vejo que ela tem graxa até mesmo na ponta do nariz bem-feito.

Respiro fundo tentando distinguir seu perfume que mesmo com o odor de óleo queimado, foi capaz de sobressair ao leve toque cítrico de seu cheiro, misturado com alguma fragrância frutada.

Olho ao redor e nenhum dos engravatados que dividem o elevador conosco, estão incomodados por sua presença. Não que nenhuma pessoa tenha alguma coisa a ver, mas ainda assim, ela pode estar indo ao lugar errado. Provavelmente, entrou nesse elevador por engano.

Não me contenho e vou falar com ela.

A toco no ombro.

— Moça, me desculpe, mas você não está no elevador errado? — Ela arqueia a sobrancelha acobreada expondo um sorrisinho petulante.

Sua beleza é estonteante ao mesmo tempo, que seu olhar dourado tem um brilho travesso.

— E por que acha isso? — interroga de forma aborrecida.

Isso vai ser divertido.

Levo o dedo na boca para esconder o riso enquanto a avalio de cima a baixo.

— Para mim, está claro que você deveria estar no elevador de serviços — esclareço o óbvio, arrogante, pedindo a Deus que ela me conteste com essa mesma carranca.

Sem se agitar fisicamente, ela veste uma postura presunçosa e me enfrenta.

— Me diga senhor...

— João Paulo Dantas — respondo.

— Que seja! Me diga: o que o senhor é? O que faz na empresa?

— Sou advogado. — Por um breve momento, ela parece confusa e, percebo isso pela forma delicada que ela move a cabeça para a direita e franze as sobrancelhas.

— Então, João Paulo Dantas, você é advogado dessa empresa, deste modo, não passa de um funcionário, assim como eu. — Emudeço, abobado com sua coragem e envergonhado por não pensar por esse ângulo antes. Para completar a martelada, ela continua: — dividiremos o mesmo elevador ou o senhor pode ir pelas escadas, ou pelo elevador de serviços. A escolha é sua.

Dito isto, o elevador já está parado com as portas abertas, e apenas nós dois continuamos nele.

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