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A noite do leilão ( Sofia)

A manhã seguinte foi um borrão de branco e cinza, a cor do hospital público onde minha irmã, Mávie, lutava por cada respiração. O médico, um homem loiro que me lembro agora se chamar David, foi direto e cruel.

__“Estável, por enquanto”, disse ele, a voz seca como areia no deserto. “Mas o coração dela… já não consegue bombear o sangue como deveria. Aqui, no hospital público, não podemos fazer nada. A fila de transplantes é enorme, e infelizmente não podemos dar prioridade…”

A frase ficou suspensa no ar, um abismo negro se abrindo entre nós.

__“O que o senhor quer dizer?”, perguntei, a voz um fio de seda prestes a se romper. “Que minha irmã vai morrer?”

O médico hesitou, o peso da verdade em seus olhos azuis.

__ “Infelizmente, Sofia, se você não a transferir para um hospital particular e conseguir um coração novo… sim.”

As lágrimas vieram em um dilúvio, um choro convulso que me dobrou ao meio. David, esse anjo em forma de médico loiro, me envolveu em um abraço que eu precisava desesperadamente. O cheiro de álcool em gel e de algo indefinidamente medicinal me confortou naquele momento de desespero.

__“Vou conseguir o dinheiro”, murmurei, a voz firme apesar do tremor em minhas mãos. “Vou transferir minha irmã.”

Saí correndo, a promessa ecoando nos meus ouvidos. A padaria, meu refúgio, meu trabalho, me esperava. Kim, minha amiga, estava lá, atendendo clientes com seu sorriso habitual. Mas eu não conseguia fingir. Meus olhos estavam inchados, vermelhos, emoldurados por olheiras profundas de uma noite sem sono.

“__Oi…”, murmurei, a voz rouca.

__“Nossa, Sofia, você está horrível”, disse Kim, sua preocupação evidente.

__“Minha irmã piorou. Ela está internada.”

__“Sinto muito, Sofia…”

A palavra “sinto muito” soava vazia, insignificante diante da imensidão do meu desespero. Uma ideia, terrível e desesperada, tomou conta de mim.

__ “Eu aceito… vender minha virgindade. Como faço isso?”

A mão de Kim sobre minha boca me interrompeu.

__“Você é maluca, Sofia! Não pode falar sobre isso aqui! Depois do serviço, eu te levo lá…”

O resto do dia foi um borrão. Trabalhei em piloto automático, almocei rápido e voltei para a padaria, a angústia me corroendo por dentro. No fim do expediente, o ônibus nos levou para um lugar que eu nunca imaginaria pisar: um galpão subterrâneo, obscuro e intimidante, com seguranças na porta.

__“Então, o que vocês querem aqui, meninas?”, um deles perguntou, a voz áspera e suspeita.

__“Precisamos falar com Madame Bouvary”, respondeu Kim, sua voz firme apesar do medo.

__“Tem hora marcada?”

_“Não, mas ela vai querer nos ver. É uma proposta de negócio.”

A ligação para Bouvary foi rápida e incisiva. __“Qual tipo de negócio?”, ela perguntou.

__“Virgindade”, respondeu Kim.

A porta se abriu. Entramos naquele submundo, arrastando os pés, até um pequeno escritório onde Madame Bouvary nos esperava. Uma mulher de meia-idade, francesa, com trajes exóticos e maquiagem escura, ela nos encarou com um olhar calculista.

__“Então, mocinhas, o que vocês querem?”

__“Minha amiga quer leiloar a virgindade dela”, disse Kim.

A risada de Bouvary preencheu a sala.

__“Mas ora, pensei que virgens estivessem em extinção! Já faz tempo que não faço um bom leilão. Mas tem certeza que ela é virgem mesmo? Não quero me indispor com meus clientes.”

__“É sim…”, respondi, a voz quase inaudível.

__“Farei um pequeno exame”, disse Bouvary. “Se for verdade, fecharemos negócio.”

Ela pegou meu número, me deu uma carta de recomendação para uma ginecologista e nos despedimos. O exame foi constrangedor, a ginecologista tentando me distrair enquanto eu me sentia exposta e vulnerável. A liberação veio em forma de um telefonema de Bouvary:

__“Esteja aqui amanhã às 18:00 para o leilão.”

Entrei em casa, o silêncio da noite me envolvendo como um manto pesado. Tranquila por conseguir o dinheiro, desolada por estar vendendo minha dignidade. Minha irmã estava morrendo, e eu estava disposta a tudo para salvá-la.

A noite foi tensa. Caminhei de um lado para o outro, o sono não vinha. Preparei um chá e me sentei no sofá velho, impregnado com o cheiro de suor do meu pai e álcool. Ele, como sempre, não estava em casa. Estava nos botecos, enchendo a cara. Nunca se importou com nada: não com as ameaças à sua vida, muito menos com sua filha, internada em um hospital.

Em momentos como aquele, eu o odiava. Perdi minha vida arcando com responsabilidades que não eram minhas. Minha mãe morreu quando mavie tinha apenas três anos, e eu me virei sozinha para cuidar dela enquanto nosso pai passava as noites fora. Fiz o possível por ela. Mavie cresceu bem, mas no seu oitavo aniversário passou mal. Descobrimos um problema cardíaco. No início, os tratamentos funcionaram, depois pararam...

Suspirei fundo. Precisava me sacrificar por ela. Mavie era uma criança, merecia viver. E se para isso eu precisava me sacrificar, eu o faria.

Era uma da manhã quando ouvi vozes. Meu pai estava chegando, carregado nos braços por alguns amigos. Ele tinha escoriações por todo o corpo.

__“O que houve?”, perguntei preocupada.

__“Encontramos ele jogado na esquina. Ao que tudo indica, seu pai foi espancado e jogado lá...”

Respirei fundo e pedi que eles o deitassem no sofá. Logo depois, eles partiram. Peguei a caixa de primeiros socorros e comecei a fazer curativos. Foi aí que vi, riscado a faca em seu peito, a ameaça:

___“Nos pague o que deve e fique vivo...”

Estremeci. Era mais um dos inúmeros recados da máfia, um lembrete de que não havia outra saída.

A noite me roubou o sono, e o dia seguinte me encontrou exausta. Um banho rápido e eu estava no trabalho, mas minha mente vagava, aérea e dispersa. Felizmente, Kim percebeu meu estado e não fez perguntas. Agradeci em silêncio a sua compreensão. Pedi à minha chefe para sair uma hora mais cedo.

Em casa, um banho gelado tentou me despertar, me limpar daquela névoa mental. Me arrumei, nervosa, e peguei um táxi. O galpão noturno se destacava na escuridão, ao entrar naquele lugar, senti um nó na garganta. Hoje, minha virgindade seria leiloada.

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