Mundo ficciónIniciar sesiónEnquanto Angeline seguia com seu noivo de volta para Verona.
Em Milão... O silêncio dentro do Lincoln era quase palpável, Dante desviou o olhar para a estrada, os dedos tamborilando no joelho em um ritmo impaciente. O motorista fingia não notar, mas o ar dentro do carro estava pesado, carregado de algo que nem o silêncio conseguia disfarçar. Dante fechou os olhos, exausto. Precisava recuperar sua arma... e aquela garota insolente lhe devia isso. Mas, no instante em que o silêncio o envolveu, a lembrança voltou nítida: O rosto dela, a pele quente sob seus dedos. Os olhos verdes, assustados, mas cheios de desafio. O toque involuntário. Os lábios úmidos, surpreendentemente doces. O corpo firme, delicado, reagindo ao seu com um misto de irritação e tensão. Ele inspirou fundo, como se ainda pudesse sentir o cheiro dela preso à gola de sua camisa. Um sorriso discreto, quase imperceptível, escapou-lhe ao lembrar da expressão indignada dela quando ele a elogiou pelo gemido que soltara. Oton percebeu o sorriso, mas continuou olhando para a estrada. Como sempre, sabia quando não deveria fazer perguntas. Na mansão, com fachada de pedras rústicas, a porta grande de madeira maciça foi aberta, tudo exalava solidez e isolamento. Com um suspiro cansado, Dante desceu do carro e entrou, indo direto à adega. Pegou uma garrafa de vinho e subiu para o quarto. — Posso servir o jantar? Oton perguntou, vendo-o subir as escadas. — Não. Vá descansar. Respondeu sem olhar para trás. Na estrada para Verona, Angeline fechou os olhos, frustrada. A dor no tornozelo latejava, mas ela não disse nada. Encostou a cabeça no banco e permaneceu em silêncio. Marco a observava de soslaio, entre o desejo e o ódio, o controle e o impulso. Quando chegaram à cidade, as luzes invadiram o interior do carro. Ela abriu os olhos, cansada, a expressão firme. — Me leve para minha casa. Disse apenas. — Vamos conversar, eu posso te explicar... — Você não me deve explicação. Respondeu com a voz fraca, mas decidida. Estava cansada de tudo e todos. Aquela situação já se arrastava havia mais de sete anos. Era apenas uma garota quando Marco começou a persegui-la. No início, achou que era apenas amor demais, mas era mais que isso era controle, se conheceram ainda no colégio, ele se formou, e ela ficou. Desde então, ele mantinha um homem a vigiando, afastando qualquer um que tentasse se aproximar. Dizia ser para a segurança dela. Marco era o solteiro mais cobiçado de Verona, bonito, rico, popular. E, para ela, no entando, agora, uma prisão. Seu pai soube do interesse dele e fez de tudo para criar oportunidades para que se encontrassem. Já mantinha alguns negócios com a família Mancini, mas queria mais: queria entrar no círculo restrito das famílias da máfia. Marco vendo-a calada, suspirou, cansado, mas a conhecendo bem, sabia que era melhor dar tempo a ela, a raiva passaria e logo cederia a ele. Quando o carro parou diante da mansão dos Conti, Angeline abriu a porta, mas ao colocar o pé no chão vacilou, caindo novamente sentada no banco. Marco abriu a porta rapidamente e correu até ela. A cena foi assistida por Margaret que os espreitava pela janela de seu quarto, no segundo andar, ansiosa para ver Marco arrastar Angeline, mas o que viu, de longe, parecia uma cena... romântica. Rubens, pai de Angeline, também os aguardava. No carro, Marco se abaixou diante dela. — O que houve? Perguntou, ao notar gotas de suor em sua testa e o rosto contorcido pela dor. — Não é nada, apenas torci o pé. Respondeu Angeline. — Me deixe ver. Ele suavizou a voz. — Isso é culpa sua, precisava sair daquele jeito? — Não precisa... ai! Ela reclamou quando ele tocou o tornozelo, já inchado. Sem dizer mais nada, ele a ergueu nos braços e entrou na mansão. Caminhava com elegância; a camisa e a calça pretas realçaram seu corpo, também contrastavam com os cabelos loiros e os olhos claros. — Marco, nos desculpe... Angeline é muito impulsiva, Rubens tentou se justificar, aflito. Marco, porém, não lhe deu ouvidos. Subiu as escadas sem responder. Margaret, no corredor, manteve o rosto franzido, como se tivesse chupado limão, ao vê-lo subir com Angeline nos braços. Marco colocou Angeline em uma poltrona e se ajoelhou à frente dela. Segurou o pé machucado com cuidado, enquanto ela, desconfiada, segurava a barra do vestido. Verônica e Rubens apareceram na porta do quarto. Verônica era a segunda mulher do pai de Angeline. — Angeline, você devia agradecer a paciência que Marco tem com você. Disse ela, cuspindo as palavras com uma fingida preocupação. — Vá buscar um saco de gelo, ela torceu o pé. Marco pediu, sem desviar o olhar de Angeline. O casal se afastou, deixando-os a sós. — Olhe para mim, Angel. Disse ele em voz baixa, quase carinhosa. — Pare de me chamar de Angel. A resposta saiu seca. Ela mantinha o olhar firme na janela. — O que aconteceu lá não é o que parece. Margaret... Ele começou, mas se interrompeu quando Rubens voltou trazendo o gelo. — Veja como Marco é atencioso com você, apesar de toda a confusão que causa. Disse o pai, forçando um sorriso que não alcançava os olhos. Angeline suspirou, exausta. — Estou cansada. Vocês podem me deixar? Pediu, sem paciência, para o teatro do pai nem para a presença de Marco. Marco a colocou na cama com cuidado, quase sem tocar. Angeline se deitou, virada de costas para a porta, mas podia sentir o olhar dele sobre si. Um silêncio carregado pairava entre eles, pesado e íntimo ao mesmo tempo. Ele suspirou, controlando a frustração, e se virou para sair do quarto. Rubens tentou se desculpar na escada. — Marco, eu... Ele nem prestou atenção. Seguiu descendo, cada passo firme e medido, como se o mundo inteiro estivesse ali apenas para ser atravessado por ele. Ao chegar à sala, Margaret parada, envolta em um robe vermelho de cetim, um ombro exposto de forma proposital. Um convite silencioso, quase provocativo. Marco a observou por um instante, mas não cedeu. Ignorou-a completamente, deixando a família para trás, o olhar já voltado à imagem que carregava na mente: Angeline, sozinha, exasperada, mas firme. O silêncio da casa parecia respirar com ele, ecoando a determinação e o desejo contido, e nada mais importava naquele instante. Sozinha no quarto, Angeline suspirou, deixando o corpo afundar na cama. Por um instante sentiu o perfume do estranho do trem. O cheiro ainda impregnava suas mãos. Levantou-as até o rosto e inalou profundamente, permitindo que a memória do que acontecera no trem inundasse sua mente. O calor subiu ao peito, forte e inesperado, misturando ansiedade, desejo e um estranho prazer. Por um instante, fechou os olhos, perdida naquela lembrança, sorriu.






